Humanidades

Pandemia retanãm turistas brasileiros no exterior e prejudica trabalhadores do turismo
Passageiros e tripulantes de navios ficaram mais expostos ao conta¡gio pela covid-19; companhias aanãreas realizaram demissaµes
Por Júlio Bernardes - 02/07/2020


Em voos internacionais, foi verificada ausaªncia completa de informações, venda de passagens e cancelamento de voos na sequaªncia, além de dispensas de trabalhadores das empresas aanãreas osFotos: GRU Internacional /www.turismo.gov.br e Pixabay

Os desdobramentos da pandemia de covid-19 sobre o turismo internacional e domanãstico no Brasil são analisados em pesquisa da Faculdade de Filosofia, Letras e Ciências Humanas (FFLCH) da USP. Os pesquisadores constataram as dificuldades dos brasileiros em viagem ao exterior em conseguir voos para retornar ao Paa­s e os problemas enfrentados pelos passageiros retidos em navios de cruzeiro, além do maior risco de conta¡gio dos tripulantes das embarcações e as dispensas de funciona¡rios de companhias aanãreas. O estudo também mostra que o impacto da paralisação das atividades tura­sticas émais sentido em cidades e regiaµes mais dependentes do setor como, por exemplo, os munica­pios do litoral paulista.

Segundo a professora Rita Cruz, coordenadora da pesquisa, a primeira etapa do trabalho foi realizada por alunos da disciplina Geografia do Turismo, da FFLCH. “O estudo abrangeu três aspectos principais: brasileiros retidos no exterior; cruzeiros mara­timos retidos pelo mundo e no Brasil, considerando casos de conta¡gio pela doença e medidas tomadas por organismos nacionais com vistas a  resolução de problemas que atingiram e atingem o setor do turismo, assim como perspectivas para o futuro”, relata.

A principal fonte de dados da pesquisa foram os sites oficiais da Organização Mundial do Turismo, Ministanãrio das Relações Exteriores e Embratur, além de sites de empresas, principalmente relacionadas aos cruzeiros. “Especificamente em relação aos brasileiros retidos no exterior, foi realizada uma busca ativa em redes sociais”, explica Rita. “A partir dessa busca, chegou-se a pessoas que concederam entrevistas por escrito ou gravadas. Além de um editorial escrito pelos alunos, um documenta¡rio em va­deo sobre o tema estãoem preparação.”

A segunda etapa estãoem andamento e envolve pesquisadores brasileiros de diferentes Instituições de Ensino Superior (IES) da Amaza´nia, Nordeste e Sudeste, além de pesquisadores brasileiros residentes no exterior (Portugal e Frana§a) e pesquisadores estrangeiros de Portugal, Argentina e Moa§ambique. “O objetivo seráavaliar quantitativa e qualitativamente os impactos da pandemia da covid-19 sobre os lugares (regiaµes e localidades no Brasil e no exterior), com vistas a uma análise comparativa que possa contribuir com a formulação de políticas públicas para o setor em diferentes escalas”, planeja Rita.


Turistas retidos

A pesquisa mapeou mais de 60 navios de cruzeiro retidos pelo mundo e contabilizou casos de contaminação por covid-19. “Os navios tornaram-se focos de conta¡gio e enfrentaram sanãrias dificuldades, sendo rejeitados por diferentespaíses, tendo que alterar seus percursos originais e, consequentemente, mantendo em seu interior milhares de pessoas cujo risco de conta¡gio foi indiscutivelmente aumentado”, destaca a professora. “Além disso, as tripulações desses navios, em grande parte jovens oriundos depaíses em desenvolvimento, foram duramente impactadas, dadas as condições nem sempre adequadas para o confinamento por longo tempo nas embarcações.”

“Meios de hospedagem buscam freneticamente adequar-se a s novas demandas por segurança sanita¡ria em suas instalações, visando a uma retomada, mesmo que lenta, das atividades a partir do segundo semestre deste ano”


Além de construir uma visão geral sobre a distribuição geogra¡fica de brasileiros retidos no exterior, o estudo apontou as dificuldades enfrentadas em relação ao retorno ao Brasil. “Nos voos internacionais, foi verificado o descaso de diversas companhias aanãreas com passageiros, o que inclui, entre outros problemas, ausaªncia completa de informações, venda de passagens e cancelamento de voos na sequaªncia”, ressalta Rita. “a‰ importante destacar, também, que trabalhadores dessas empresas, de pilotos a comissa¡rios de bordo, muitos contratados como pessoa jura­dica (PJ), foram dispensados sem remuneração.”

De acordo com a professora, o turismo no Brasil assim como em todo o mundo estão“congelado”, mas o Paa­s não se ressente do problema da mesma forma que outras nações, pois, de acordo com estudo realizado pela Fundação Getaºlio Vargas (FGV), o setor participa com cerca de 3,7% da composição do PIB nacional. “No entanto, quando são analisadas as escalas regional e local, hálocalidades com alta taxa de dependaªncia do turismo, seja em relação ao número de estabelecimentos comerciais ou de empregos no setor, por exemplo”, aponta. “Este éo caso de munica­pios litora¢neos paulistas e diversas outras localidades e regiaµes tura­sticas distribua­das pelo territa³rio nacional.”

O estudo mapeou as estratanãgias mobilizadas pelo Brasil e por outraspaíses em busca da minimização dos efeitos deletanãrios da crise sanita¡ria. “O turismo estãovetado por autoridades municipais em todo o Paa­s por razões a³bvias, ou seja, evitar a circulação geogra¡fica do va­rus. Entretanto, háuma campanha internacional, encampada pelo Ministanãrio do Turismo brasileiro, que pede aos viajantes para não cancelarem suas viagens e sim reprograma¡-las pra o futuro pra³ximo”, aponta Rita. “Operadoras de viagem e companhias aanãreas tem buscado soluções para a crise com base nessa perspectiva, tal como indica o acordo recente firmado entre Latam e Azul.”

“Meios de hospedagem buscam freneticamente adequar-se a s novas demandas por segurança sanita¡ria em suas instalações, visando a uma retomada, mesmo que lenta, das atividades a partir do segundo semestre deste ano”, conclui a professora. A primeira fase da pesquisa envolveu estudantes da disciplina de Geografia do Turismo, ministrada por Rita no primeiro semestre deste ano. A segunda fase, coordenada pela professora, com a colaboração da pa³s-doutoranda Simone Affonso da Silva, do Departamento de Geografia da FFLCH, envolve 60 pesquisadores de diferentes instituições de ensino superior brasileiras e estrangeiras.

 

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