Humanidades

As escrituras raramente são um fator motivador significativo por trás da violência, dizem os pesquisadores
Quando atos de violência são relatados em Londres, Nova York ou no Oriente Manãdio, as pessoas costumam se perguntar que papel a religia£o pode ter desempenhado.
Por Cambridge - 02/09/2020


World Trade Center 9/11 - Crédito: slagheap

Muitas pessoas entendem mal a relação entre religia£o, escritura e violência, argumenta um novo livro. Algumas pessoas se preocupam com o fato de escrituras como o Alcora£o e a Ba­blia atia§arem as chamas da violência no mundo de hoje, enquanto outras insistem que são inerentemente paca­ficas. De acordo com uma equipe internacional de pesquisadores, a realidade pode ser mais complicada do que qualquer conjunto de pessoas pensa.

"Algumas pessoas pensam que a melhor estratanãgia para prevenir a violência éfingir que certas passagens das escrituras não existem. Mas isso écontraproducente. Em vez disso, descubra como as pessoas dentro dessas tradições religiosas realmente entendem essas escrituras"

Julia Snyder

Quando atos de violência são relatados em Londres, Nova York ou no Oriente Manãdio, as pessoas costumam se perguntar que papel a religia£o pode ter desempenhado. Especialmente se os mua§ulmanos estiverem envolvidos, também pode haver uma tendaªncia de apontar o dedo ao Alcora£o. Essas reações automa¡ticas não são muito aºteis, sugerem os autores de Scripture and Violence, e podem levar ao aumento da polarização na sociedade, bem como a animosidade injustificada contra mua§ulmanos e pessoas de outras religiaµes.

Reunindo estudiosos da Universidade de Cambridge e de outras instituições ao redor do mundo, os contribuintes de Escritura e Violaªncia começam a esclarecer a relação entre passagens de som violento da Ba­blia e do Alcora£o e as ações de judeus, cristãos e mua§ulmanos no mundo real. Eles conclua­ram que hámuito menos motivo para alarme do que muitas pessoas pensam.

Ao contra¡rio da crena§a popular, as escrituras raramente são um fator motivador significativo quando ocorrem atos de violência, descobriram os pesquisadores. Um pesquisador entrevistou recrutas reais e potenciais do ISIS e descobriu que o Alcora£o não desempenhou um papel significativo em motiva¡-los a se juntar. O desejo de se envolver em “bad-ass-do-goodery” era muito mais influente.

Outro pesquisador analisou debates mua§ulmanos sobre ataques suicidas e descobriu que enquanto alguns estudiosos isla¢micos citaram versos do Alcora£o para argumentar que ataques suicidas são permitidos em certos contextos limitados, outros estudiosos isla¢micos usaram o Alcora£o para argumentar que os mua§ulmanos são proibida de realizar tais ataques. Todos esses estudiosos trataram o Alcora£o como sagrado, mas discordaram sobre quais ações eram permitidas. Os argumentos pola­ticos também foram muito mais proeminentes nos debates do que a discussão do Alcora£o, que desempenhou apenas um papel marginal.

Os autores das Escrituras e da violência também argumentam que não hánecessidade de ter medo de passagens ba­blicas de aparaªncia assustadora.

“Algumas pessoas pensam que a melhor estratanãgia para prevenir a violência éfingir que certas passagens das escrituras não existem”, explica a coeditora e estudiosa do Novo Testamento Julia Snyder. “Mas isso écontraproducente. Em vez disso, descubra como as pessoas dentro dessas tradições religiosas realmente entendem essas escrituras.

“Quando o Alcora£o ou a Ba­blia falam sobre violência, as pessoas religiosas na maioria das vezes entendem que isso estãorelacionado a contextos hista³ricos específicos. Ou dizem que condições muito especa­ficas teriam de ser atendidas para que uma ação violenta fosse tomada. Eles não acham que essas passagens clamam por violência agora - mesmo as pessoas que veem suas escrituras como a Palavra de Deus. ”

Esclarecer mal-entendidos sobre essas questões ajudara¡ a superar as divisaµes existentes na sociedade, esperam os pesquisadores, e permitira¡ que pessoas de todas as religiaµes e nenhuma delas se concentrem em lidar com questões econa´micas e sociais urgentes juntas.

“Amedida que os bloqueios acabam e as sociedades se abrem novamente e buscamos reconstruir nossas comunidades juntos, éimportante não permitir que a ansiedade injustificada sobre pessoas de outras origens ou crena§as religiosas atrapalhe”, enfatiza o coeditor Daniel H. Weiss do Faculdade de Divindade de Cambridge. “Este éum a³timo momento para deixar de lado as ideias polarizadas e imprecisas sobre como a religia£o e as escrituras realmente funcionam. Na verdade, dentro dessas tradições religiosas, lutar ativamente com passagens difa­ceis pode gerar novas soluções criativas para lidar com as preocupações atuais. ”

De acordo com os pesquisadores, lidar com os medos sobre as escrituras e a violência pode permitir que as pessoas reconhea§am outros aspectos proeminentes das escrituras mua§ulmanas, judaicas e crista£s - como a preocupação com os desprivilegiados e uma aªnfase na justia§a - e usar as escrituras para refletir e debater sobre o que uma boa sociedade seria semelhante. 

Escritura e violência estãodispona­vel a partir de 1 de setembro de 2020. Publicado pela Routledge, o livro inclui contribuições de especialistas internacionais em textos e tradições judaicas, crista£s e mua§ulmanas, que discutem questões-chave na interpretação da Ba­blia e do Alcora£o, e destacam o diversas maneiras pelas quais as comunidades crista£, judaica e mua§ulmana entendem os textos das escrituras. Uma variedade de contextos são visitados, da andia brita¢nica a  Alemanha nazista, da Parada do Orgulho de Jerusalém aos evanganãlicos americanos e os militares dos EUA, e da CNN a s salas de aula de universidades europeias. 

 

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