Estudo revela perfil do brasileiro que descumpre isolamento social durante pandemia de Covid-19
Estudo desenvolvido por doutoranda da UnB, Janãssica Farias, identifica principais motivos que levam alguns brasileiros a ignorar as medidas de isolamento social contra o novo coronavarus
Estudo desenvolvido por doutoranda da UnB identifica principais motivos que levam
alguns brasileiros a ignorar as medidas de isolamento social contra o novo
coronavarus. Foto: Lucio Bernarno Jr/Agência Brasalia
Renda, status profissional e posição polatica afetam, de fato, o comportamento das pessoas em relação ao isolamento social osmedida de combate ao novo coronavarus adotada no Brasil e em diversos outrospaíses. Foi o que constatou a pesquisa realizada por Janãssica Farias, estudante de doutorado do Programa de Pa³s-Graduação em Psicologia Social, do Trabalho e das Organizações da Universidade de Brasalia.
Entre 31 de mara§o e 3 de abril, ela entrevistou 2.056 indivíduos de 25 Unidades da Federação por meio de formula¡rio eletra´nico. Com idades entre 18 e 88 anos, os participantes são majoritariamente mulheres (72%), com alto grau de instrução (56,7% tem curso de pós-graduação em andamento ou concluado) e com renda entre quatro e dez sala¡rios manimos. As cinco regiaµes dopaís foram contempladas no estudo.
De acordo com a doutoranda, no grupo analisado, estudantes e desempregados demonstraram maior intenção de violar o isolamento social. Já os aposentados tiveram a menor intenção.
“Pessoas com menor renda, sem estabilidade profissional e com posicionamento no espectro polatico de direita tendem a violar mais o isolamento. Pessoas com alta intolera¢ncia a incerteza, uma varia¡vel que se relaciona com a ansiedade, tambémâ€, conta Janãssica Farias.
As varia¡veis em foco na pesquisa foram três: atitude quanto ao distanciamento social, intenção de viola¡-lo e opinia£o relativa a declarações dadas pelo presidente da República. Além destas, também foram consideradas a intolera¢ncia a incerteza, o partidarismo polatico, o status profissional e a renda percebida pelos participantes.
“Sobre intolera¢ncia a incerteza e ansiedade, érelevante fornecer suporte psicola³gico para as pessoas que estãoapresentando grau de ansiedade mais elevado, já que esse tem demonstrado ser um fator que interfere na violação do isolamento social e, portanto, no combate a pandemiaâ€,
No artigo, a pesquisadora afirma que o posicionamento polatico tem impacto significativo nas atitudes referentes ao isolamento social: as pessoas tendem a questionar mais ou menos as medidas restritivas conforme suas crena§as políticas. “a‰ importante não polarizar o combate ao varus porque acabar com essa pandemia estãono interesse de todos, independentemente de partido polaticoâ€, destaca a doutoranda.
POLaTICAS PašBLICAS –
A intenção de Janãssica Farias éque os achados de sua pesquisa possam subsidiar governadores e demais autoridades a direcionar as atuais políticas públicas de combate a Covid-19. “O investimento em políticas de transferaªncia de renda éessencial para que as pessoas de renda mais baixa possam permanecer em casaâ€, constata. Hoje épossível ter auxalio financeiro dos governos federal e distrital, além de outros disponaveis, conforme a situação do requerente.
Janãssica Farias aplicou questiona¡rios virtuais com 63 itens para serem respondidos.
Foto: arquivo pessoal
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“Sobre intolera¢ncia a incerteza e ansiedade, érelevante fornecer suporte psicola³gico para as pessoas que estãoapresentando grau de ansiedade mais elevado, já que esse tem demonstrado ser um fator que interfere na violação do isolamento social e, portanto, no combate a pandemiaâ€, avalia.
Janãssica Farias sugere a formação de parcerias entre governos e universidades, por exemplo, para fornecerem tal suporte. “O ideal seria um atendimento on-line para não desrespeitar as medidas de isolamento social, e não colocar psica³logos nem pacientes em riscoâ€, completa a doutoranda.
Na UnB, o Centro de Atendimento e Estudos Psicola³gicos (Caep), vinculado ao Instituto de Psicologia, tem a finalidade de prestar servia§os psicola³gicos a comunidade acadaªmica e a sociedade de modo geral, e tem oferecido plantão de apoio emocional durante a pandemia. Por meio de escuta pontual, qualificada e acolhedora, terapeutas ajudam as pessoas a organizarem os sentimentos e lidarem com as emoções e os desafios aºnicos desse período.
Em regra, a marcação de atendimentos éfeita somente por telefone a s segundas-feiras, a partir das 8h30, no número (61) 3107-1680. Durante o período de isolamento social, poranãm, épossível marcar em outros dias da semana, conforme a disponibilidade dos profissionais. Para isso, énecessa¡rio mandar mensagem pelo aplicativo WhatsApp nos hora¡rios indicados na pa¡gina do centro, diretamente para os telefones divulgados pelos terapeutas.
O número de vagas érestrito. Caso todos estejam ocupados no momento do contato, épossível ainda ligar para o Centro de Valorização da Vida (CVV) no telefone 188.
O subcomitaª de saúde mental e apoio psicossocial do Comitaª Gestor do Plano de Contingaªncia da Covid-19 (Coes), liderado pela Diretoria de Atenção a Saúde da Comunidade Universita¡ria Dasu/DAC, também estãorealizando diversas atividades de acompanhamento psicola³gico e psicossocial, de forma remota, para toda a comunidade (professores, estudantes e técnicos administrativos). Contatos podem ser feitos por meio do e-mail dasu@unb.br. Para saber mais, acesse o Boletim do Coes.Â
 PSICOLOGIA SOCIALÂ
Este campo da psicologia contribui de diferentes formas para a sociedade, mas, de forma especial, pode fornecer contribuições fundamentais para o enfrentamento de emergaªncias como essa que se vive atualmente por conta da Covid-19.
A psicologia social interpreta diversos comportamentos da sociedade e pode auxiliar
na elaboração de políticas públicas. Foto: Daªnio Simaµes/Agência Brasalia
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“A psicologia social contribui para a compreensão de algumas varia¡veis que interferem nesse tipo de comportamento e, assim, pode auxiliar na elaboração de políticas públicas de combate a pandemiaâ€, explica Janãssica Farias.
“Esse ramo da psicologia estuda o comportamento das pessoas em sociedade. Então, pensei em pesquisar a violação do isolamento social, que éuma das medidas mais eficientes no combate a pandemia. Esse comportamento envolve violação de normas, que éalgo que eu já estudo no meu doutorado. Gostaria de contribuir de alguma formaâ€, declara a estudante, que deve concluir o curso atéfevereiro de 2022.
O docente Ronaldo Pilati, orientador de Janãssica e coautor do artigo em questão, lembra que a intenção da dupla foi entender os fatores que influenciam na adesão ao distanciamento social.
“Na psicologia social consideramos fatores do indivaduo, da situação social imediata em que esse indivaduo se encontra e a forma como ele compreende e interpreta a realidade a sua volta para entendermos como as pessoas se comportam nos diversos ambientes em que vivem. No caso especafico, nosso alvo foi compreender a adesão ao distanciamento socialâ€, conta.
Pilati destaca que os resultados encontrados indicam que o sucesso de uma polatica de isolamento apenas ocorre se estratanãgias de intervenção nas atitudes da população também forem trabalhadas.
“Sem discursos contradita³rios e não enquadrando as ações de combate a pandemia no a¢mbito da polarização polatica que vive opaís nos últimos anosâ€, ressalta.
O artigo de Janãssica Farias e Ronaldo Pilati foi submetido a uma revista cientafica internacional e estãoem análise no momento. A versão preliminar com os dados obtidos, em inglês, estãodisponavel para consulta on-line.