Humanidades

Ajudando professores e diretores a enfrentar seu pra³prio racismo
Novo livro aumenta a consciência do preconceito inconsciente e seu efeito sobre os alunos de cor
Por Liz Mineo - 31/08/2020


"Se os lideres escolares não fizerem nada para lidar com o racismo nas escolas, isso seria equivalente a continuar a opressão", disse Tracey Benson, Ed.LD '16 - Foto de Stephanie Zollshan / Berkshire Eagle

Quando Sarah Fiarman e Tracey Benson se conheceram em 2014 como instrutores de classe na Escola de Pa³s - Graduação em Educação (GSE), eles se uniram por causa de sua experiência comum como ex-diretores de escola e seu desejo comum de combater o racismo nas escolas. Fiarman, Ed.D. '09, e Benson, Ed.LD '16, co-escreveram o livro “Unconscious Bias in Schools: A Developmental Approach to Exploring Race and Racism”, baseando-se em suas experiências como diretores em escolas públicas de Massachusetts. Eles estavam programados para discutir seu novo trabalho na Ed School no final de abril, mas o evento foi cancelado devido a  pandemia. Os autores via Zoom falaram sobre o projeto e a necessidade de educadores e dirigentes escolares iniciarem conversas sobre raça e abordar o racismo nas escolas.

Entrevista
Sarah Fiarman e Tracey Benson


Qua£o disseminado foi o racismo nas escolas em que vocêtrabalhou como professor ou diretor?

BENSON: Eu vi isso o tempo todo. Acontece o dia todo, todos os dias. Acontece nos corredores, nas salas de aula e em todo o sistema. Alguns dos exemplos mais va­vidos que vi aconteceram quando eu fazia observações em sala de aula. Observamos a raça e o gaªnero dos alunos e vemos o quanto eles participam e o quanto são redirecionados. Se for uma sala de aula multirracial e se houver mais homens brancos, háuma preferaªncia pela participação de homens brancos. Um exemplo particular aconteceu quando eu estava observando uma aula de matemática, e percebi que a professora estava voltada para uma direção que na verdade cortou os alunos pretos e pardos de sua visão perifanãrica, sem querer e sem saber. Quando chamei a atenção da professora, ela ficou chocada e mudou de comportamento, mas ela estava, na verdade, selecionando homens e mulheres brancos mais do que alunos negros e pardos para participar da sala de aula. Acontece também com o redirecionamento de alunos. Os alunos pretos e pardos tendem a ser redirecionados para os mesmos comportamentos para os quais os alunos brancos não são redirecionados; eles são policiados mais na sala de aula, nos corredores ou no recreio. Essas manifestações acontecem todos os dias. Eles estãoabaixo donívelde consciência, mas éalgo que definitivamente afeta o clima racial do prédio da escola.

FIARMAN: O que eu tive que aprender éque mesmo nos- incluindo eu - com todas as melhores intenções ainda podemos inconscientemente rebaixar nossos padraµes para alunos negros ou ser mais cra­ticos com os pais negros ou pardos. Ha¡ um preconceito racial inconsciente em aspectos grandes e pequenos em todas as escolas em que trabalhei, exemplos que tomados individualmente podem parecer problemas menores, mas tomados coletivamente podem ter causado uma quantidade enorme de danos aos nossos alunos negros e pardos.

Existem também todos os tipos de coisas ina³cuas, como quando nós, como educadores, estamos revisando e interpretando dados sobre os alunos, porque a maneira como fazemos ambos mostra nossos preconceitos. Por exemplo, quando os alunos negros não estãolendo nonívelda sanãrie, muitas vezes vera­amos esses dados com um senso de resignação não intencional ou não reconhecido. Muitas vezes, tanto como professor quanto como diretor, concentrei-me na remediação como a solução, como se houvesse algo errado com nossos alunos, em vez de ver esses dados como um reflexo de algo que precisa¡vamos corrigir em nossa prática fundamental.

Eu também tive um toque de alerta muito distinto quando estava ensinando alunos de pós-graduação. Eu estava preocupado que alguns alunos negros estivessem tendo conversas paralelas enquanto eu falava, e compartilhei minha preocupação com Tracey. Ele disse que tinha quase certeza de que havia alunos brancos em minha classe fazendo a mesma coisa. Passei por todo esse processo de me sentir tanto defensivo quanto ofendido por Tracey ter sugerido que eu estava tratando os alunos de maneira diferente com base na raça. Mas voltei para minha sala de aula e percebi que Tracey estava certa; havia alunos brancos tendo conversas paralelas e eu tinha visto esse comportamento sem preocupação, enquanto eu via o mesmo comportamento exato de alunos negros com preocupação e com o desejo de acompanhar as consequaªncias.

Sarah Fiarman cumprimentando uma criana§a.
Ao co-escrever "Unconscious Bias in Schools", Sarah Fiarman, Ed.D. '09,
(foto) se baseou em sua experiência como diretora de escola.
Foto de Erica Modugno

Qual foi sua motivação ao escrever este livro?

FIARMAN: Eu estava confiante de que me preocupava com meus alunos, que estava profundamente comprometido com resultados equitativos para todos eles e com o sucesso acadêmico de meus alunos negros e pardos. Mas eu vi evidaªncias de que eu estava, como disse Tracey, favorecendo os alunos brancos e vendo os alunos negros e pardos como mais suspeitos e menos capazes. E quando eu vi essa evidência em mim mesma, senti uma enorme urgência de divulgar a palavra aos lideres escolares que são professores importantes que se parecem comigo e que imagino se preocuparem com as criana§as e querem garantir resultados mais justos, mas podem estar causando danos porque dos preconceitos inconscientes não examinados que estãoinfluenciando nosso comportamento todos os dias. Sinto a responsabilidade pessoal de compartilhar minha parte da história.

BENSON: Para mim, veio de uma frustração imensa. Como um aluno negro que frequentou uma escola predominantemente branca, eu experimentei racismo muito intenso e aberto e também racismo não intencional dos professores, por ser colocado em classes que não eram as classes avana§adas, embora eu fosse inteligente. E nenhum dos meus colegas Black foi visto como inteligente.

Desde muito jovem entendi o que era o racismo e como me afetava, embora não tivesse a la­ngua. Enquanto subia do ensino fundamental, manãdio, manãdio e superior, continuei a vivenciar o racismo intenso de meus instrutores. Quando tive a oportunidade de me tornar um diretor, vi o mesmo comportamento de meus professores brancos em relação aos alunos negros e pardos e, na verdade, fizmudanças para os alunos de cor, mas nunca abordando diretamente o racismo. Escrevi o livro porque tive as experiências de um aluno que havia lidado com o racismo, mas também, como diretor, queria ajudar diretores e lideres distritais a falar diretamente sobre o impacto do racismo e nomea¡-lo como deveria ser .

Que desafios os lideres escolares enfrentam para iniciar conversas sobre raça nas escolas e o que eles podem fazer para supera¡-los?

BENSON: O maior problema com o qual temos que lidar éo direito ao conforto racial, especialmente com professores brancos, diretores, professores e brancos em todos os na­veis. Os brancos tem um limiar muito baixo de desconforto racial. Para realmente mergulhar na complexidade do racismo, recebemos muitas cra­ticas, porque os brancos se sentem desconforta¡veis ​​em falar sobre raça porque simplesmente não tem experiência. Precisamos comea§ar em umnívelmuito baixo porque, se forçarmos muito, eles ficara£o inquietos e havera¡ muita resistência. O conforto racial dos brancos, juntamente com a arroga¢ncia racial dos brancos, éalgo sobre o qual Robin DiAngelo fala em seu livro "Fragilidade Branca". Muitos brancos, especialmente depois dos protestos de George Floyd e da avaliação nacional em torno do racismo, sentem que precisam fazer algo, mas não entendem que tem umnívelde alfabetização racial muito baixo. Algumas pessoas correm para fazer uma declaração em seu site ou pa¡gina de ma­dia social, ou podem derrubar um monumento, mas essas são intervenções muito superficiais; o verdadeiro trabalho éentender a profundidade do racismo e como ele afeta a sociedade em geral e as pessoas de cor. Temos que lutar contra a propensão de os brancos quererem fazer algo agora e voltar para a alfabetização racial. Temos que abordar isso de uma maneira que todos estejamos em um continuum de aprendizagem racial, e que existem pessoas por aa­ que não tem conhecimento suficiente sobre como o racismo os afeta e como eles o promovem, mesmo inadvertidamente. o verdadeiro trabalho éentender a profundidade do racismo e como ele afeta a sociedade em geral e as pessoas de cor. Temos que lutar contra a propensão de os brancos quererem fazer algo agora e voltar para a alfabetização racial. Temos que abordar isso de uma maneira que todos estejamos em um continuum de aprendizagem racial, e que existem pessoas por aa­ que não tem conhecimento suficiente sobre como o racismo os afeta e como eles o promovem, mesmo inadvertidamente. o verdadeiro trabalho éentender a profundidade do racismo e como ele afeta a sociedade em geral e as pessoas de cor. Temos que lutar contra a propensão de os brancos quererem fazer algo agora e voltar para a alfabetização racial. Temos que abordar isso de forma que todos estejamos em um continuum de aprendizagem racial, e que haja pessoas por aa­ que não tem conhecimento suficiente sobre como o racismo os afeta e como eles o promovem, mesmo inadvertidamente.

FIARMAN: Alguns dos desafios que nos estimularam a escrever este livro ocorreram quando trabalhamos com alunos de pós-graduação que eram aspirantes a diretor. Muitos alunos tinham um desejo profundo de praticar o anti-racismo na liderana§a de sua escola e se sentiam frustrados por causa de seu pra³prio desconforto ou por medo de rebatidas de professores brancos, que normalmente se sentem incomodados com conversas sobre raça. Para nós, a maneira de superar esses desafios éparar de pensar no racismo como uma questãode cara¡ter pessoal, que imediatamente coloca as pessoas na defensiva e interrompe as conversas rapidamente e, em vez disso, pensar nisso como um processo inconsciente em que todos estamos envolvidos em, onde todos nosabsorvemos o racismo. Na verdade, trata-se de ajudar a desenvolver habilidades para os lideres criarem as condições para que as pessoas sejam capazes de nomear a raça na escola em ambientes mestia§os e entender preconceitos raciais e como eles estãodesconectados do cara¡ter e da intenção. Queremos ajudar os lideres escolares a desenvolver habilidades em torno da compreensão do racismo da mesma forma que educadores aprendem habilidades em torno da aprendizagem social e emocional ou da alfabetização.

Qual éa melhor abordagem para iniciar conversas sobre raça nas escolas? E quais são as consequaªncias de não fazer nada?

FIARMAN: Acho que a maneira mais importante de comea§ar éreconhecer que este éum trabalho para toda a vida, e não um trabalho tanãcnico; éum trabalho realmente adaptativo. Os lideres brancos, em particular, precisam adotar uma postura real de humildade racial para entender que geralmente somos a maior barreira para nosso pra³prio progresso. Quanto mais pudermos entender que não sabemos o que não sabemos, mais seremos capazes de nos ajudar a alcana§ar nossas intenções de ser lideres anti-racistas.

A consequaªncia de não fazer nada éperpetuar um sistema que nega sistematicamente aos alunos negros e pardos o acesso a uma educação de qualidade e a uma vida plena. Tambanãm estara­amos ensinando alunos brancos a manter os mesmos preconceitos que estãoatualmente impedindo seus pares pretos e pardos. Em outras palavras, estamos reforçando as estruturas que garantira£o que os alunos e adultos negros e pardos continuem a ser tratados como menos do que totalmente humanos. Esta éuma questãofundamentalmente moral, para todos nose para os brancos em particular. Todos os dias em que fico complacente com o fato de que meus vizinhos negros e pardos e outros membros da comunidade estãotendo seus direitos negados enquanto eu me concedo os meus, éum dia em que não vivo em plena integridade moral.

BENSON: A melhor maneira de iniciar a conversa sobre raça e racismo nas escolas éaumentar a competaªncia racial. As pessoas geralmente perdem o rumo quando conversam sem objetivo e objetivo; eles contratara£o um consultor que geralmente énegro ou pardo para falar com a equipe, presumindo que uma palestra mudara¡ o comportamento. Isso simplesmente não éverdade. Os lideres escolares precisam buscar apoio para aumentar a competaªncia racial; eles podem trabalhar com um consultor para decidir o que estãofazendo e por que estãofazendo e, em seguida, seguir em frente. Esse deve ser o objetivo principal. Ha¡ uma grande vontade de ser visto como anti-racista, e isso éum grande problema porque queremos fazer algo para dizer que estamos fazendo algo.

Se os lideres escolares não fizerem nada para lidar com o racismo nas escolas, isso equivaleria a continuar a opressão. Isso éalgo que temos feito, por exemplo, quando aceitamos que criana§as negras e pardas não conseguem alcana§ar tão bem quanto criana§as brancas, o que éuma fala¡cia. E ainda assim, criamos como parte de nossa consciência coletiva que isso énormal. Atéaceitamos termos como “canal de escola para prisão” ou “lacuna de desempenho” como se fosse normal. Sa³ porque a cor da sua pele émorena não significa que vocêseja menos capaz ou competente. Agora que chegamos a  conclusão de que a brutalidade policial estãoenraizada no racismo hista³rico e estrutural, o que significa que, se a cor da sua pele for negra ou morena, émais prova¡vel que vocêseja detido e brutalizado por policiais. Precisamos transferir esse mesmo pensamento para as escolas. Ha¡ um racismo intenso dentro das paredes da escola, desde o jardim de infa¢ncia atéa faculdade e pós-graduação. Os resultados que os alunos negros e pardos vivenciam estãoespecificamente ligados ao racismo hista³rico e estrutural em nossa vida cotidiana. Assim que pudermos vincula¡-lo a isso, podemos comea§ar a resolver o problema.

Que impacto vocêespera que seu livro possa ter neste momento de avaliação nacional da injustia§a racial?

FIARMAN: Sinto-me realmente encorajado que haja tanto interesse de tantos educadores em entender que parte de seu trabalho éentender o racismo e abordar o racismo em suas escolas. Estou falando predominantemente sobre professores brancos porque acho que a maioria dos professores negros entende o racismo em umnívelfundamental.

Nosso livro não éum manual com um conjunto de etapas que as pessoas precisam seguir. Quera­amos deliberadamente apresentar os maiores desafios adaptativos que as pessoas precisam enfrentar para combater o racismo na escola. Minha esperana§a éque os lideres escolares pegem algumas novas ferramentas para enquadrar essa questãocomo um processo de desenvolvimento, não um processo de culpa, e usem o conceito de "preconceito inconsciente" como um ponto de entrada para professores que muitas vezes se fecham nas conversas sobre raça.

BENSON: Escrevi meu primeiro estudo de caso em 2015, quando Michael Brown foi morto em Ferguson, e hálgum tempo escrevo estudos de caso sobre a brutalidade policial. Pessoas escreveram iterações de nosso livro ao longo dos últimos 40 anos com ta­tulos diferentes. Na verdade, não estamos dizendo nada de novo. Mas, neste momento de despertar racial, nosso livro fornece ferramentas para professores e lideres escolares em todo o mundo fazerem sua parte na luta contra o racismo. Minha esperana§a éque as pessoas possam pegar uma ou duas estratanãgias e implementa¡-las em sala de aula, porque isso pode realmente mudar os resultados para alunos negros e pardos.

Finalmente, o que vocêgostaria que professores e diretores de escolas, administradores e também pais tirassem de seu livro?

BENSON: Quero que as pessoas entendam que o racismo éreal, e que os resultados da­spares no desempenho, frequência e comportamento dos alunos estãoligados aos vesta­gios de racismo nas escolas. Quero que as pessoas reconhea§am que o racismo afeta a todos nose que todos nós, brancos, negros, pardos, temos um papel a desempenhar no anti-racismo. Essa deve ser a grande lição de nosso livro.

FIARMAN: Eu gostaria que os lideres brancos aceitassem que, como pessoas brancas, vamos cometer erros porque fomos muito doutrinados no preconceito racial inconsciente, racismo e supremacia branca. Mas temos que fazer uma escolha. Precisamos decidir se vamos permitir que nossos alunos e funciona¡rios negros e pardos suportem as consequaªncias do racismo que existe em nossas comunidades escolares ou se estamos dispostos a aprender humildemente a fazer esse trabalho e cometer erros no processo. Porque se estamos comprometidos com a luta contra o racismo em nossas escolas, precisamos estar prontos para cometer esses erros e nos ver como alunos e nos apoiarmos mutuamente para enfrentar o racismo.

Esta entrevista foi editada e condensada para maior clareza.

 

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