Pandemia retanãm turistas brasileiros no exterior e prejudica trabalhadores do turismo
Passageiros e tripulantes de navios ficaram mais expostos ao conta¡gio pela covid-19; companhias aanãreas realizaram demissaµes

Em voos internacionais, foi verificada ausaªncia completa de informações, venda de passagens e cancelamento de voos na sequaªncia, além de dispensas de trabalhadores das empresas aanãreas osFotos: GRU Internacional /www.turismo.gov.br e Pixabay
Os desdobramentos da pandemia de covid-19 sobre o turismo internacional e domanãstico no Brasil são analisados em pesquisa da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. Os pesquisadores constataram as dificuldades dos brasileiros em viagem ao exterior em conseguir voos para retornar ao Paas e os problemas enfrentados pelos passageiros retidos em navios de cruzeiro, além do maior risco de conta¡gio dos tripulantes das embarcações e as dispensas de funciona¡rios de companhias aanãreas. O estudo também mostra que o impacto da paralisação das atividades turasticas émais sentido em cidades e regiaµes mais dependentes do setor como, por exemplo, os municapios do litoral paulista.
Segundo a professora Rita Cruz, coordenadora da pesquisa, a primeira etapa do trabalho foi realizada por alunos da disciplina Geografia do Turismo, da FFLCH. “O estudo abrangeu três aspectos principais: brasileiros retidos no exterior; cruzeiros maratimos retidos pelo mundo e no Brasil, considerando casos de conta¡gio pela doença e medidas tomadas por organismos nacionais com vistas a resolução de problemas que atingiram e atingem o setor do turismo, assim como perspectivas para o futuroâ€, relata.
A principal fonte de dados da pesquisa foram os sites oficiais da Organização Mundial do Turismo, Ministanãrio das Relações Exteriores e Embratur, além de sites de empresas, principalmente relacionadas aos cruzeiros. “Especificamente em relação aos brasileiros retidos no exterior, foi realizada uma busca ativa em redes sociaisâ€, explica Rita. “A partir dessa busca, chegou-se a pessoas que concederam entrevistas por escrito ou gravadas. Além de um editorial escrito pelos alunos, um documenta¡rio em vadeo sobre o tema estãoem preparação.â€
A segunda etapa estãoem andamento e envolve pesquisadores brasileiros de diferentes Instituições de Ensino Superior (IES) da Amaza´nia, Nordeste e Sudeste, além de pesquisadores brasileiros residentes no exterior (Portugal e Frana§a) e pesquisadores estrangeiros de Portugal, Argentina e Moa§ambique. “O objetivo seráavaliar quantitativa e qualitativamente os impactos da pandemia da covid-19 sobre os lugares (regiaµes e localidades no Brasil e no exterior), com vistas a uma análise comparativa que possa contribuir com a formulação de políticas públicas para o setor em diferentes escalasâ€, planeja Rita.
Turistas retidos
A pesquisa mapeou mais de 60 navios de cruzeiro retidos pelo mundo e contabilizou casos de contaminação por covid-19. “Os navios tornaram-se focos de conta¡gio e enfrentaram sanãrias dificuldades, sendo rejeitados por diferentespaíses, tendo que alterar seus percursos originais e, consequentemente, mantendo em seu interior milhares de pessoas cujo risco de conta¡gio foi indiscutivelmente aumentadoâ€, destaca a professora. “Além disso, as tripulações desses navios, em grande parte jovens oriundos depaíses em desenvolvimento, foram duramente impactadas, dadas as condições nem sempre adequadas para o confinamento por longo tempo nas embarcações.â€
“Meios de hospedagem buscam freneticamente adequar-se a s novas demandas por segurança sanita¡ria em suas instalações, visando a uma retomada, mesmo que lenta, das atividades a partir do segundo semestre deste anoâ€
Além de construir uma visão geral sobre a distribuição geogra¡fica de brasileiros retidos no exterior, o estudo apontou as dificuldades enfrentadas em relação ao retorno ao Brasil. “Nos voos internacionais, foi verificado o descaso de diversas companhias aanãreas com passageiros, o que inclui, entre outros problemas, ausaªncia completa de informações, venda de passagens e cancelamento de voos na sequaªnciaâ€, ressalta Rita. “a‰ importante destacar, também, que trabalhadores dessas empresas, de pilotos a comissa¡rios de bordo, muitos contratados como pessoa juradica (PJ), foram dispensados sem remuneração.â€
De acordo com a professora, o turismo no Brasil assim como em todo o mundo estão“congeladoâ€, mas o Paas não se ressente do problema da mesma forma que outras nações, pois, de acordo com estudo realizado pela Fundação Getaºlio Vargas (FGV), o setor participa com cerca de 3,7% da composição do PIB nacional. “No entanto, quando são analisadas as escalas regional e local, hálocalidades com alta taxa de dependaªncia do turismo, seja em relação ao número de estabelecimentos comerciais ou de empregos no setor, por exemploâ€, aponta. “Este éo caso de municapios litora¢neos paulistas e diversas outras localidades e regiaµes turasticas distribuadas pelo territa³rio nacional.â€
O estudo mapeou as estratanãgias mobilizadas pelo Brasil e por outraspaíses em busca da minimização dos efeitos deletanãrios da crise sanita¡ria. “O turismo estãovetado por autoridades municipais em todo o Paas por razões a³bvias, ou seja, evitar a circulação geogra¡fica do varus. Entretanto, háuma campanha internacional, encampada pelo Ministanãrio do Turismo brasileiro, que pede aos viajantes para não cancelarem suas viagens e sim reprograma¡-las pra o futuro pra³ximoâ€, aponta Rita. “Operadoras de viagem e companhias aanãreas tem buscado soluções para a crise com base nessa perspectiva, tal como indica o acordo recente firmado entre Latam e Azul.â€
“Meios de hospedagem buscam freneticamente adequar-se a s novas demandas por segurança sanita¡ria em suas instalações, visando a uma retomada, mesmo que lenta, das atividades a partir do segundo semestre deste anoâ€, conclui a professora. A primeira fase da pesquisa envolveu estudantes da disciplina de Geografia do Turismo, ministrada por Rita no primeiro semestre deste ano. A segunda fase, coordenada pela professora, com a colaboração da pa³s-doutoranda Simone Affonso da Silva, do Departamento de Geografia da FFLCH, envolve 60 pesquisadores de diferentes instituições de ensino superior brasileiras e estrangeiras.