Humanidades

A filosofia da COVID-19: émesmo possí­vel fazer a 'coisa certa'?
a‰ certo privar as pessoas de sua liberdade ou não; ditar o comportamento pessoal ou não; fechar fronteiras ou não; para proteger a vida ou o serviço de saúde ou a economia, ou não?
Por Oxford - 26/08/2020


Crédito: Shutterstock Nãoháuma única resposta. Mesmo que uma decisão acabe mal - isso não significa que seja a decisão errada a ser tomada naquele momento

Nos últimos seis meses, em todos ospaíses, em todos os continentes, pola­ticos, legisladores e cientistas foram convulsionados por tentar localizar e, em seguida, fazer a 'coisa certa' em face do COVID-19 - e muitas vezes, aparentemente, eles tem tem falhado.

Pela primeira vez, em muito tempo, as considerações filosãoficas se tornaram o assunto do debate pola­tico e da conversa cotidiana. a‰ certo privar as pessoas de sua liberdade ou não; ditar o comportamento pessoal ou não; fechar fronteiras ou não; para proteger a vida ou o serviço de saúde ou a economia, ou não?

"Pela primeira vez, em muito tempo, as considerações filosãoficas se tornaram o assunto do debate pola­tico e da conversa cotidiana ... O mundo parece bloqueado por considerações anãticas: existe uma coisa certa e, se sim, o que anã? "


O mundo parece bloqueado por considerações anãticas: existe uma coisa certa e, em caso afirmativo, o que anã? Estas não são questões do dia-a-dia, pois a maioria das pessoas e muitos pola­ticos em particular são acusados ​​de ter feito coisas erradas, tomado decisaµes erradas. Mas o Professor de a‰tica Manãdica de Oxford, (Dr) Dominic Wilkinson, éalguém para quem essas são questões cotidianas e ele não se apressa em julga¡-las. Ele diz: 'A filosofia pode ajudar a informar o que devemos fazer, dado o que sabemos.'

O problema anã, diz o professor Wilkinson, os "fatos" parecem ter mudado em termos de nossa compreensão do COVID-19 com o passar do tempo. O que sabemos agora, em comparação com o que saba­amos atétrês meses atrás, émuito diferente. E, diz o professor Wilkinson, 'Vocaª não poderia tomar decisaµes com base no que vocênão sabia. Vocaª são pode tomar decisaµes [e ser julgado] pelo que era razoa¡vel fazer em um determinado momento ... Vocaª pode olhar para trás em dois, cinco ou dez anos e ver como as coisas aconteceram. Mas mesmo que uma decisão acabe mal - isso não significa que seja a decisão errada a ser tomada naquele momento. '

'Consequencialismo', como éconhecido em filosofia, recomenda considerar o que vira¡ (as consequaªncias) quando vocêtomar uma decisão. Vocaª considera o que vai (ou pode) acontecer se vocêtomar certas ações. E por causa das imperfeições de nosso entendimento, o professor Wilkinson diz: 'a€s vezes vocêprecisa tomar uma decisão de boa fanã'.

Claramente, devido a  multiplicidade de abordagens em todo o mundo para a pandemia, diferentes governos e formuladores de políticas chegaram a diferentes conclusaµes - tanto sobre a 'coisa certa' a fazer quanto a coisa certa a se considerar ao tomar essas decisaµes. A maioria, senão todos, tera¡ procurado preservar a vida. Mas vida de quem? Um doente de COVID, um paciente com ca¢ncer, uma pessoa que perde o emprego? E, misturadas a  pergunta, havia outras considerações: devemos priorizar salvar o NHS e achatar a curva sobre a liberdade individual - e isso, de qualquer maneira, alcana§aria o objetivo abrangente de preservar a vida?

Um canard que caiu no debate foi a noção de que os pola­ticos estãoapenas "seguindo a ciaªncia". Embora amado pelos formuladores de políticas, o professor Wilkinson insiste que a ciência não pode tomar decisaµes políticas: 'Em alguns casos limitados, pode ser eticamente a³bvio qual conclusão deve seguir de' seguir a ciência '. Mas com um va­rus novo, não éesse o caso .... '

"Um canard que caiu no debate foi a noção de que os pola­ticos estãoapenas "seguindo a ciaªncia". Embora amado pelos formuladores de políticas, o professor Wilkinson insiste que a ciência não pode tomar decisaµes políticas: 'Em alguns casos limitados, pode ser eticamente a³bvio qual conclusão deve seguir de' seguir a ciência '. Mas com um va­rus novo, não éesse o caso .... '


Ele acrescenta: 'As decisaµes envolvem valores ... Pode haver uma resposta anãtica a³bvia para uma questãodireta. Mas quando vocêestãotomando uma decisão anãtica e pola­tica, todos os tipos de valores diferentes estãoem jogo - como proteger o bem-estar das pessoas com COVID ou dos desempregados ou de alguém com ca¢ncer.

“A ciência não pode nos dizer em quais valores devemos colocar peso. Estas são decisaµes anãticas - não cienta­ficas ... Além do mais, a ciência éconfusa e complicada e muitas vezes diz coisas diferentes e a ciência ira¡ evoluir com o tempo. '

Então, como entendemos as tentativas dospaíses de combater a pandemia? Alguanãm estãofazendo a coisa certa? De acordo com o professor Wilkinson, 'Nãoexiste uma única resposta certa, depende de como vocêpondera suas escolhas. Vocaª precisa distinguir entre várias coisas. '

"Isso significa, então, que todas as decisaµes são igualmente va¡lidas ...? Na£o, diz o professor Wilkinson, 'O contexto éimportante ... Fila³sofos, rejeitam justificadamente a ideia do relativismo anãtico. Pode ser difa­cil descobrir a abordagem certa e razoa¡vel, mas definitivamente existem escolhas erradas"


Isso significa, então, que todas as decisaµes são igualmente va¡lidas - outro ponto de vista filosãofico: 'relativismo'? Na£o, diz o professor Wilkinson, 'O contexto éimportante, o que pode ser a coisa certa no Reino Unido ou nos Estados Unidos pode não ser a coisa certa em outro lugar. Mas isso não significa que seja apenas uma questãode opinia£o. Fila³sofos, rejeitam justificadamente a ideia do relativismo anãtico. Pode ser difa­cil descobrir a abordagem certa e razoa¡vel, mas definitivamente existem escolhas erradas. '

Por exemplo, o professor Wilkinson, que também éum médico qualificado, diz que 'recomendar intervenções baseadas em evidaªncias', como cloroquina ou alvejante, pode ser visto como escolhas 'moralmente erradas'. Mas ele diz: 'Todos noscometeremos erros. Existem algumas coisas, poranãm, que não são apenas uma questãode opinia£o de alguém . '

Em algum momento no futuro, quando a pandemia e as decisaµes políticas forem revisadas e a culpa for distribua­da, pode ser possí­vel olhar para trás e dizer que algumas decisaµes foram tomadas de boa fanã, dado o conhecimento da anãpoca, mesmo que custem vidas - enquanto isso, outros parecera£o errados.

Consistaªncia, diz o professor Wilkinson, éa chave para a tomada de decisão anãtica. Onde governos e pola­ticos não mostram consistaªncia, torna-se difa­cil justificar decisaµes. Mas isso significa, doravante, que todo o propa³sito da sociedade deve ser voltado para a preservação da vida - nossa renda nacional deve ser inteiramente voltada para a cura do ca¢ncer?

"Em algum momento no futuro, quando ... a culpa for distribua­da, pode ser possí­vel olhar para trás e dizer que algumas decisaµes foram tomadas de boa fanã, dado o conhecimento da anãpoca, mesmo que custem vidas - enquanto isso, outras ira£o parece errado"


“Na£o”, diz o professor Wilkinson. 'Saba­amos que o COVID era diferente da gripe [e precisava ser abordado de forma diferente]. Mas esta éuma nova epidemia, e não uma condição endaªmica (como mala¡ria ou tuberculose) e, portanto, justifica-se trata¡-la de uma forma diferente da forma como tratamos outras ameaa§as a  saúde. '

A chave para o tratamento da COVID-19, diz ele, era o fato de que muitas pessoas não se sentiriam bem ao mesmo tempo, enquanto o câncer éuma ameaça de longa data que não ira¡ embora. Mas, com o medo de uma segunda onda chegando, diz o professor Wilkinson, os formuladores de políticas em breve tera£o um conjunto diferente de decisaµes, uma vez que "pode ​​não ser possí­vel" politicamente tomar as mesmas ações novamente em face de um va­rus renovado. Com o aumento das preocupações sobre o impacto na economia e a reluta¢ncia de muitos jovens em serem contidos, a prioridade, diz ele, deve ser "salvar vidas". Mas o mero número de vidas salvas não éa única coisa que importa. 'Vocaª precisa considerar a duração da vida e como as vidas da população são diminua­das [por medidas de intervenção].'

Essas são perguntas difa­ceis para qualquer um, inclusive para os pola­ticos. Nãose trata apenas de 'seguir a ciaªncia', 'trata-se de tomar uma decisão anãtica sobre o que pode acontecer. E as decisaµes anãticas podem estar erradas '. Houve pouco tempo ou oportunidade para reflexa£o, mas diz o professor Wilkinson, 'Os pola­ticos tem que equilibrar uma sanãrie de prioridades, pensar seriamente sobre como agir.'

Se os pola­ticos modernos estãoequipados para tais considerações, não éalgo sobre o qual um bom fila³sofo arriscaria uma opinia£o. Mas a confianção éessencial, diz o professor Wilkinson, 'Questaµes de credibilidade surgem quando háinconsistaªncia. Exigimos de nossos pola­ticos um alto padra£o. '

"Se os pola­ticos modernos estãoequipados para tais considerações, não éalgo sobre o qual um bom fila³sofo arriscaria uma opinia£o. Mas a confianção éessencial, diz o professor Wilkinson, 'Questaµes de credibilidade surgem quando háinconsistaªncia. Exigimos de nossos pola­ticos um alto padra£o"


Desde o ini­cio da crise, houve comparações frequentes com a guerra civil. Do ponto de vista filosãofico, levanta questões semelhantes: 'Vocaª deve equilibrar os custos e enfrentar as questões anãticas da mesma forma ... Existem muitos paralelos com as questões profundas e difa­ceis que ospaíses enfrentam quando estãoem guerra. '

Quando tudo isso acabar, havera¡ o novo mundo, o novo normal de que tanto se ouve? Como médico, o professor Wilkinson acredita que poderia haver: 'Muitas pessoas que enfrentaram doenças graves refletem sobre suas prioridades ... isso ajuda a colocar suas vidas em perspectiva.'

Mas, ele diz, 'O momento mais complicado ainda estãopor vir. Podemos estar enfrentando algo pior do que a primeira onda e precisaremos tomar decisaµes sobre coisas como quem toma a vacina primeiro ... hámuito mais decisaµes anãticas do que apenas o bloqueio. Nãosabemos ainda o que as pessoas ira£o tolerar - o que fara£o. '

O jogo da culpa ainda tem um longo caminho a percorrer - especialmente para aqueles cujas decisaµes não resistem a um escruta­nio.

 

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