Por que o mercado de ações se recuperou enquanto os casos COVID-19 se mantinham em alta?
Negociadores no prega£o da Bolsa de Nova York em 20 de mara§o de 2020.
Foto: Spencer Platt / Getty Images.
Nas primeiras semanas da pandemia do COVID-19, os prea§os das ações caaram, mas, desde então, recuperaram grande parte de seu valor. Por que as ações subiriam enquanto opaís estãoparalisado por uma pandemia? De acordo com uma pesquisa preliminar de Peter Schott, de Yale SOM, e seus co-autores, os investidores podem estar ajustando os prea§os com base no fato de as previsaµes anteriores do total de infecções parecerem excessivamente otimistas ou pessimistas.
Amedida que o surto de COVID-19 se espalhava em mara§o, os prea§os da bolsa de valores despencaram. Então, em um movimento que parecia irracional para alguns observadores, os mercados se recuperaram. Por que os prea§os das ações aumentariam mesmo quando o número de casos de COVID-19 nopaís continuava subindo?
Pesquisas preliminares de Peter Schott, o professor de Economia Internacional Juan Trippe e três co-autores sugerem que as tendaªncias do mercado podem não ter sido tão ila³gicas quanto pareciam. Os investidores pareciam estar respondendo não ao número total de casos, mas se os dados mais recentes sobre infecções sugeriam que a trajeta³ria futura do surto era pior ou melhor do que o esperado anteriormente. No primeiro caso, os prea§os das ações tendiam a diminuir; se este último, eles tendem a aumentar.
"Os mercados declinam quando hánotacias inesperadamente ruins e aumentam quando hánotacias inesperadamente boas ", diz Schott, que colaborou com Laura Alfaro na Harvard Business School, Anusha Chari na Universidade da Carolina do Norte em Chapel Hill e Andrew Greenland na Elon University na estude.
Os pesquisadores também estudaram os prea§os das ações de empresas individuais e reivindicações de desemprego em todo opaís. Surpreendentemente, os estados com mais trabalhadores em setores com declanios mais acentuados no mercado tendem a ter menos perdas de empregos per capita - talvez porque as empresas com uso intensivo de capital sejam consideradas mais vulnera¡veis ​​a crise, mas também menos propensas a demitir muitos trabalhadores.
Schott observa que o trabalho "ainda estãoem fase de muita pesquisa". Mas ele espera que essas análises possam ajudar os formuladores de políticas a prever quais áreas geogra¡ficas sera£o as mais atingidas economicamente e a determinar os tipos de ajuda necessa¡rios.
"Os mercados são prospectivos", diz ele. "Então, se pudermos aproveitar a sabedoria nos mercados, talvez possamos ter uma previsão sobre o que vai acontecer."
A equipe iniciou seu estudo procurando uma relação geral entre os padraµes de infecção e os prea§os das ações. Como exatamente o mercado mediu a gravidade da crise?
Os pesquisadores argumentaram que os investidores poderiam ter contado com um modelo computacional simples para projetar números futuros de casos. Por exemplo, eles podem ter usado um modelo que supunha que as infecções aumentariam exponencialmente, o que geralmente acontece durante a fase inicial de um surto. Ou eles poderiam ter usado um modelo logastico, uma curva em forma de S na qual o crescimento exponencial eventualmente se estabiliza. Novos dados sobre a contagem de casos eram divulgados todos os dias, para que os investidores pudessem conectar esses números ao software executando um desses modelos para prever aproximadamente a trajeta³ria da pandemia.
Schott enfatiza que ele e seus co-autores não são epidemiologistas e não estavam tentando desenvolver um modelo preciso de infecções. "Nãoestou tentando prever o surto", diz ele. "Estou apenas tentando entender como o mercado estãoinferindo o que pode estar acontecendo."
“Quando vocêtem certeza de que pode ver a luz no fim do taºnel porque a curva estãocurvada, équando o mercado se recupera. Pa¡ra de queda livre".
Para testar sua ideia, os pesquisadores examinaram dados sobre o surto de SARS em Hong Kong em 2003. Eles usaram dados dia¡rios de infecção para simular o que um modelo logastico preveria para contagens de casos futuros e revisaram essas expectativas a cada dia.
Eles descobriram que uma duplicação do total de infecções previstas com base em novos dados estava associada a uma queda média de 8 a 11% nos prea§os da bolsa de Hong Kong. Por outro lado, “quando vocêtiver certeza de que pode ver a luz no fim do taºnel, porque a curva estãocurvada, équando o mercado se recuperaâ€, diz Schott. "Para de cair em queda livre."
Os pesquisadores analisaram o surto de COVID-19 nos Estados Unidos de 22 de janeiro a 10 de abril de 2020. Usando um modelo exponencial, eles encontraram um padrãosemelhante: suas estimativas sugeriram que uma duplicação de casos previstos levou a quedas nos prea§os de fechamento e abertura de cerca de 9% e 5%, respectivamente. Mas quando as infecções previstas caaram cerca de 20% em 24 de mara§o, o mercado de ações subiu cerca de 9%. Nesse caso, novos dados sugeriram que "a curva anterior estimada era excessivamente pessimista", diz Schott.
Em seguida, a equipe deu um zoom nos prea§os das ações de empresas individuais. Os pesquisadores pensaram que poderiam usar a sabedoria da multida£o para avaliar a vulnerabilidade de cada empresa a crise do COVID-19 - especificamente, o que os investidores pensavam que aconteceria com os lucros da empresa. A maioria das empresas perderia receita, mas as empresas podem ser afetadas de maneira diferente, dependendo de fatores como localização, setor, se os funciona¡rios podem teletrabalhar e a capacidade de cortar custos. Como o mercado éprospectivo,mudanças na avaliação podem ajudar os pesquisadores a avaliar as perspectivas de cada empresa e, portanto, quais partes dopaís podem sofrer o maior desemprego.
Assim, os pesquisadores examinaram os movimentos dos prea§os das ações de 4.070 empresas e os dados do Departamento do Trabalho dos EUA sobre reivindicações de desemprego em cada estado. Eles esperavam que os estados que continham mais trabalhadores em setores com declanio mais acentuado no mercado teriam mais perdas de emprego per capita. "Mas esse não éo relacionamento", diz Schott. Em vez disso, eles descobriram que, nesses estados, "as reivindicações de desemprego não são, em termos relativos, tão ruins", diz ele.
Por que seria esse o caso? O padrãopode estar relacionado a intensidade de capital da empresa - ou seja, a quantidade de fa¡bricas, propriedades e equipamentos em relação a ma£o-de-obra. Durante uma crise, essas empresas não podem facilmente cortar custos se livrando de ativos fasicos. Portanto, os investidores podem ter previsto que os lucros da empresa cairiam mais. De fato, os pesquisadores descobriram que, quando um modelo exponencial previa um aumento inesperado nos casos do COVID-19, as empresas com uso intensivo de capital eram mais propensas a observar quedas maiores no valor de mercado.
Por outro lado, uma empresa que exige muito trabalho, como uma cadeia de restaurantes, pode tentar sobreviver demitindo mais funciona¡rios. Do ponto de vista do mercado, isso significa que a empresa enfrentara¡ melhor a crise porque podera¡ cortar custos temporariamente. Mas essas medidas também aumentam o desemprego nessa regia£o.
Essas análises podem ajudar os formuladores de políticas a descobrir os tipos de ajuda que cada regia£o precisa recuperar - por exemplo, assistaªncia para encontrar novos empregos nas ocupações com maior probabilidade de retorno. "Ha¡ muita informação nos prea§os de mercado que pode ser explorada por pesquisadores e formuladores de políticas", diz Schott.