Humanidades

Pesquisa mostra percepção de alunos sobre estudo da biodiversidade
Jovens da regia£o amaza´nica tem mais interesse em estudar plantas e animais de sua regia£o do que os do Sudeste
Por Ivanir Ferreira - 31/08/2020


A pesquisa faz parte do banco de dados do projeto internacional The Relevance of Science Education (Rose) que mapeia a percepção de estudantes sobre o ensino de ciências nas salas de aula em mais de 40países. osFoto: Montagem sobre fotos de Ceca­lia Bastos/USP Imagens

Estudantes brasileiros do ensino manãdio apoiam causas de conservação ambiental, mas o interesse deles em estudar a biodiversidade amaza´nica em sala de aula varia de uma regia£o para outra no Brasil. Foi o que revelou uma pesquisa que deu origem a um artigo na Science Advances: Amazon conservation and students’ interests for biodiversity: The need to boost science education in Brazil, cujo coordenador da pesquisa éNelio Bizzo, professor da Faculdade de Educação (FE) da USP, e do Naºcleo em Educação, Divulgação e Epistemologia da Evolução Biola³gica (Edevo-Darwin).

A pesquisa ainda mostra que os jovens do Norte do Paa­s tem maior interesse pelo aprendizado da fauna e a flora locais, enquanto que os do Sudeste demonstraram menos interesse pelo estudo da biodiversidade local. Poranãm, todos concordam com a necessidade urgente de ações para proteger o meio ambiente e discordam de que esse seja o papel esperado unicamente dospaíses ricos.

O retrato da percepção dos estudantes brasileiros em relação ao meio ambiente faz parte da base de dados de um projeto internacional: The Relevance of Science Education (Rose), aplicado em mais de 40países e coordenado por pesquisadores da Universidade de Oslo, Noruega. No contexto brasileiro, o projeto foi coordenado pelo grupo de pesquisa da FE e abrangeu amostragem de escolas de todas as regiaµes brasileiras. A pesquisa originou uma “base de dados com um reposita³rio de aproximadamente um milha£o de itens respondidos pelos alunos, conteaºdo que pode ser investigado de diferentes formas”, informa o professor Bizzo ao Jornal da USP.

A pesquisa

No Brasil, a pesquisa aconteceu em diferentes momentos, em 2007 (como projeto piloto em algumas cidades) e 2010 e 2014 (com representação nacional), tendo a participação de estudantes que estavam iniciando o ensino manãdio e estavam na faixa dos 15 anos. As questões foram formuladas com a metodologia de escala Likert, que permite aos participantes responder o quanto que eles concordavam ou discordavam de determinadas afirmativas autodescritivas.

Segundo Nelio Bizzo, inicialmente, foi analisada a distribuição do interesse pelo estudo da biodiversidade local pelas regiaµes brasileiras, quando foram observadas diferenças estatisticamente significativas. Foi perguntado aos alunos o quanto eles estavam interessados em aprender tópicos relacionados a animais e plantas da biota local. As respostas mostraram que 788 alunos (43,7%) tinham “interesse” em estudar a biodiversidade brasileira, e 1.015 alunos (56,3%) demonstraram-se “desinteressados”.

Dentre esses dois grupos, verificou-se que os estudantes que tinham maior interesse pela biodiversidade local estavam localizados em escolas do Norte do Paa­s. Já no grupo dos “desinteressados” pelo tema biodiversidade estavam os alunos das regiaµes Sul e Sudeste.

Dentre os alunos que viviam na regia£o amaza´nica, cerca de 50,4% estavam dispostos a estudar plantas e animais de sua regia£o, enquanto que no Sudeste apenas 33,1% mostraram interesse. A regia£o Nordeste também se destacou com o segundo maior número relativo de alunos motivados em conhecer a biodiversidade local.

No entanto, quando os alunos responderam questões relativas a  proteção do meio ambiente, a declaração “as pessoas deveriam se preocupar mais com a proteção do meio ambiente” foi a que mais obteve concorda¢ncia entre todos os estudantes oso oposto de “ameaa§as ao meio ambiente não são da minha conta”, que menos pontuou. Complementando esse tema, a questão“somente ospaíses ricos são responsa¡veis por resolver problemas ambientais” também sofreu forte rejeição entre alunos de todas as regiaµes brasileiras.

Inclusão dos saberes inda­genas 

Para o pesquisador, os resultados desse trabalho trazem evidaªncias de que o ensino de ciências precisa passar pormudanças. a‰ preciso impulsionar os curra­culos escolares brasileiros, aprimorando estudo da biota tropical. Em sua opinia£o, a conservação da Amaza´nia depende de maior conhecimento de sua complexidade socioambiental. 

"a‰ importante incluir os saberes locais e inda­genas no estudo da regia£o, que foi habitada hámuito mais tempo e por um contingente muito maior de povos pré-colombianos (antes do aparecimento dos europeus no continente americano) do que a escola ensina aos nossos jovens hoje”, afirma.


andios da etnia Waiapi osFoto: Heitor Reali/IPHAN/iphan.gov.br

“Os materiais dida¡ticos precisam ser diferenciados e flexa­veis, a fim de proporcionar esta­mulo aos alunos que possuem pouco interesse pelas questões da biodiversidade, como éo caso do Sudeste, e maior aprofundamento do conteaºdo da biodiversidade local para estudantes do Norte”, conclui.

O artigo Amazon conservation and students’ interests for biodiversity: The need to boost science education in Brazil éo resultado do primeiro ano de pesquisas do Projeto Tema¡tico “O programa Biota-Fapesp e a Educação Ba¡sica: possibilidades de integração curricular”, que conta com a participação de pesquisadores de cinco instituições paulistas (USP, UNIFESP, UFABC, USCS e IBu). Além do artigo, a base de dados do Rose-Edevo-Darwin também gerou várias pesquisas, entre elas cinco doutorados na Faculdade de Educação da USP.

 

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