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Cientistas brasileiros já trabalham numa candidata a  vacina contra novo coronava­rus
Por meio de nova plataforma tecnologiica, pesquisadores da USP pretendem conseguir chegar, nos pra³ximos meses, a uma candidata a  vacina contra a covid-19 que possa ser testada em animais
Por Elton Alisson - 17/03/2020


Imagem representa uma VLP conjugada ao anta­geno / figura adaptada
do artigo publicado pelo grupo de pesquisadores na
revista Vaccines em julho de 2019 osvia Agência FAPESP

Pesquisadores do Laborata³rio de Imunologia do Instituto do Coração (Incor) da Faculdade de Medicina da USP (FMUSP) estãodesenvolvendo uma vacina contra o coronava­rus da sa­ndrome respirata³ria aguda grave, o Sars-CoV-2.

Por meio de uma estratanãgia diferente das adotadas por indaºstrias farmacaªuticas e grupos de pesquisa em diversospaíses, os cientistas brasileiros esperam acelerar o desenvolvimento e conseguir chegar, nos pra³ximos meses, a uma candidata a vacina contra o novo coronava­rus que possa ser testada em animais.

“Acreditamos que a estratanãgia que estamos empregando para participar desse esfora§o mundial para desenvolver uma candidata a  vacina contra a covid-19 émuito promissora e podera¡ induzir uma resposta imunola³gica melhor do que a de outras propostas que tem surgido, baseadas fundamentalmente em vacinas de mRNA”, disse a  Agência Fapesp Jorge Kalil, diretor do Laborata³rio de Imunologia do Incor e coordenador do projeto, apoiado pela Fapesp.

Utilizada no desenvolvimento da primeira vacina experimental contra o Sars-CoV-2, anunciada no fim de fevereiro nos Estados Unidos, a plataforma tecnologiica de mRNA se baseia na inserção na vacina de moléculas sintanãticas de RNA mensageiro (mRNA) osque contem as instruções para produção de alguma protea­na reconheca­vel pelo sistema imunológico.

A ideia éque o sistema imunológico reconhea§a essas protea­nas artificiais para posteriormente identificar e combater o coronava­rus real. Já a plataforma que seráutilizada pelos pesquisadores do Incor éfundamentada no uso departículas semelhantes a va­rus (VLPs, na sigla em inglês de virus like particles).

Estruturas multiproteicas, as VLPs possuem caracteri­sticas semelhantes a s de um va­rus e, por isso, são facilmente reconhecidas pelas células do sistema imune. Poranãm, não tem material genanãtico do va­rus, o que impossibilita a replicação. Por isso, são seguras para o desenvolvimento de vacinas.

“Em geral, as vacinas tradicionais, baseadas em va­rus atenuados ou inativados, como a do influenza [causador da gripe], tem demonstrado excelente imunogenicidade, e o conhecimento das caracteri­sticas delas serve de para¢metro para o desenvolvimento bem-sucedido de novas plataformas vacinais”, afirmou Gustavo Cabral, pesquisador responsável pelo projeto.

“Mas, neste momento, em que estamos lidando com um va­rus pouco conhecido, por questões de segurança épreciso evitar inserir material genanãtico no corpo humano para evitar eventos adversos, como multiplicação viral e possivelmente reversão genanãtica da virulência. Por isso, as formas alternativas para o desenvolvimento da vacina anticovid-19 devem priorizar, além da eficiência, a segurança”, ressaltou Cabral.

A fim de permitir que sejam reconhecidas pelo sistema imunológico e gerem uma resposta contra o coronava­rus, as VLPs são inoculadas juntamente com anta­genos ossubstâncias que, ao serem introduzidas no corpo humano fazem com que o sistema imune produza anticorpos.

Dessa forma, épossí­vel unir as caracteri­sticas de adjuvante dos VLPs com a especificidade do anta­geno. Além disso, as VLPs, por serem componentes biola³gicos naturais e seguros, são facilmente degradadas, explicou Cabral.

“Com essa estratanãgia épossí­vel direcionar o sistema imunológico para reconhecer as VLPs conjugadas a anta­genos como uma ameaça e desencadear a resposta imune de forma eficaz e segura”, disse.

Plataforma de anta­genos

O pesquisador fez nos últimos cinco anos pa³s-doutorados nas universidades de Oxford, na Inglaterra, e de Berna, na Sua­a§a, onde desenvolveu candidatas a vacinas utilizando VLPs contra doena§as, como a causada pelo va­rus zika.

Por meio de um projeto apoiado pela Fapesp, Cabral retornou ao Brasil onde iniciou, no Laborata³rio de Imunologia do Incor, no começo de fevereiro, um estudo voltado a desenvolver vacinas contra Streptococcus pyogenes oscausador da febre reuma¡tica e da cardiopatia reuma¡tica crônica ose chikungunya utilizando VLPs.

Com a pandemia da covid-19, o projeto foi redirecionado para desenvolver uma vacina contra o novo coronava­rus.

“O objetivo édesenvolver uma plataforma de entrega de anta­genos para células do sistema imune de forma extremamente fa¡cil e rápida e que possa servir para desenvolver vacina não são contra a covid-19, mas também para outras doenças emergentes”, ressaltou Cabral.

Os anta­genos do novo coronava­rus estãosendo produzidos a partir da identificação de regiaµes da estrutura do va­rus que interagem com as células e permitem a entrada dele, as chamadas protea­nas spike.

Essas protea­nas, que são protubera¢ncias pontiagudas ao redor do envelope viral, resultam no formato de coroa, que conferiu o nome corona a esse grupo de va­rus.

Apa³s a identificação dessas protea­nas spike, são extraa­dos fragmentos delas que são conjugadas a s VLPs.

Por meio de testes com o plasma sangua­neo de pacientes infectados pelo novo coronava­rus épossí­vel verificar quais fragmentos induzem uma resposta protetora e, dessa forma, servem como potenciais candidatos a anta­genos.

“Já estamos sintetizando esses anta­genos e vamos testa¡-los em soro de pacientes infectados”, afirmou Cabral.

Apa³s a realização dos testes em camundongos e comprovada a eficácia da vacina, os pesquisadores pretendem estabelecer colaborações com outras instituições de pesquisa para acelerar o desenvolvimento.

“Apa³s comprovarmos que a vacina neutraliza o va­rus, vamos procurar associações no Brasil e no exterior para encurtarmos o caminho e desenvolver o mais rápido possí­vel uma candidata a  vacina contra a covid-19”, disse Kalil.

O pesquisador écoordenador do Instituto de Investigação em Imunologia, sediado no Incor osum dos INCTs apoiados pela Fapesp no Estado de Sa£o Paulo.

 

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