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Especialistas debatem como o Brasil pode aumentar a oferta de seguros para eventos climáticos
Mesa-redonda organizada pelo FGV IISR reuniu diferentes setores da indústria de seguros e resseguros
Por FGV - 23/08/2024



Pesquisadores do Instituto de Inovação em Seguros e Resseguros da Fundação Getulio Vargas (FGV IISR) se reuniram, no Rio de Janeiro, com representantes de seguradoras, resseguradoras, órgãos reguladores e empresas corretoras de seguros para debater em uma mesa-redonda sobre Seguros e Mudanças Climáticas. O objetivo do evento foi reunir diferentes representantes do setor para responder questões acerca deste tema.

O pesquisador da EPGE Escola Brasileira de Economia e Finanças (FGV EPGE) e do FGV IISR, Humberto Moreira apresentou um projeto realizado em parceria entre a FGV e a Columbia University com o tema “Seguros para Riscos Climáticos ao redor do mundo”. “Temos poucos dados e praticamente a ausência completa de informações sobre seguros climáticos. O que precisamos entender enquanto acadêmicos por meio de um diálogo com os stakeholders deste mercado é a seguinte questão: como este tipo de seguro funciona no Brasil? Gostaríamos de entender como ocorre e dialogar com os agentes do mercado”.

Após a abertura de Humberto, junto ao professor da Escola de Administração de Empresas de São Paulo (FGV EAESP) e pesquisador do FGV IISR, Eugênio Montoro, o evento teve início com a apresentação do pesquisador Bernard Salanié, que apresentou um panorama acerca do programa nacional americano de Seguros para Enchentes, seguido do cenário de riscos de alagamento a nível internacional.

O pesquisador também destacou algumas lições aprendidas nos programas americanos, e questionou: “Por que os seguros para eventos climáticos ainda possuem baixa cobertura no Brasil, seja para as famílias ou empresas?”. De acordo com Salanié, é necessária uma atuação conjunta por parte do governo, seguradoras, credores e instituições internacionais, para trazer as soluções para questões como a correlação negativa entre a exposição ao risco e a capacidade de pagar pela cobertura.

Manual para seguros de extremos climáticos

O evento seguiu com a apresentação do pesquisador da FGV EAESP e do FGV IISR, Gesner Oliveira. Ele desenvolve uma pesquisa multidisciplinar, realizada em parceria com a pesquisadora da Queen Mary University of London (QMUL) e do FGV IISR, Franziska Arnold-Dwyer, que busca gerar um manual que facilite aos municípios poderem contar com seguros para extremos climáticos.

Na apresentação, Gesner abordou a tragédia recente do Rio Grande do Sul, demonstrando como os danos se comparam aos piores desastres mundiais, a exemplo do Furacão Katrina, nos EUA, em 2005 que gerou um dano calculado em US$ 156 bilhões, estimado em 1,2% do PIB da região. As enchentes do Rio Grande do Sul geraram danos na ordem dos R$ 32,8 bilhões, estimado em 1,7% do PIB desta região.

Investimento em novos instrumentos

O pesquisador contextualizou que em busca de diminuir os danos decorrentes dos eventos climáticos é necessário investir em instrumentos de inovação financeira e saneamento ambiental para diminuir os danos e auxiliar os municípios a se adaptarem às mudanças climáticas. “É preciso ter uma estratégia customizada para cada município a fim de diminuir a baixa cobertura deste tipo de seguro”, disse Gesner Oliveira, ao ressaltar que os déficits de saneamento ambiental agravam os desafios enfrentados decorrentes das mudanças climáticas.

Neste sentido, ele apresentou como a drenagem e a água reutilizada de chuvas são pontos importantes para mitigar os danos decorrentes de eventos climáticos. A água reciclada pode atender a parcela elevada da população, enquanto a drenagem sustentável é essencial para criar “cidades esponjas” resilientes, ao permitir criar mecanismos que simulem o comportamento original das chuvas no solo.

“No Brasil apenas 1,5% da água de esgoto tratado é reutilizada, enquanto em Israel este valor é de 90% e Austrália 15%. Além disso, outro extremo climático que é a seca poderia ter seus impactos diminuídos por meio da drenagem do solo”, explicou o pesquisador ao demonstrar um modelo para seguros contra eventos climáticos extremos. 

Devido ao risco agudo de seca e inundação, o município de Ribeirão Preto foi escolhido para desenvolver o Manual. Resultados preliminares do projeto indicam que em 2030, em um cenário otimista, há risco muito alto e alto, para enchentes e secas, respectivamente, neste município. Ao mesmo tempo, há elevados níveis de tratamento de esgoto em Ribeirão Preto, com 99,3% de coleta de esgoto e 94% do que é coletado é tratado, o que pode propiciar que essa água seja direcionada para demandas de irrigação, por exemplo.

Os próximos passos desta pesquisa vão buscar validar parâmetros de precificação customizados para Ribeirão Preto, definir métricas de impacto dos projetos de saneamento ambiental, verificar como esses projetos estão inseridos no plano diretor de mudança climática do município, como esses projetos afetam o prêmio do seguro e a elaboração do Manual de Melhores Práticas de facilitação de seguros contra extremos climáticos.

Em abril deste ano, Gesner Oliveira apresentou a pesquisa sobre Seguros para Catástrofes Climáticas na Comissão Especial Sobre Prevenção e Auxílio a Desastres e Calamidades Naturais da Câmara dos Deputados. É possível conferir a apresentação clicando aqui.

Situação no Rio de Janeiro

Em seguida a apresentação de Gesner, Daniele Amaral, engenheira especialista em Planejamento Urbano e Gestão Ambiental do Instituto Estadual do Ambiente, apresentou sobre a “Gestão de Risco de Inundações: Ações e desafios do Estado do Rio de Janeiro”, ao introduzir a estrutura da gerência de Segurança Hídrica e um histórico dos recentes eventos extremos que ocorreram no Rio de Janeiro, de 2010 a 2024.

“Vale ressaltar que enchentes, inundações e alagamentos são diferentes. Enchente é o aumento temporário do nível da água, mas o nível permanece dentro da calha, enquanto inundação é referente a transbordamento da água do rio, e alagamento é acúmulo de água na rua ocasionado por problemas de drenagem. As etapas de gestão de risco na nossa gerência envolvem: Diagnóstico; Prevenção, Mitigação e Adaptação; Preparação; Manejo dos eventos adversos; e Recuperação”, explicou Daniele, que continuou sua apresentação abordando as ações estruturais implementadas ao redor do estado.

Estiveram presentes representantes da Secretaria de Estado do Ambiente e Sustentabilidade (SEAS); Gallagher RE; Global Columbia Center; Prefeitura do Rio; Instituto de Resseguros do Brasil (IRB RE); Instituto Estadual do Ambiente (INEA); Alper; Superintendência de Seguros Privados (SUSEP); Bradesco; Mattos Filho; AON; Confederação Nacional das Seguradoras (CNSeg); Pery Saraiva Neto Advogados; Tokio Marine; Fator.

Para mais informações sobre o FGV IISR

 

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