Humanidades

Palavras invisa­veis dos autores revelam projeto para contar histórias
Em estudo publicado na Science Advances , pesquisadores registraram o uso de tais palavras em milhares de histórias ficta­cias e não ficcionais, mapeando um projeto universal para a narrativa.
Por Universidade do Texas - 07/08/2020


Pixabay

As palavras "invisa­veis" que moldaram os cla¡ssicos de Dickens também conduzem o paºblico atravanãs dos dramas de Spielberg. E, de acordo com novas pesquisas, essas pequenas palavras podem ser encontradas em um padrãosemelhante na maioria das histórias, independentemente do tamanho ou formato.

Ao contar uma história, palavras comuns, mas invisa­veis - a, the, it - são usadas de certas maneiras e em certos momentos. Em um estudo publicado na Science Advances , pesquisadores da Universidade do Texas em Austin e da Lancaster University em Lancaster, Reino Unido, registraram o uso de tais palavras em milhares de histórias ficta­cias e não ficcionais, mapeando um projeto universal para a narrativa.

"Todos nostemos um senso intuitivo do que define uma história. Atéagora, ninguanãm foi capaz de ver ou medir objetivamente os componentes de uma história", disse o coautor do estudo e pesquisador de psicologia da UT Austin, Jamie Pennebaker.

Em uma análise computacional de quase 40.000 narrativas ficcionais, incluindo romances e dia¡logos de filmes, os pesquisadores acompanharam o uso de pronomes (ela, eles), artigos (a, the) e outras palavras curtas dos autores, revelando uma "curva narrativa" consistente.

1. Encenação: as histórias comea§am com muitas preposições e artigos como "a" e "o". Por exemplo, "A casa ficava próxima ao lago, abaixo de um penhasco". Essas palavras ajudam os autores a definir o cena¡rio e transmitir as informações mais ba¡sicas de que o paºblico precisa para entender conceitos e relacionamentos ao longo da história.

2. Progressão do enredo: Uma vez que o palco estãomontado, os autores incorporam mais e mais linguagem interacional, incluindo verbos auxiliares, advanãrbios e pronomes. Por exemplo, "a casa" torna-se "sua casa" ou "isso".

3. Tensão cognitiva: Amedida que a história avana§a em direção ao cla­max, aumentam as palavras do processamento cognitivo - palavras do tipo ação, como "pensar", "acreditar", "entender" e "causar", que refletem o processo de pensamento de uma pessoa enquanto trabalha. atravanãs de um conflito.

Esse padrãolingua­stico combinado nas histórias pode refletir como os humanos processam as informações de maneira ideal, disseram os pesquisadores. Estudos anteriores mostraram que criana§as pequenas podem facilmente atribuir nomes a pessoas e coisas; atribuir ação, no entanto, mostra-se mais difa­cil.

"Se quisermos nos conectar com um paºblico, temos que avaliar quais informações eles precisam, mas ainda não tem", disse o autor do estudo, Ryan Boyd, ex-aluno da UT Austin e professor assistente de análise comportamental na Universidade Lancaster. "Nonívelmais fundamental, os humanos precisam de uma enxurrada de 'linguagem lógica' no ini­cio de uma história para dar sentido a ela, seguido por um fluxo crescente de informações de 'ação' para transmitir o enredo real da história."
 
A equipe de pesquisa comparou a estrutura de história ficta­cia estabelecida com mais de 30.000 textos factuais, incluindo 28.664 artigos do New York Times, 2.226 TED Talks e 1.580 opiniaµes da Suprema Corte. Embora muitos compartilhassem semelhanças marcantes, cada gaªnero tinha estruturas únicas que refletiam as diferentes relações entre os autores e seu paºblico.

"Pegue o TED Talks, por exemplo. Eles geralmente mostram o mesmo padra£o, exceto no final, onde o aspecto de tensão cognitiva das histórias continua a subir com palavras como 'pense' ou 'porque'", disse a coautora do estudo Kate Blackburn, bolsista de pa³s-doutorado na UT Austin. "Isso faz todo o sentido. O objetivo do TED Talk éinspirar e deixar o paºblico questionando o que acabou de ouvir do palestrante. Nesse sentido, parece que podemos explorar a estrutura de outras formas de contar histórias, como se pudanãssemos identificar a impressão digital dessa história . "

 

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