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“O Brasil anã, hoje, umpaís tutelado pelos militares. Em toda parte faz-se sentir a presença dos generais, almirantes, brigadeiros e outras patentes menores que mandam e desmandam nas mais importantes esferas da vida socialâ€.
O para¡grafo acima parece ter sido escrito neste momento em que opaís estãosendo governado por um capitão. Mas foi produzido há49 anos, durante a ditadura instaurada em 1964. O escrito éparte do opaºsculo ana´nimo intitulado Os militares no poder, redigido em 1972, com base em informações extraadas de edições do Jornal do Brasil, O Estado de S. Paulo, Correio da Manha£, entre outros jornais e revistas em circulação em 1969, 1970 e 1971.
O material trata dos militares nas administrações federal, estadual, nas empresas públicas e nas companhias particulares. Abaixo seráfeita uma comparação entre a maneira de governar dos homens de farda no passado e no presente. Além do corporativismo, a pesquisa expaµe o idea¡rio da superioridade militar em relação aos demais membros da sociedade. Mostra a suposição de que podem resolver os problemas nacionais sem a participação civil.
Assim, o folheto revela que os “[...] oficiais das três Armas detem em suas ma£os quase todos os postos da administração pública. De governo militar em governo militar, os homens oriundos da caserna va£o estendendo seu controle sobre o aparelho de Estado [...].â€
Imbuados de uma ideia supremacista, os militares demonstram dar pouca importa¢ncia para as dificuldades por que passam os cidada£os mais vulnera¡veis. Nãopode ser apenas coincidaªncia a carestia dos gêneros alimentacios, entre outros produtos, observada atualmente e nos governos militares do passado. A inflação da vida cotidiana, que não aparece nos andices oficiais, tem relação com a polatica econa´mica que exclui das prioridades a criação de empregos e o bem-estar social.
O folheto Os militares no poder registrou: “[...] A carestia de vida cresce sem cessar. Os pra³prios dados falsificados do governo admitem este fato, alia¡s sabido de todo o povo [...]â€. O opaºsculo continua a denaºncia: “[...] Nem as calamidades públicas, que constituem traganãdia para as populações pobres, deixam de servir para a criação de cargos para os militares. O Grupo Especial de Assistaªncia a s Calamidades Paºblicas, subordinado ao Ministanãrio do Interior, tem como coordenador o general Luiz Mendes da Silva [...]â€.
A calamidade pública do momento, a pandemia pelo novo coronavarus, estãosob a responsabilidade do Ministanãrio da Saúde, comandada por um militar, o general Eduardo Pazuello, duramente criticado por sua tra¡gica atuação a frente da pasta. Segundo a BBC News, de 4 de fevereiro deste 2021, “[...] mais de 20 militares passaram a ocupar posições-chave no ministanãrio [da Saúde], com cargos de direção em secretarias, subsecretarias e departamentos [...]â€.
O opaºsculo também cita a presença de militares nas empresas estatais. Assim como na ditadura de 1964, no governo do capitão Jair Bolsonaro, sem partido, os militares estãopresentes em diversos postos dessas organizações. O folheto cita “[...] Quando tomaram o Poder, em 1964, uma das primeiras medidas dos militares foi liquidar o maior número possível de empresas estatais. Transformaram muitas delas em empresas de economia mista ou as venderam. Numerosos são os militares que ocupam postos em diversas empresas. Sa£o cargos bem remunerados, além dos altos sala¡rios, os diretores recebem variadas gratificações, como nas firmas privadas [...]â€.
Na atualidade, segundo publicou a colunista do UOL, Constana§a Resende, em 17 de julho de 2020, “[...] O número de militares da ativa e da reserva em cargos civis mais que dobrou no governo de Jair Bolsonaro, em comparação com o último ano da gestãode Michel Temer (MDB). De acordo com um levantamento feito pelo TCU (Tribunal de Contas da Unia£o), já são 6.157 militares nesta situação, em comparação com 2.765, em 2018. Eles ocupam cargos em conselhos de estatais, na alta administração do Poder Executivo, cargos comissionados, tempora¡rios e na administração Paºblica [...]â€.
Mais recentemente, o presidente Jair Bolsonaro indicou para a presidaªncia da Petrobras o general Joaquim Silva e Luna, em substituição a Roberto Castello Branco. Importante lembrar que o presidente do Conselho de Administração da petroleira éum almirante de esquadra da reserva.Â
Os Militares no poder éum documento que aponta o equavoco de ter uma classe corporativista no comando de uma nação. A polatica éum instrumento de poder que pode ser exercida de modo a produzir resultados que beneficiem a toda a sociedade e não somente a um grupo.
Este e outros opaºsculos integram o Fundo Astrojildo Pereira, custodiado no Centro de Documentação e Mema³ria (CEDEM), da Unesp.
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