Humanidades

Para antropa³logo da UFMG, negligaªncia com inda­genas na pandemia épola­tica genocida
Atividades de garimpo na Amaza´nia introduzem a covid-19 nas aldeias e ameaa§am a vida do povo Yanomami
Por Alessandra Ribeiro - 01/07/2020


Criana§as Yanomami brincam em aldeia - Marcello Casal Jr. / Agência Brasil

Mais de cinco mil inda­genas da etnia Yanomami podem ser infectados pela covid-19 em aldeias próximas a zonas de garimpo na Amaza´nia, caso nenhuma medida seja tomada para conter o avanço da doença na regia£o. Isso representa 40% da população que vive nessas áreas. a‰ o que revela estudo realizado pelo Instituto Socioambiental (ISA), que contou com a participação de pesquisadores da UFMG e da Fundação Oswaldo Cruz (Fiocruz). Atéesta semana, foram registrados 174 casos de covid-19 entre os povos Yanomami e cinco mortes. 

A situação se agrava nas aldeias, uma vez que comea§am a ser notificados casos de contaminação no a¢mbito das terras inda­genas, rompendo com registros anteriores de casos de infecção pelo novo coronava­rus, que tinham ocorrido apenas na Casa da Saúde Inda­gena em Boa Vista. As regiaµes próximas a garimpos são as mais afetadas. 

O professor Roganãrio do Pateo, do Departamento de Antropologia e Arqueologia da UFMG, explicou os riscos gerados pelas atividades garimpeiras a  saúde dos povos inda­genas: “Os garimpos são vetores de vários tipos de doena§as, mesmo antes da covid-19, como a mala¡ria. A presença dos garimpos em terras inda­genas também gera vários outros tipos de violência, como assanãdio sexual e estupro, aliciamento de jovens e problemas ambientais. Em decorraªncia disso, surgem complicações sanita¡rias e nutricionais para a saúde dos inda­genas", enumera o antropa³logo.

“Essa questãoéabsolutamente revoltante, édifa­cil mensurar o tamanho da violência que isso representa para os povos Yanomami, com base em sua compreensão da morte e dos rituais que ela envolve. Para eles, ter um parente enterrado éuma das maiores ofensas que se pode sofrer”, explica o professor Roganãrio do Pateo. "Esse fato escancara o preconceito que muitos profissionais tem sobre os povos inda­genas. Nãoos enxergam como pessoas detentoras de direitos, cidada£os brasileiros como todos nós”


Com a pandemia da covid-19 no Brasil, a situação sanita¡ria nas aldeias Yanomami, que já era preca¡ria, tornou-se ainda mais preocupante, segundo o antropa³logo. “A terra Yanomami éextensa e coberta por uma floresta densa, com poucos acessos terrestres, o que dificulta o atendimento a s pessoas que vivem nesses territa³rios”, explica o professor. “Além da vulnerabilidade biológica dos Yanomami em relação a s doenças 'de fora', a estrutura de funcionamento da sociedade deles implica grande circulação entre as aldeias, para troca de conhecimentos e objetos, o que aumenta a chance de disseminação do va­rus. Muitos vivem em casas coletivas, onde háconstante comunha£o de utensa­lios e alimentos, dificultando o isolamento. Por fim, ainda devemos ressaltar que a maioria dos inda­genas não fala portuguaªs e não consegue compreender bem os termos cienta­ficos e as formas como se da¡ a propagação da doena§a”, lamenta Roganãrio do Pateo.

Para o professor e antropa³logo da UFMG, as atitudes do governo federal frente a s invasaµes de terras inda­genas tem corroborado os abusos sofridos pelo povo Yanomami. “Esses garimpos são fruto de invasaµes ilegais, por isso não hánenhum controle do Estado sobre as pessoas que entram no territa³rio. Enquanto o governo tenta legalizar a exploração mineral nessas áreas, por baixo dos panos existe um desmonte total da estrutura de controle e fiscalização, levando os invasores de terras inda­genas a se sentirem protegidos", afirma. 

Violação de direitos

Um artigo publicado pela jornalista Eliane Brum, na semana passada, no jornal El Paa­s Brasil, denuncia a dor de mulheres Yanomami que tiveram suas criana§as enterradas em um cemitanãrio local e não conseguem localiza¡-las. Se isso já éuma traganãdia do nosso ponto de vista, enterrar um corpo éuma grande violação cultural para os Yanomami, que fazem a cremação, seguida de uma sanãrie de rituais de despedida que envolvem toda a comunidade. 

“Essa questãoéabsolutamente revoltante, édifa­cil mensurar o tamanho da violência que isso representa para os povos Yanomami, com base em sua compreensão da morte e dos rituais que ela envolve. Para eles, ter um parente enterrado éuma das maiores ofensas que se pode sofrer”, explica o professor Roganãrio do Pateo. "Esse fato escancara o preconceito que muitos profissionais tem sobre os povos inda­genas. Nãoos enxergam como pessoas detentoras de direitos, cidada£os brasileiros como todos nós”, ressalta o professor da Fafich.

 

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