Para antropa³logo da UFMG, negligaªncia com indagenas na pandemia épolatica genocida
Atividades de garimpo na Amaza´nia introduzem a covid-19 nas aldeias e ameaa§am a vida do povo Yanomami

Criana§as Yanomami brincam em aldeia -Â Marcello Casal Jr. / Agência Brasil
Mais de cinco mil indagenas da etnia Yanomami podem ser infectados pela covid-19 em aldeias próximas a zonas de garimpo na Amaza´nia, caso nenhuma medida seja tomada para conter o avanço da doença na regia£o. Isso representa 40% da população que vive nessas áreas. a‰ o que revela estudo realizado pelo Instituto Socioambiental (ISA), que contou com a participação de pesquisadores da UFMG e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Atéesta semana, foram registrados 174 casos de covid-19 entre os povos Yanomami e cinco mortes.Â
A situação se agrava nas aldeias, uma vez que comea§am a ser notificados casos de contaminação no a¢mbito das terras indagenas, rompendo com registros anteriores de casos de infecção pelo novo coronavarus, que tinham ocorrido apenas na Casa da Saúde Indagena em Boa Vista. As regiaµes próximas a garimpos são as mais afetadas.Â
O professor Roganãrio do Pateo, do Departamento de Antropologia e Arqueologia da UFMG, explicou os riscos gerados pelas atividades garimpeiras a saúde dos povos indagenas: “Os garimpos são vetores de vários tipos de doena§as, mesmo antes da covid-19, como a mala¡ria. A presença dos garimpos em terras indagenas também gera vários outros tipos de violência, como assanãdio sexual e estupro, aliciamento de jovens e problemas ambientais. Em decorraªncia disso, surgem complicações sanita¡rias e nutricionais para a saúde dos indagenas", enumera o antropa³logo.
“Essa questãoéabsolutamente revoltante, édifacil mensurar o tamanho da violência que isso representa para os povos Yanomami, com base em sua compreensão da morte e dos rituais que ela envolve. Para eles, ter um parente enterrado éuma das maiores ofensas que se pode sofrerâ€, explica o professor Roganãrio do Pateo. "Esse fato escancara o preconceito que muitos profissionais tem sobre os povos indagenas. Nãoos enxergam como pessoas detentoras de direitos, cidada£os brasileiros como todos nósâ€
Com a pandemia da covid-19 no Brasil, a situação sanita¡ria nas aldeias Yanomami, que já era preca¡ria, tornou-se ainda mais preocupante, segundo o antropa³logo. “A terra Yanomami éextensa e coberta por uma floresta densa, com poucos acessos terrestres, o que dificulta o atendimento a s pessoas que vivem nesses territa³riosâ€, explica o professor. “Além da vulnerabilidade biológica dos Yanomami em relação a s doenças 'de fora', a estrutura de funcionamento da sociedade deles implica grande circulação entre as aldeias, para troca de conhecimentos e objetos, o que aumenta a chance de disseminação do varus. Muitos vivem em casas coletivas, onde háconstante comunha£o de utensalios e alimentos, dificultando o isolamento. Por fim, ainda devemos ressaltar que a maioria dos indagenas não fala portuguaªs e não consegue compreender bem os termos cientaficos e as formas como se da¡ a propagação da doena§aâ€, lamenta Roganãrio do Pateo.
Para o professor e antropa³logo da UFMG, as atitudes do governo federal frente a s invasaµes de terras indagenas tem corroborado os abusos sofridos pelo povo Yanomami. “Esses garimpos são fruto de invasaµes ilegais, por isso não hánenhum controle do Estado sobre as pessoas que entram no territa³rio. Enquanto o governo tenta legalizar a exploração mineral nessas áreas, por baixo dos panos existe um desmonte total da estrutura de controle e fiscalização, levando os invasores de terras indagenas a se sentirem protegidos", afirma.Â
Violação de direitos
Um artigo publicado pela jornalista Eliane Brum, na semana passada, no jornal El Paas Brasil, denuncia a dor de mulheres Yanomami que tiveram suas criana§as enterradas em um cemitanãrio local e não conseguem localiza¡-las. Se isso já éuma traganãdia do nosso ponto de vista, enterrar um corpo éuma grande violação cultural para os Yanomami, que fazem a cremação, seguida de uma sanãrie de rituais de despedida que envolvem toda a comunidade.Â
“Essa questãoéabsolutamente revoltante, édifacil mensurar o tamanho da violência que isso representa para os povos Yanomami, com base em sua compreensão da morte e dos rituais que ela envolve. Para eles, ter um parente enterrado éuma das maiores ofensas que se pode sofrerâ€, explica o professor Roganãrio do Pateo. "Esse fato escancara o preconceito que muitos profissionais tem sobre os povos indagenas. Nãoos enxergam como pessoas detentoras de direitos, cidada£os brasileiros como todos nósâ€, ressalta o professor da Fafich.