Humanidades

Falhas e COVID-19 no contexto hista³rico
Os mercados de aa§aµes estãocambaleando a  medida que o medo e a incerteza sobre a pandemia global aumentam. Pedimos a William Goetzmann, da Yale SOM, cuja pesquisa inclui história financeira, para colocar a volatilidade em perspectiva hista³rica.
Por William N. Goetzmann - 24/03/2020


John Poole, presidente do Banco Federal Americano, tranquilizou uma multida£o
de ansiosos depositantes em fevereiro de 1931. Foto: Popperfoto via Getty Images.

Vocaª acha que a grande liquidação nos mercados financeiros estãosendo impulsionada por expectativas racionais ou hálguma outra força em ação?

A flutuação do mercado de ações parece ser motivada por várias coisas, incluindo grave incerteza sobre a escala da recessão global e as consequaªncias para os lucros das empresas; a possibilidade de colapso do sistema financeiro e a incapacidade de financiar nega³cios no curto prazo, mesmo que as perspectivas futuras de lucro sejam boas; e margem chama investidores que resultam em liquidações de valores mobilia¡rios. Nãoestãoclaro que o mercado atual esteja se comportando irracionalmente, já que este éum evento global quase sem precedentes. 

"Se soubanãssemos que havia um tempo certo em que isso terminaria - uma luz no fim do taºnel - acho que isso prejudicaria os prea§os e as expectativas dos ativos".


Existem bons precedentes hista³ricos para tentar entender a crise atual?

A epidemia de gripe de 1918 éuma referaªncia natural. Milhaµes morreram. O mundo entrou em uma recessão global em 1920. No entanto, édifa­cil separar os efeitos da Primeira Guerra Mundial dos efeitos da pandemia. Portanto, não podemos usar facilmente esse evento como modelo. 

Este ano éo 300º aniversa¡rio do primeiro e maior colapso global do mercado de ações, que começou na Frana§a com a empresa do Mississippi que possua­a o territa³rio da Louisiana. Ele se espalhou em alguns meses para a Gra£-Bretanha e, finalmente, para a Holanda. As ações subiram 8 ou 10 vezes. Os especuladores ficaram ricos, mas os mercados faliram e os prea§os voltaram a cair. 

Durante o crash de 28 e 29 de outubro de 1929, o mercado caiu de 12% a 13% a cada dia. No crash de 1987, o mercado caiu quase 23%, recuperando atéo final do ano. No acidente de 2008, caiu mais de 20% em uma semana. O acidente de 1973 levou mais tempo para se materializar. 

Observe algo: grandes acidentes são muito, muito raros. Ha¡ algumas pesquisas psicológicas de Eric J. Johnson e Amos Tversky que conectam nota­cias de um raro desastre com uma crena§a crescente de que um desastre raro não relacionado pode acontecer. Talvez ver choques raros como a nota­cia de que Tom Hanks e sua esposa tenham testado positivo para o va­rus desencadeie uma sensação de que coisas ruins inesperadas sejam mais prova¡veis.

Minha pesquisa com a Dasol Kim sobre quedas analisa todos os grandes decla­nios em um período de 12 meses nas bolsas de valores do mundo. Houve mais de 1.000 acidentes com mais de 50% em um ano. Houve 8.549 acidentes anuais na escala que vimos. Quando o decla­nio aumenta, a probabilidade de recuperação no pra³ximo ano aumenta drasticamente.

O que sabemos sobre o comportamento do investidor após um acidente?

"O século XX teve todos os tipos de eventos terra­veis - pandemias, guerras e desastres - com efeitos muito maiores sobre as populações. As economias globais se desenterraram desses buracos muito mais profundos".


Os pesquisadores Ulrike Malmendier e Stefan Nagel estudaram o comportamento de investimento de pessoas que viveram a Grande Depressão e aquelas que experimentaram alta inflação durante a vida. Essas experiências de vida fizerammudanças permanentes e estãoassociadas a maiores expectativas de maus momentos e alta inflação. Nos últimos tempos, o investimento das fama­lias no mercado de ações diminuiu; émais baixo agora do que em meados dos anos 2000. Isso pode ser devido a preocupações conta­nuas sobre uma quebra no mercado. Tambanãm sabemos de pesquisas com investidores realizadas pelo Centro Internacional de Finana§as da Yale SOM para o professor Robert Shiller que as expectativas das pessoas em relação a um colapso do mercado são fortemente influenciadas pelas nota­cias. Nota­cias negativas tem um impacto maior do que nota­cias positivas.

Embora parea§a que uma vacina esteja a pelo menos um ano de distância, acho que as nota­cias sobre o desenvolvimento de uma cura ou uma vacina reduzira£o a incerteza a longo prazo. A gripe de 1918-1919 reapareceu algumas vezes e, mesmo em 1920, as pessoas não sabiam que havia terminado. Se soubanãssemos que havia um tempo certo em que isso terminaria - uma luz no fim do taºnel -, acho que isso afetaria os prea§os e as expectativas dos ativos.

O século XX teve todos os tipos de eventos terra­veis - pandemias, guerras e desastres - com efeitos muito maiores nas populações. As economias globais se desenterraram desses buracos muito mais profundos. Sa³ espero que nossas políticas sejam flexa­veis o suficiente para experimentar soluções.

 

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