Cientistas brasileiros já trabalham numa candidata a vacina contra novo coronavarus
Por meio de nova plataforma tecnologiica, pesquisadores da USP pretendem conseguir chegar, nos pra³ximos meses, a uma candidata a vacina contra a covid-19 que possa ser testada em animais
Imagem representa uma VLP conjugada ao antageno / figura adaptada
do artigo publicado pelo grupo de pesquisadores na
revista Vaccines em julho de 2019 osvia Agência FAPESP
Pesquisadores do Laborata³rio de Imunologia do Instituto do Coração (Incor) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) estãodesenvolvendo uma vacina contra o coronavarus da sandrome respirata³ria aguda grave, o Sars-CoV-2.
Por meio de uma estratanãgia diferente das adotadas por indaºstrias farmacaªuticas e grupos de pesquisa em diversospaíses, os cientistas brasileiros esperam acelerar o desenvolvimento e conseguir chegar, nos pra³ximos meses, a uma candidata a vacina contra o novo coronavarus que possa ser testada em animais.
“Acreditamos que a estratanãgia que estamos empregando para participar desse esfora§o mundial para desenvolver uma candidata a vacina contra a covid-19 émuito promissora e podera¡ induzir uma resposta imunola³gica melhor do que a de outras propostas que tem surgido, baseadas fundamentalmente em vacinas de mRNAâ€, disse a Agência Fapesp Jorge Kalil, diretor do Laborata³rio de Imunologia do Incor e coordenador do projeto, apoiado pela Fapesp.
Utilizada no desenvolvimento da primeira vacina experimental contra o Sars-CoV-2, anunciada no fim de fevereiro nos Estados Unidos, a plataforma tecnologiica de mRNA se baseia na inserção na vacina de moléculas sintanãticas de RNA mensageiro (mRNA) osque contem as instruções para produção de alguma proteana reconhecavel pelo sistema imunológico.
A ideia éque o sistema imunológico reconhea§a essas proteanas artificiais para posteriormente identificar e combater o coronavarus real. Já a plataforma que seráutilizada pelos pesquisadores do Incor éfundamentada no uso departículas semelhantes a varus (VLPs, na sigla em inglês de virus like particles).
Estruturas multiproteicas, as VLPs possuem caracteristicas semelhantes a s de um varus e, por isso, são facilmente reconhecidas pelas células do sistema imune. Poranãm, não tem material genanãtico do varus, o que impossibilita a replicação. Por isso, são seguras para o desenvolvimento de vacinas.
“Em geral, as vacinas tradicionais, baseadas em varus atenuados ou inativados, como a do influenza [causador da gripe], tem demonstrado excelente imunogenicidade, e o conhecimento das caracteristicas delas serve de para¢metro para o desenvolvimento bem-sucedido de novas plataformas vacinaisâ€, afirmou Gustavo Cabral, pesquisador responsável pelo projeto.
“Mas, neste momento, em que estamos lidando com um varus pouco conhecido, por questões de segurança épreciso evitar inserir material genanãtico no corpo humano para evitar eventos adversos, como multiplicação viral e possivelmente reversão genanãtica da virulência. Por isso, as formas alternativas para o desenvolvimento da vacina anticovid-19 devem priorizar, além da eficiência, a segurançaâ€, ressaltou Cabral.
A fim de permitir que sejam reconhecidas pelo sistema imunológico e gerem uma resposta contra o coronavarus, as VLPs são inoculadas juntamente com antagenos ossubstâncias que, ao serem introduzidas no corpo humano fazem com que o sistema imune produza anticorpos.
Dessa forma, épossível unir as caracteristicas de adjuvante dos VLPs com a especificidade do antageno. Além disso, as VLPs, por serem componentes biola³gicos naturais e seguros, são facilmente degradadas, explicou Cabral.
“Com essa estratanãgia épossível direcionar o sistema imunológico para reconhecer as VLPs conjugadas a antagenos como uma ameaça e desencadear a resposta imune de forma eficaz e seguraâ€, disse.
Plataforma de antagenos
O pesquisador fez nos últimos cinco anos pa³s-doutorados nas universidades de Oxford, na Inglaterra, e de Berna, na Suaa§a, onde desenvolveu candidatas a vacinas utilizando VLPs contra doena§as, como a causada pelo varus zika.
Por meio de um projeto apoiado pela Fapesp, Cabral retornou ao Brasil onde iniciou, no Laborata³rio de Imunologia do Incor, no começo de fevereiro, um estudo voltado a desenvolver vacinas contra Streptococcus pyogenes oscausador da febre reuma¡tica e da cardiopatia reuma¡tica crônica ose chikungunya utilizando VLPs.
Com a pandemia da covid-19, o projeto foi redirecionado para desenvolver uma vacina contra o novo coronavarus.
“O objetivo édesenvolver uma plataforma de entrega de antagenos para células do sistema imune de forma extremamente fa¡cil e rápida e que possa servir para desenvolver vacina não são contra a covid-19, mas também para outras doenças emergentesâ€, ressaltou Cabral.
Os antagenos do novo coronavarus estãosendo produzidos a partir da identificação de regiaµes da estrutura do varus que interagem com as células e permitem a entrada dele, as chamadas proteanas spike.
Essas proteanas, que são protubera¢ncias pontiagudas ao redor do envelope viral, resultam no formato de coroa, que conferiu o nome corona a esse grupo de varus.
Apa³s a identificação dessas proteanas spike, são extraados fragmentos delas que são conjugadas a s VLPs.
Por meio de testes com o plasma sanguaneo de pacientes infectados pelo novo coronavarus épossível verificar quais fragmentos induzem uma resposta protetora e, dessa forma, servem como potenciais candidatos a antagenos.
“Já estamos sintetizando esses antagenos e vamos testa¡-los em soro de pacientes infectadosâ€, afirmou Cabral.
Apa³s a realização dos testes em camundongos e comprovada a eficácia da vacina, os pesquisadores pretendem estabelecer colaborações com outras instituições de pesquisa para acelerar o desenvolvimento.
“Apa³s comprovarmos que a vacina neutraliza o varus, vamos procurar associações no Brasil e no exterior para encurtarmos o caminho e desenvolver o mais rápido possível uma candidata a vacina contra a covid-19â€, disse Kalil.
O pesquisador écoordenador do Instituto de Investigação em Imunologia, sediado no Incor osum dos INCTs apoiados pela Fapesp no Estado de Sa£o Paulo.