Humanidades

Lições de James Baldwin sobre traição e esperana§a
Autor Eddie Glaude e estudioso Cornell West discutem novo livro contra o pano de fundo da revolta racial
Por Clea Simon - 03/07/2020


James Baldwin aos 37 anos.
Foto de Allan Frank / Creative Commons / Doma­nio paºblico

O falecido escritor e ativista James Baldwin era um homem revoltado. Furioso com o racismo nopaís e a homofobia de sua anãpoca, ele também ficou profundamente decepcionado com o Movimento dos Direitos Civis e com o que considerou sua oportunidade perdida de forçar a Amanãrica branca a enfrentar as mentiras que abraçava para manter seu senso de supremacia.

Poranãm, mais tarde em sua vida, seu pensamento evoluiu, Eddie S. Glaude Jr. argumenta em seu novo livro, "Begin Again: America de James Baldwin e suas lições urgentes para os nossos". E Baldwin viu alguma esperana§a de mudança.

Uma conversa on-line organizada pela editora sem fins lucrativos Haymarket Books reuniu na quarta-feira Glaude, o professor de Estudos Afro-Americanos James S. McDonnell University de Princeton, e Cornell R. West , professor de prática de filosofia pública na Harvard Divinity School, em um animado debate sobre as raa­zes e a releva¢ncia contemporâneados trabalhos produzidos por Baldwin, que morreu em 1987.

Respondendo a s perguntas iniciais do moderador e editor de manuscritos Haymarket, Maya Marshall - “Por que Baldwin? Porque agora?" - Glaude explicou que esse autor hámuito éconsiderado relevante na luta pela autodeterminação. Chamando Baldwin de "um negro estranho que falava uma espanãcie de verdade", ele o descreveu como um escritor que hámuito procurava "uma maneira diferente de ser no mundo".

A revolta pola­tica atual são tornou trabalhos como "Notas de um filho nativo", de 1955, e "The Fire Next Time", de 1963, mais pertinentes. Citando assassinatos pela pola­cia, supressão de eleitores e a ascensão do conservador Donald Trump após a eleição do primeiro presidente negro pelopaís, Glaude se referiu aos últimos anos como "um momento de profunda traição". Ele disse que sua resposta impulsionou seu trabalho, uma combinação de biografia, história e análise. "Eu queria voltar para Jimmy", disse Glaude. "Para ver como ele lidou com seu momento de traição."

No cerne dos escritos de Baldwin, Glaude e West concordaram, estãoo trauma, especificamente o trauma da escravida£o. O trabalho de Baldwin explora a lógica distorcida que tem sido usada para desumanizar os negros. Essa tentativa corrupta de justificação faz parte de um "andaime de mentiras" que "malforma qualquer esfora§o para expor opaís a  realidade do que ele fez", disse Glaude. a‰ uma reação que estãoem andamento: "Qualquer coisa que revele que a Amanãrica não éa cidade brilhante na colina éimediatamente descartada como heresia, deslegitimada desde o ina­cio".

Essa luta atéinfluenciou a forma narrativa de Baldwin, disse Glaude. Citando estudos psicola³gicos que mostram que "o trauma fragmenta como nos lembramos", ele disse: "Recordamos o que podemos e o que precisamos desesperadamente para nos manter juntos".

Para Baldwin, Glaude disse que as feridas eram profundamente pessoais. Além do racismo, Baldwin lidou com a homofobia e um a³dio a s vezes incapacitante, internalizado em parte por um padrasto abusivo. Apa³s o assassinato de 1968 do lider dos Direitos Civis Martin Luther King Jr., Baldwin entrou em colapso. “Ele mal consegue pegar as pea§as. Ele tenta cometer suica­dio ”, disse Glaude. No entanto, éentão que [[Baldwin] da¡ expressão a esta linha: 'A esperana§a éinventada todos os dias.' ”

West disse que a perseverana§a estava no coração do brilhantismo de Baldwin. Comparando o autor ao empresa¡rio de jazz John Coltrane e a  autora Maya Angelou, ele discutiu o confronto e o sofrimento de longa data, dizendo: "A parte traseira do medo éo amor". A honestidade de Baldwin em descrever o racismo também tornou seu trabalho universal. “Ele estãodizendo: 'Na³s blues pessoas, isso não énovidade para nós. Já estivemos aqui antes. a‰ uma coisa humana. Nãoéapenas uma coisa negra '”, disse West.

Glaude disse que escrever o livro exigia igual honestidade. "Eu sabia que [Baldwin] ia pedir coisas para mim", disse ele. “Vocaª precisa lidar com sua própria baguna§a. Vocaª precisa lidar com suas próprias feridas como pré-condição para lidar com a baguna§a do mundo.

O pra³prio Baldwin fez esse trabalho, disse Glaude. Enquanto a representação de seu padrasto por Baldwin é"contundente" em "Notas de um filho nativo", Glaude disse: "Pelos seus escritos posteriores, ele entende o que o mundo fez com ele".

Os dois estudiosos discordavam da opinia£o de Baldwin sobre a burguesia negra e os liberais negros. Enquanto West criticava muito o que via como uma reluta¢ncia em chamar a classe média negra para prestar contas, Glaude citou "A Evidaªncia de Coisas NãoVidas", de Baldwin, em 1985. Esse livro, sobre os assassinatos de criana§as em Atlanta, contanãm "exatamente a cra­tica que vocêestãoprocurando", disse ele.

"Os brancos não são objeto de consideração em 'Evidence'", disse ele. "O objetivo dessa cra­tica éa maneira pela qual o poder funciona, a maneira pela qual o capitalismo funciona e obtemos acesso a ele - e a supremacia branca ainda obtanãm".

Questionado sobre a hipa³tese do que Baldwin diria sobre a agitação atual, Glaude se referiu a uma entrevista que Baldwin deu a  revista Esquire em 1968. "Ele tem uma linguagem para falarmos no momento", disse Glaude. “Ele disse: 'Eu não diria a eles para não pegar suas armas. Eu não diria a eles para não brigarem. Eu diria a eles: 'e estou parafraseando:' Se vocêvai matar aquele homem branco, não o odeie. O a³dio corroera¡ a alma.

"No coração do projeto de Jimmy estãouma preocupação moral", concluiu Glaude. “Quem nos consideramos ser? Quem aspiramos ser? Lute atéo seu último suspiro. Mas faz isso em nome do amor.

 

.
.

Leia mais a seguir