Humanidades

Primeira infa¢ncia corre riscos com a pandemia, alertam pesquisadores
Documento traz alertas e orientações sobre os aspectos negativos do isolamento social no desenvolvimento infantil
Por Nikolas Guerreiro e Rita Stella - 02/07/2020


Arte: Moisanãs Dorado sobre fotos Nupps-USP, Cama¢ra Legislativa e Pref. Barueri

Interações positivas, afeto, boa alimentação e ambiente favora¡vel para descobertas. Considerados positivos para o desenvolvimento na primeira infa¢ncia, que vai do nascer aos seis anos de idade, esses fatores podem passar longe da realidade dessas criana§as. a‰ que asmudanças abruptas na convivaªncia familiar, impostas pela pandemia, podem repercutir de forma negativa no desenvolvimento infantil.

O alerta édos pesquisadores do Naºcleo Ciência Pela Infa¢ncia (NCPI), órgão financiado por instituições nacionais e estrangeiras que acabam de lana§ar, em edição especial, o documento Repercussaµes da Pandemia de COVID 19 no Desenvolvimento Infantil, com orientações para pais, responsa¡veis, profissionais e autoridades públicas.


Segundo as professoras da USP, o “distanciamento social tem acentuado ou feito
surgir algumas dificuldades funcionais e comportamentais nas criana§as”
Foto: David Mark / Pixabay

Integrantes do comitaª cienta­fico do NCPI, as professoras da Escola de Enfermagem de Ribeira£o Preto (EERP) da USP Danãbora Falleiros de Mello e Anna Maria Chiesa dizem que o “distanciamento social tem acentuado ou feito surgir algumas dificuldades funcionais e comportamentais nas criana§as”, e apontam estudos mostrando aumento da dependaªncia dos pais, desatenção, problemas de sono, falta de apetite e agitação entre as criana§as com o ini­cio da quarentena.

As pesquisadoras informam também outros efeitos ruins do isolamento social sobre a população infantil, como o aumento da violência doméstica. Os dados econa´micos do Instituto Brasileiro de Geografia e Estata­stica (IBGE) contam que 5,4 milhões de criana§as de 0 a 6 anos (28% do total) vivem em domica­lios pobres, com renda mensal abaixo de R$250,00. As professoras lembram ainda que, antes da pandemia, 34% das criana§as brasileiras de zero a três anos frequentavam creches e que 93% das entre quatro e cinco anos estavam na pré-escola.

Com a crise sanita¡ria e as intensasmudanças sociais, a equipe do NCPI acredita na disseminação do conhecimento cienta­fico e na “responsabilidade compartilhada da fama­lia, da comunidade, da iniciativa privada, da sociedade civil e do governo” como forma de promover o bem-estar e minimizar os efeitos negativos sobre o crescimento sauda¡vel das criana§as de zero a seis anos.

Rede de proteção social

E a preocupação com os riscos da pandemia sobre as criana§as deve ir além da ajuda econa´mica. De acordo com as pesquisadoras do NCPI os servia§os de assistaªncia social devem ser mobilizados para formar uma “rede de proteção que se mova rapidamente em direção a s fama­lias que mais precisam”. Acreditam que as políticas que atendem a s fama­lias de gestantes e menores de seis anos devam ser flexibilizadas para atender necessidades especa­ficas da primeira infa¢ncia.


A ciência considera, hoje, o período intrauterino e os primeiros anos vida essenciais para
o desenvolvimento fa­sico, emocional e cognitivo do futuro adulto–
Foto: Aamir Mohd Khan /Pixabay

Defendem ainda que o ensino remoto não seja utilizado para essas criana§as, seja por questãode saúde quanto por razões pedaga³gicas. Argumentam que elas aprendem “por meio de experiências concretas, interativas, laºdicas e integradoras de várias áreas do conhecimento” e que a exposição a s telas, sem interação real, deixa o aprendizado infantil fragmentado e descontextualizado.

A ciência considera, hoje, o período intrauterino e os primeiros anos vida essenciais para o desenvolvimento fa­sico, emocional e cognitivo do futuro adulto. Segundo os especialistas, nesse período o cérebro se desenvolve rapidamente, com formação e fortalecimento dos circuitos neurais facilitados por esta­mulo e relações afetivas. Essas informações apoiam o investimento de programas para a primeira infa¢ncia, como o realizado pelo NCPI.

 

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