Humanidades

Direitos de privacidade podem se tornar a próxima va­tima de pandemia de assassino
Da China a Cingapura e Israel, os governos ordenaram o monitoramento eletra´nico dos movimentos de seus cidada£os, em um esfora§o para limitar o conta¡gio. Na Europa e nos Estados Unidos, isso também já estar ocorrendo
Por Rob Lever - 29/03/2020


A pandemia de coronava­rus levou a  criação de aplicativos e sistemas de rastreamento
usando a localização dos smartphones das pessoas como parte do esfora§o para
limitar o conta¡gio

A vigila¢ncia digital e a tecnologia de smartphones podem ser aºteis para conter a pandemia de coronava­rus - mas alguns ativistas temem que isso possa significar danos permanentes a  privacidade e aos direitos digitais.

Da China a Cingapura e Israel, os governos ordenaram o monitoramento eletra´nico dos movimentos de seus cidada£os, em um esfora§o para limitar o conta¡gio. Na Europa e nos Estados Unidos, as empresas de tecnologia começam a compartilhar dados "ana´nimos" de smartphones para rastrear melhor o surto.

Essas medidas levaram a busca da alma por ativistas da privacidade, que reconhecem a necessidade de a tecnologia salvar vidas, enquanto se preocupa com o potencial de abuso.

"Governos de todo o mundo estãoexigindo novos poderes extraordina¡rios de vigila¢ncia, destinados a conter a disseminação do va­rus", disse a Electronic Frontier Foundation em um post online.

"Muitos invadiriam nossa privacidade, impediriam a liberdade de expressão e sobrecarregariam grupos vulnera¡veis ​​de pessoas. Os governos devem mostrar que esses poderes seriam efetivamente eficazes, baseados na ciaªncia, necessa¡rios e proporcionados".

As medidas variam de um lugar para outro. Hong Kong ordenou que as pessoas que chegassem do exterior usassem pulseiras de rastreamento e Cingapura tem uma equipe de detetives digitais dedicados monitorando aqueles que vivem em quarentena.

A agaªncia de segurança de Israel Shin Bet começou a usar tecnologia avana§ada e dados de telecomunicações para rastrear civis.

O a­cone de um aplicativo especial para pessoas sob quarentena de coronava­rus évisto
em um smartphone em Varsãovia, Pola´nia

Talvez seja a ação mais estrita, a China deu a s pessoas ca³digos de smartphone exibidos em verde, amarelo e vermelho, determinando para onde os cidada£os podem e não podem ir.

A China também estãoentre ospaíses que aumentam a censura sobre a crise, afirmou a Freedom House, órgão de defesa dos direitos humanos.

"Observamos vários sinais preocupantes de que regimes autorita¡rios estãousando o COVID-19 como pretexto para suprimir discurso independente, aumentar a vigila¢ncia e restringir direitos fundamentais, indo além do que éjustificado pelas necessidades de saúde pública", disse Michael Abramowitz, presidente do grupo.

Vigila¢ncia 'normalizada'

Alguns ativistas citam o precedente dos ataques de 11 de setembro de 2001, que abriram as portas para uma vigila¢ncia mais invasiva em nome da segurança nacional.

"Existe o risco de essas ferramentas se normalizarem e continuarem mesmo depois que a pandemia diminuir", disse Darrell West, chefe do Centro de Inovação Tecnola³gica da Brookings Institution.

Mas mesmo alguns defensores da privacidade digital dizem que pode ser prudente usar alguns dos dados disponí­veis para ajudar a controlar o surto.

Os governos estãousando vários tipos de rastreamento, como essas pulseiras eletra´nicas
em Hong Kong, conectadas a um aplicativo para monitorar pessoas e conter a
disseminação do COVID-19

"Nãosou contra a epidemia com dados ou tecnologia", disse Ryan Calo, pesquisador da Universidade de Washington afiliado ao Centro de Internet e Sociedade de Stanford.

"O problema com a implementação da vigila¢ncia em uma emergaªncia éque ela pode se adaptar a s pessoas".

Calo disse que éuma troca difa­cil, observando que mesmo a consciência de ser rastreada ou monitorada tem um impacto nos sentimentos de privacidade e segurança pessoal das pessoas.

Um aplicativo para isso

Grande parte do debate se concentra no rastreamento de localização de smartphones, um assunto delicado que estãono centro de inaºmeras disputas de privacidade.

Desde o ini­cio da pandemia, vários aplicativos foram desenvolvidos e usam a tecnologia para rastrear o surto.

Um dos pesquisadores do Instituto de Tecnologia de Massachusetts determina se as pessoas "cruzaram o caminho" com uma pessoa infectada - embora isso são funcione se - por falta de um termo melhor - for viral.

Um funciona¡rio da Agência de Tecnologia do Governo demonstra o aplicativo
de Cingapura chamado TraceTogether, como uma medida preventiva contra
o surto de COVID-19

Os pesquisadores da Cornell University desenvolveram outro aplicativo que permite aos usuários compartilhar anonimamente suas localizações e o status COVID-19 para receber alertas sobre outros casos pra³ximos.

A empresa de tecnologia Unacast, com sede em Nova York, criou um "scorecard social de distanciamento", que usa localizações de smartphones para determinar a extensão do respeito pelas recomendações para as pessoas manterem distâncias seguras.

"Pode ser útil saber se as pessoas estãopraticando distanciamento social. Isso pode fornecer informações aciona¡veis", afirmou Calo.

Mas ele sustentou que os dados fornecidos por crowdsourcing sobre infecções provavelmente estão"cheios de imprecisaµes" e podem dar a s pessoas uma falsa sensação de segurança.

Um grupo de pesquisadores da universidade desenvolveu uma versão preliminar de um aplicativo desenvolvido para permitir que as pessoas compartilhem dados sobre localização e infecções usando a tecnologia Bluetooth dos smartphones sem comprometer a privacidade pessoal.

"Na³s o projetamos para que, se uma pessoa entrar em contato com a COVID, houver uma maneira de enviar um alerta (para quem estiver pra³ximo) sem identificar quem éessa pessoa", disse Tina White, uma estudante de Stanford e co-fundadora do Covid- assistir aplicativo.

White disse que ela e outros pesquisadores criaram a noção como uma alternativa a s medidas "autorita¡rias" adotadas em algumas partes do mundo.

Ela reconheceu que o aplicativo seria tão útil quanto o número de pessoas que o utilizavam - mas disse que a tecnologia estãosendo disponibilizada gratuitamente e sugeriu que "Android e Apple poderiam usar essa opção em uma atualização do sistema" para garantir ampla adoção.

 

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