Jovens da regia£o amaza´nica tem mais interesse em estudar plantas e animais de sua regia£o do que os do Sudeste
A pesquisa faz parte do banco de dados do projeto internacional The Relevance of Science Education (Rose) que mapeia a percepção de estudantes sobre o ensino de ciências nas salas de aula em mais de 40países. osFoto: Montagem sobre fotos de Cecalia Bastos/USP Imagens
Estudantes brasileiros do ensino manãdio apoiam causas de conservação ambiental, mas o interesse deles em estudar a biodiversidade amaza´nica em sala de aula varia de uma regia£o para outra no Brasil. Foi o que revelou uma pesquisa que deu origem a um artigo na Science Advances: Amazon conservation and students’ interests for biodiversity: The need to boost science education in Brazil, cujo coordenador da pesquisa éNelio Bizzo, professor da Faculdade de Educação (FE) da USP, e do Naºcleo em Educação, Divulgação e Epistemologia da Evolução Biola³gica (Edevo-Darwin).
A pesquisa ainda mostra que os jovens do Norte do Paas tem maior interesse pelo aprendizado da fauna e a flora locais, enquanto que os do Sudeste demonstraram menos interesse pelo estudo da biodiversidade local. Poranãm, todos concordam com a necessidade urgente de ações para proteger o meio ambiente e discordam de que esse seja o papel esperado unicamente dospaíses ricos.
O retrato da percepção dos estudantes brasileiros em relação ao meio ambiente faz parte da base de dados de um projeto internacional: The Relevance of Science Education (Rose), aplicado em mais de 40países e coordenado por pesquisadores da Universidade de Oslo, Noruega. No contexto brasileiro, o projeto foi coordenado pelo grupo de pesquisa da FE e abrangeu amostragem de escolas de todas as regiaµes brasileiras. A pesquisa originou uma “base de dados com um reposita³rio de aproximadamente um milha£o de itens respondidos pelos alunos, conteaºdo que pode ser investigado de diferentes formasâ€, informa o professor Bizzo ao Jornal da USP.
A pesquisa
No Brasil, a pesquisa aconteceu em diferentes momentos, em 2007 (como projeto piloto em algumas cidades) e 2010 e 2014 (com representação nacional), tendo a participação de estudantes que estavam iniciando o ensino manãdio e estavam na faixa dos 15 anos. As questões foram formuladas com a metodologia de escala Likert, que permite aos participantes responder o quanto que eles concordavam ou discordavam de determinadas afirmativas autodescritivas.
Segundo Nelio Bizzo, inicialmente, foi analisada a distribuição do interesse pelo estudo da biodiversidade local pelas regiaµes brasileiras, quando foram observadas diferenças estatisticamente significativas. Foi perguntado aos alunos o quanto eles estavam interessados em aprender tópicos relacionados a animais e plantas da biota local. As respostas mostraram que 788 alunos (43,7%) tinham “interesse†em estudar a biodiversidade brasileira, e 1.015 alunos (56,3%) demonstraram-se “desinteressadosâ€.
Dentre esses dois grupos, verificou-se que os estudantes que tinham maior interesse pela biodiversidade local estavam localizados em escolas do Norte do Paas. Já no grupo dos “desinteressados†pelo tema biodiversidade estavam os alunos das regiaµes Sul e Sudeste.
Dentre os alunos que viviam na regia£o amaza´nica, cerca de 50,4% estavam dispostos a estudar plantas e animais de sua regia£o, enquanto que no Sudeste apenas 33,1% mostraram interesse. A regia£o Nordeste também se destacou com o segundo maior número relativo de alunos motivados em conhecer a biodiversidade local.
No entanto, quando os alunos responderam questões relativas a proteção do meio ambiente, a declaração “as pessoas deveriam se preocupar mais com a proteção do meio ambiente†foi a que mais obteve concorda¢ncia entre todos os estudantes oso oposto de “ameaa§as ao meio ambiente não são da minha contaâ€, que menos pontuou. Complementando esse tema, a questão“somente ospaíses ricos são responsa¡veis por resolver problemas ambientais†também sofreu forte rejeição entre alunos de todas as regiaµes brasileiras.
Inclusão dos saberes indagenasÂ
Para o pesquisador, os resultados desse trabalho trazem evidaªncias de que o ensino de ciências precisa passar pormudanças. a‰ preciso impulsionar os curraculos escolares brasileiros, aprimorando estudo da biota tropical. Em sua opinia£o, a conservação da Amaza´nia depende de maior conhecimento de sua complexidade socioambiental.Â
"a‰ importante incluir os saberes locais e indagenas no estudo da regia£o, que foi habitada hámuito mais tempo e por um contingente muito maior de povos pré-colombianos (antes do aparecimento dos europeus no continente americano) do que a escola ensina aos nossos jovens hojeâ€, afirma.
andios da etnia Waiapi osFoto: Heitor Reali/IPHAN/iphan.gov.br
“Os materiais dida¡ticos precisam ser diferenciados e flexaveis, a fim de proporcionar estamulo aos alunos que possuem pouco interesse pelas questões da biodiversidade, como éo caso do Sudeste, e maior aprofundamento do conteaºdo da biodiversidade local para estudantes do Norteâ€, conclui.
O artigo Amazon conservation and students’ interests for biodiversity: The need to boost science education in Brazil éo resultado do primeiro ano de pesquisas do Projeto Tema¡tico “O programa Biota-Fapesp e a Educação Ba¡sica: possibilidades de integração curricularâ€, que conta com a participação de pesquisadores de cinco instituições paulistas (USP, UNIFESP, UFABC, USCS e IBu). Além do artigo, a base de dados do Rose-Edevo-Darwin também gerou várias pesquisas, entre elas cinco doutorados na Faculdade de Educação da USP.