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Janelas da Arte mostra a crise da pandemia. E propaµe a valorização da vida
A mostra apresentada em sites da USP reaºne pesquisadores, artistas, professores e alunos de diversas áreas integrando arte e ciaªncia
Por Leila Kiyomura - 18/01/2021


Convite a  exposição osFoto: Divulgação

Artistas, pesquisadores, professores e alunos de diversas áreas e universidades se reaºnem na exposição on-line Janelas da Arte. Um espaço multidisciplinar aberto nos sites do Centro Mario Schenberg de Documentação da Pesquisa em Artes e do Centro Interdisciplinar de Tecnologias Interativas (Citi), ambos da Universidade de Sa£o Paulo. Atravanãs de pesquisas que integram ciência e arte, mostram o cotidiano da população neste “novo normal” que a pandemia vem impondo. Importante destacar a participação de criana§as que desenham suas reflexões e esperana§a.

“Nesse contexto do territa³rio livre da arte, plataformas tecnologiicas possibilitam comunicações, atividades docentes e laboratoriais”, observa Elza Ajzenberg, curadora e coordenadora geral da mostra. “Com seus trabalhos, meta¡foras e registros conectados ao territa³rio livre da arte, os participantes promovem a pesquisa cienta­fica, a educação e a preservação do meio ambiente.”

Elza Ajzenberg, também professora da Escola de Comunicações e Artes da USP e coordenadora do Centro Mario Schenberg, explica que Janelas da Arte éum espaço on-line. Mas a meta éque possa, no momento oportuno, ser presencial.

Enquanto essa versão aguarda o final da pandemia, a mostra oferece ao visitante uma viagem que compartilha sensações que ele bem conhece como o aprisionamento causado pela pandemia, a sensação confusa do tempo virtual e a redescoberta do entorno como a natureza do pra³prio jardim, os prédios vizinhos ou a paisagem do sol se pondo no horizonte. Sensações estimuladas atravanãs de três núcleos: Janelas Abertas, Natureza e Criatividade, e Esperana§a e Sensibilidade Estanãtica. Cada um deles ésubdividido em três partes, poranãm sob o mesmo tema.

A participação do reitor entre os pesquisadores

Ao som do piano exa­mio de JoséEduardo Martins, professor do Departamento de Maºsica da Escola de Comunicações e Artes da USP, o espectador entra no ambiente de Janelas da Arte. a‰ acompanhado pelo reitor Vahan Agopyan, apresentando suas fotos tiradas em 28 de junho de 2020, que intitulou Sala de reunia£o e As janelas que eu tenho para ver o mundo durante a pandemia, com a presença dos computadores ligados. Na sequaªncia das imagens estãoo trabalho dos professores da USP em suas aulas on-line como Silvio Salinas (foto assinada por Cristina), do Departamento de Fa­sica Geral; a professora Roseli de Deus Lopes, da Escola Politécnica, com as pesquisadoras no Citi USP. O visitante pode acompanhar ainda o professor Marcelo Zufo, do Departamento de Engenharia da Poli, junto dos pesquisadores, atuando na elaboração do ventilador pulmonar para o tratamento da covid-19. Ha¡, ainda, a última aula presencial de Cremilda Medina, da ECA USP, no audita³rio Lupe Cotrin, em de 12 de mara§o de 2020, registrada na fotografia de Marcos Eid.

As tensaµes da pandemia são compartilhadas pelo vianãs da criatividade. Elias Knobel, cardiologista e professor da Faculdade de Medicina da Universidade Federal de Sa£o Paulo, referaªncia internacional em terapia intensiva, revela o seu lado artista. Cria, em uma escultura original, a Deusa Corona. No va­deo, ele revela: “Ha¡ 120 dias, eu encontrei um tronco em formato de Y que acabou se transformando em arte”. O professor esculpiu e destacou o formato feminino do tronco que, nestes 120 dias, engravidou. Ao girar devagar a escultura, observa: “Ela continuou bonita e elegante. O tronco iria para o fogo. Mas acabou revivendo na Deusa Corona”.

Paisagens aprisionadas do “novo normal”

Desenhar a sensação de estar limitado pela covid-19 éa arte de Pedro Mara§alo Balau, de 11 anos. Em uma ilustração de um menino ajoelhado de máscaras dentro do coronava­rus, Pedro desabafa: “Aprisionado”.


Aprisionado, por Pedro Balau (11 anos)

A fota³grafa Mariana Negro, com a sanãrie Entranãe cria uma sanãrie de paisagens como a composição sem par de chinelo, taªnis e sapato deixada na entrada de uma casa com a porta devidamente fechada. Interessante ainda a foto de uma antiga fechadura que denominou O grito, que lembra o rosto da obra homa´nima mais famosa do pintor Edvard Munch, de 1893, que iniciou o expressionismo do ini­cio do século 20. Como O grito de Munch, Mariana tenta reproduzir a solida£o e o medo.

A montagem em va­deo Perdendo a cabea§a, de Patra­cia Rocha, tem 13 segundos. Mas expressa a paisagem da cidade, talvez vista da janela de quem estãose sentindo isolado em seu apartamento. A primeira imagem éa de um teclado de computador. Depois vem a cidade com seus rua­dos de serra, entulho de pedras, nuvens pesadas que anunciam uma tempestade.

A va­deo performance O novo normal, criado por Alexandre Guimara£es em 16 de junho de 2020, impressiona. O rosto do artista estãomergulhado no escuro e ele questiona: “Que bom … eu não acredito, vocêestãoconseguindo me ver, vocêestãoconseguindo me escutar? Nossa… sabe o que éque anã? a‰ que primeiro eu não podia apertar uma ma£o, eu não podia dar um beijo. Depois, não podia sair de casa. Eu não podia me comunicar com mais ninguanãm”. A performance termina com o silaªncio e o rosto do artista que desaparece no fundo negro.

O cotidiano de todos

Os processos criativos de Janelas da Arte continuam. O visitante vai se identificar nos va­deos, fotografias, instalações, esculturas, pinturas, desenhos que documentam o cotidiano de todos. As máscaras que escondem os rostos da pandemia estãona selfie de Beabar. O muro com cerca elanãtrica, sob a a¡rvore frondosa éo tema de O canãu que nos protege, da foto de Thais Yamanishi. Ha¡ também a metamorfose de Paulo Schlik expressa na foto/performance com sacos de lixo de coisas e de gente. Uma sanãrie que parece questionar a presença humana diante da pandemia. Como se transformar?

O isolamento social estãopresente. Em Da minha janela vejo o silaªncio Fernando Ekman mostra o processo de sua pintura em va­deo. O resultado éum amontoado de caveiras, revelando o drama das mortes na pandemia. A pintura digital de Fa¡bio Hirakawa também traz cenas do isolamento social. Diogo Gomes, em va­deo performance com Joseane Alves, destaca a solida£o diante da tela do computador e da cidade vista da janela. Em Olhares Atentos, pesquisadores, fota³grafos e artistas apresentam selfies do aprisionamento na pandemia, sozinhos ou com seus animais.

O núcleo Natureza e Criatividade traz a busca para respirar e se distrair sem sair de casa. O pianista e professor JoséEduardo Martins registra o movimento das flores em seu jardim, desde o primeiro botão. Maria Lucia Roig compartilha a natureza da praia de Taguaiba, no Guarujá. Lucia Ahlers fotografa as a¡rvores florindo. Marcos Manto mostra o fogo pelas matas urbanas. E Victor Carvalho Pinto flagra um animal em fuga, querendo ultrapassar as grades pontiagudas em Brasa­lia.

Importante conferir os processos criativos nos desenhos de Lilian Bomeny, de Lara Dau Vieira; nas reflexões na técnica de incisaµes em livro de Gustavo Aragoni: no projeto Brincando com Arte de Beabar. Ou a imagem da pandemia criada por Avanir Aleixo Soares Ribeiro em mosaico e ainda a delicadeza dos desenhos de Juliana di Grazia, Natalia Alkmin reproduzindo o cuidado com pequenas paisagens em cera¢mica pla¡stica. Importante destacar também a ilustração do cansaa§o diante da pandemia de Iasmin Habka.

Nessa viagem on-line, não faltou uma homenagem a s artesa£s que se dedicam a  confecção de máscaras que nos protegem da pandemia nas fotos de Rosemeire da Costa. Os coletores de lixo da cidade foram lembrados por Rejane de Souza, que fotografou o seu trabalho dia¡rio. A esperana§a no futuro éregistrada nos desenhos sensa­veis e esponta¢neos das criana§as éa grande janela das artes. Beatriz Tirapelli Oliveira, de 6 anos, pinta uma menina presa em busca da montanha.

A exposição on-line Janelas da Arte estãodispona­vel  nos sites do Centro Mario Schenberg de Documentação da Pesquisa em Artes da Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP e do Centro Interdisciplinar de Tecnologias Interativas (Citi) da USP.

 

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