Em livro, professor da Fafich coteja Wittgenstein com Nietzsche, Maquiavel, Fleck, Kuhn e Koyranã
Obra de Mauro Condébusca dar “respostas wittgensteinianas†a s questões filosãoficas sobre o que sejam uma “teoria da ciaªncia†e uma “teoria da históriaâ€

WITTGENSTEIN E OS FILa“SOFOS: SEMELHANa‡AS DE FAMaLIA
MAURO LašCIO LEITaƒO CONDa‰ - Reprodução
Meio a pandemia, algumas notacias do grande universo de produção de conhecimento que éa UFMG não diretamente relacionadas com o novo coronavarus acabam passando despercebidas. Uma delas foi a publicação nas últimas semanas do livro Wittgenstein e os fila³sofos: "Semelhana§as de famalia", Mauro Laºcio Leitão Condanã, professor do Departamento de Hista³ria da Faculdade de Filosofia e Ciências Humanas (Fafich).
Na coleta¢nea, que reaºne capatulos de livros e artigos publicados em diferentes livros e revistas entre 1993 e 2018, o especialista em epistemologia e história da ciência busca dar “respostas wittgensteinianas†a s questões filosãoficas sobre o que sejam uma “teoria da ciaªncia†e uma “teoria da históriaâ€, atacando, para isso, noções wittgensteinianas fundamentais, como “forma de vidaâ€, “jogos de linguagemâ€, “semelhanças de famalia†e “grama¡ticaâ€.
“Sempre vi em Wittgenstein uma possibilidade de ler outros autores ou de lidar com diferentes problemas filosãoficos. Em certo sentido, tornei-me um ‘usua¡rio’ do pensamento de Wittgenstein: a partir do autor, procurei explorar problemas filosãoficos osnão necessariamente os mesmos abordados por ele osou contrapor sua filosofia a s de outros pensadores com a finalidade de elucidar tais problemasâ€, explica o autor.
O livro tem sete capatulos. Nos dois primeiros, Mauro trata da “grama¡tica da ciaªncia†e da “grama¡tica da históriaâ€. Nos três seguintes, aborda as aproximações e os distanciamentos do pensamento de Ludwig Wittgenstein (1889-1951) com os postulados de Ludwik Fleck (1896-1961), Thomas Kuhn (1922-1996) e Alexandre Koyré(1892-1964), visando avana§ar na reflexa£o sobre problemas de história e filosofia da ciência Nos dois últimos capatulos, Mauro coteja o fila³sofo austraaco com Friedrich Nietzsche (1844-1900) e Nicolau Maquiavel (1469-1527), usando como pano de fundo para essa aproximação a cratica a racionalidade ocidental.
Mauro Condanã: "usua¡rio" do pensamento de Wittgenstein
Foca Lisboa / UFMG
Reconhecer o alvo, em vez da flecha
No prefa¡cio da obra, o fila³sofo Wagner Teles de Oliveira, professor da Universidade Estadual de Feira de Santana (UEFS), lembra que em Sobre a certeza, um dos seus últimos textos, Wittgenstein disse acreditar que suas anotações interessariam sobretudo a alguém capaz de pensa¡-las por si pra³prio, pois, independentemente de ele ter “acertado em cheioâ€, alguém assim estaria em condições de reconhecer “o alvo no qual ele mirouâ€. Segundo Wagner, éexatamente isso o que Mauro Condéfaz em seu livro.
"Ao longo de seus ensaios, o autor formula questões e respostas em sintonia com as interrogações filosãoficas da obra wittgensteiniana, mas que não ganharam expressão nela. Nãoanã, portanto, exatamente o pensamento de Wittgenstein que orienta a narrativa, mas o do pra³prio autor, o que se reflete sobretudo na escolha de questões e em sua diversidade, que da£o forma a s preocupações filosãoficas que atravessam o livro.â€
Para Wagner Oliveira, a potaªncia do volume estãojustamente em fazer a obra de Wittgenstein “ser experimentada em domanios que não são exatamente os que ela construiu para habitar†e pronunciar-se sobre questões que, ao seu tempo, ela não tematizou. Essa “aproximação do pensamento de Wittgenstein de universos filosãoficos alheios cumpre o propa³sito de esclarecaª-los mutuamenteâ€, segundo Wagner, mas “preservando a autonomia de ambosâ€. “Em conjunto, os ensaios mostram, sem que precisem se pronunciar a respeito, que seguir a rota desenhada pela reflexa£o de Wittgenstein pode ter o efeito paradoxal de caminhar para fora dos muros da obra que ela própria constituiâ€, anota o apresentador.
O autor
Professor de Hista³ria da Ciência na UFMG, Mauro Laºcio Leitão Condéédoutor em filosofia pela própria Universidade, com esta¡gios de pa³s-doutorado na Universidade de Boston, nos EUA, na Universidade de Viena, na austria, e na Universidade de Sa£o Paulo (USP). Já lançou, entre outros volumes, Um papel para a história: o problema da historicidade da ciência