Humanidades

Pola­ticas de ação afirmativa aumentaram a participação de minorias nas universidades brasileiras
Pola­ticas de aa§a£o afirmativa (PAA), como sistemas de cotas com base em critanãrios raciais ou socioecona´micos, são frequentemente recomendadas como forma de aumentar a matra­cula de estudantes sub-representados no ensino superior.
Por Marianne Stein - 09/01/2020


Mary Arends-Kuenning, professora associada de economia agra­cola e de consumo na Universidade de I e co-autora do estudo, publicado na revista Economics of Education Review

Um novo estudo da Universidade de Illinois analisa dados abrangentes das universidades brasileiras para entender o efeito dos AAPs nas matra­culas minorita¡rias. Nos Estados Unidos, as universidades não são obrigadas a divulgar seus critanãrios de ação afirmativa, o que dificulta a avaliação de sua efica¡cia. No entanto, no Brasil, esses dados estãodisponí­veis ao paºblico.

"Estamos analisando se esses programas foram eficazes em seus objetivos, que eram aumentar a matra­cula de estudantes sub-representados", diz Mary Arends-Kuenning, professora associada de economia agra­cola e de consumo na Universidade de I e co-autora do estudo, publicado na revista Economics of Education Review .

Os pesquisadores descobriram que as políticas funcionam como pretendido. "Mostramos que essas cotas trabalharam em direção a seus objetivos. Eles aumentaram a matra­cula de alunos dos grupos que deveriam. Havia mais estudantes de origens pobres e de escolas públicas de ensino manãdio; havia mais estudantes negros e mais estudantes sub-representados. . "

Arends-Kuenning e o co-autor Renato Schwambach Vieira, recanãm-formado no Departamento de Economia Agra­cola e do Consumidor da ONU, também analisaram se as cotas baseadas em critanãrios socioecona´micos podem ser usadas como substitutas dos critanãrios baseados em raça. O estudo fez parte da tese de doutorado de Vieira.

"As cotas raciais podem ser muito controversas. a€s vezes as pessoas argumentam que vocêpode obter efeitos semelhantes ao ter uma cota baseada no status socioecona´mico", diz Vieira.

No entanto, o estudo constatou que não era esse o caso. "Se vocêdeseja alcana§ar a igualdade racial, não pode ter cotas baseadas em antecedentes socioecona´micos; isso não funcionou para aumentar o número de estudantes negros ou pardos no Brasil", observa ele.

Arends-Kuenning explica que o Brasil historicamente tem sido uma das sociedades mais desiguais do mundo. Permanecem grandes desigualdades socioecona´micas e raciais, em parte devido a lacunas nas oportunidades educacionais.

Para combater essas lacunas, o Brasil implementou uma Lei Nacional de Cotas em 2012, exigindo que metade dos cargos de graduação seja reservada para estudantes de grupos sub-representados.

No entanto, muitas universidades brasileiras já começam a implementar PAAs baseados em raça ou socioecona´micos no ini­cio de 2000. Isso possibilitou comparar escolas com diferentes tipos de PAAs no estudo, enquanto escolas sem essa pola­tica poderiam servir como um grupo de controle .

"Entre 2004 e 2010, 34 das 49 universidades federais adotaram algum tipo de PAA. Vinte universidades adotaram políticas de raça neutra e 14 adotaram PAAs de raça", explicam os pesquisadores em seu artigo.

O estudo examinou os AAPs e as matra­culas de 2004 a 2012, analisando dados de um vestibular nacional que todos os calouros são obrigados a fazer. Esse exame também contanãm uma seção sobre caracteri­sticas socioecona´micas e afiliação racial, com base na auto-identificação dos alunos. O estudo incluiu dados de 163.889 calouros matriculados em mais de 1.000 programas acadaªmicos em 48 universidades federais diferentes.

Os pesquisadores analisaram o efeito dos PAAs em relação a quatro dados demogra¡ficos dos alunos: raça, gaªnero, hista³rico socioecona´mico e se o aluno frequentou a escola secunda¡ria pública ou privada .

O resultado mostrou aumentos significativos na matra­cula de estudantes de grupos desfavorecidos; especificamente, aumentos de 9,8% para estudantes negros e mestia§os, 10,7% para estudantes paºblicos do ensino manãdio e 14,9% para estudantes denívelsocioecona´mico mais baixo. Nãohouve diferença para o gaªnero, que não era um critanãrio alvo para nenhuma das políticas.

Os pesquisadores descobriram que ambos os tipos de AAPs aumentaram a matra­cula de grupos socioecona´micos mais baixos, mas apenas os critanãrios direcionados a  raça aumentaram a matra­cula de negros e estudantes de raça mista.

Eles também analisaram se os resultados estavam associados a certos tipos de programas. Arends-Kuenning diz que se pode suspeitar que as escolas que relutam em cotas as implementem apenas para programas menos competitivos, mas os resultados desmentiram essa suposição.

"Na³s achamos fortemente que as cotas são mais eficazes nos programas mais competitivos", diz ela. "Vocaª pode pensar que as escolas se concentrariam em determinados programas e canalizariam os alunos sub-representados para programas mais fa¡ceis, mas descobrimos que isso não estava acontecendo. Nos programas mais competitivos, encontramos efeitos maiores".

Arends-Kuenning diz que pesquisas futuras podem ir além dos efeitos das matra­culas dos alunos .

"Isso pode incluir uma análise cuidadosa das questões de desempenho e evasão escolar; quanto bem esses estudantes foram enquanto estavam na escola. Tambanãm seráinteressante ver como eles se saem depois de se formarem. As cotas já existem hátempo suficiente para faz isso ", diz ela.

O artigo "Ação afirmativa nas universidades brasileiras: efeitos na inscrição de grupos-alvo" épublicado na revista Economics of Education

 

.
.

Leia mais a seguir