Academia Chinesa de Ciências Sociais premiou o trabalho realizado por professor do Museu de Arqueologia e Etnologia da USP
Escavação de depa³sitos antra³picos de solo escuro
(Terra Negra Antra³pica) no satio de Hatahara, Amaza´nia Central, em 2006
Foto: Cedida pelo pesquisador
Em 2019, a arqueologia brasileira foi mais uma vez reconhecida internacionalmente. Entre os dias 14 e 17 de dezembro, o 4th Shanghai Archeology Forum (SAF), organizado pela Academia Chinesa de Ciências Sociais, premiou o trabalho realizado pelo professor Eduardo Ga³es Neves, do Laborata³rio de Arqueologia dos Tra³picos do Museu de Arqueologia e Etnologia (MAE) da USP.
Desde os anos 1990, o docente atua em um projeto na Amaza´nia que, além de ser um dos maiores estados brasileiros, tem um hista³rico de ocupação humana que ultrapassa os 14 mil anos. Entretanto, atérecentemente, a área era pouco explorada pela arqueologia moderna.
“Foi premiado um conjunto de pesquisas que faa§o na Amaza´nia brasileira hámais de 20 anos, desde o meu doutoradoâ€, conta Neves. De 1995 a 2010, ele coordena, em parceria com os pesquisadores Michael Heckenberger e James Petersen, o Projeto Amaza´nia Central, onde vários satios grandes foram escavados pela primeira vez. O trabalho envolveu a participação de estudantes e profissionais do Brasil e do exterior.
Em artigo para o fa³rum em Xangai, o professor esclarece que a maior parte das escavações estava associada a escolas de campo, o que permitiu o treinamento de toda uma geração de jovens arqueólogos. Somente entre 1999 e 2000, Neves supervisionou oito escolas de campo na Amaza´nia Central. “Muitos dos estudantes que frequentaram essas escolas de campo estãoatualmente trabalhando em faculdades de universidades no Brasil, nos Estados Unidos e no Reino Unidoâ€, afirma ele.
Além do treinamento de futuros arqueólogos, o objetivo do trabalho foi mostrar como povos indagenas e populações tradicionais tem modificado os biomas amaza´nicos. “A gente não pode olhar para a Amaza´nia como uma floresta natural, mas como floresta que éresultado de manejos populacionais ao longo dos milaªniosâ€, explica.
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De acordo com o professor, a conquista cientafica mais importante da pesquisa foi o mapeamento e escavação sistema¡tica de vários locais com matrizes compostas por solos escuros e altamente fanãrteis, conhecidos como terras pretas ou Terra Negra Antra³pica.
Apesar da importa¢ncia do territa³rio amaza´nico, “não havia arqueologia organizada na regia£oâ€, reforça ele. “a‰ difacil encontrar no Amazonas satios datados de mais de 2500 anos, apesar dos mais de 10 mil anos de ocupaçãoâ€, revela.
Por isso, o trabalho no sudoeste da Amaza´nia envolveu vários projetos. “Venho realizando escavações de longo prazo em dois locais, Teota´nio e Monte Castelo, ambos com registros de ocupação humana em grande parte do Holoceno [período atual da história da Terra, iniciado hácerca de 11 mil anos]. Tambanãm mapeei escavações de locais do Holoceno tardio associados a montes e uma rede de estradas lineares no estado do Acreâ€, conta em artigo.
Uma arqueologia vibrante
Com o envolvimento de grandes equipes no decorrer de duas décadas de pesquisa, o professor defende que o campo da arqueologia no Paas estão“cada vez maior e mais vibranteâ€. E o reconhecimento internacional éum dos sinais de sua qualidade.
“Para uma universidade como a USP, esse reconhecimento émuito positivo porque mostra que a qualidade da pesquisa que fazemos aqui écompara¡vel com a dos maiores centros do mundoâ€, opina Neves.
A partir de agora, ampliar os programas de pós-graduação na área nas universidades brasileiras écrucial. “A Arqueologia estãocrescendo, e écada vez mais interessante no Brasil. Isso éresultado do incentivo pelo qual passou a pós-graduação nos últimos anosâ€, defende ele.
Para o professor, que participou do fa³rum pela primeira vez, o importante neste momento, em que a Ciência brasileira sofre com contingenciamentos e perseguições, “énão perdermos as conquistas que fizemos nos últimos 20 anosâ€.