Arthur Goldhammer relembra uma vida trazendo o trabalho de Thomas Piketty e outros para leitores de inglaªs
Arthur Goldhammer fala sobre os três elementos de uma a³tima tradução e seu caminho tortuoso para o sucesso em um campo que ele nunca estudou. Foto cedida por Arthur Goldhammer
Certamente, hácaminhos mais diretos para se tornar um respeitado tradutor da langua francesa do que ir para o Massachusetts Institute of Technology (MIT) para um doutorado. em matemática, ser pego no recrutamento do Vietna£ e, em seguida, abandonar a carreira de professor e se mudar para a Frana§a. Mas, para Arthur Goldhammer , era um caminho tortuoso que fazia todo o sentido. Nascido em Nova Jersey, sem nenhum treinamento formal em francaªs, Goldhammer traduziu mais de 125 livros sobre história e polatica francesa, bem como textos cla¡ssicos de Albert Camus e Alexis de Tocqueville, para as principais editoras acadaªmicas, incluindo a Harvard University Press. Em 2014, ele alcana§ou alguma celebridade após produzir uma versão em inglês de um livro sobre a desigualdade global escrito por um jovem economista francaªs chamado Thomas Piketty . Essa obra,“O Capital no Sanãculo Vinte e Um †vendeu mais de 2 milhões de ca³pias. O seguimento de Piketty, “ Capital and Ideology â€, publicado este ano, foi a última tradução de Goldhammer antes da aposentadoria. Além de traduzir, ele éum autor e ensaasta sobre a Frana§a contemporâneae a polatica francesa, e lecionou nas universidades de Brandeis e Boston. Goldhammer tem laa§os estreitos com o Centro de Estudos Europeus Minda de Gunzburg em Harvard, que remonta aos anos 1970. Atualmente, ele éafiliado local e presidente do semina¡rio New Research on Europe la¡. Goldhammer recentemente falou sobre sua jornada incomum.
Perguntas & Respostas
Arthur Goldhammer
Vocaª tem um Ph.D. em matemática do MIT e ainda assim vocêéum tradutor litera¡rio francaªs lider. Como isso aconteceu?
GOLDHAMMER: Crescendo em Nova Jersey, fui muito bom em matemática e ciências. Eu terminei o ensino manãdio aos 16 anos porque meus pais se mudaram de New Jersey para a Carolina do Sul e o colanãgio de la¡ era tão atrasado que eu já tinha feito os cursos que eles tinham para oferecer. Então me inscrevi no MIT e fui admitido com uma bolsa. Embora matemática e ciências fossem meus pontos fortes, eu estava bastante interessado em literatura. Eu tinha estudado a langua francesa desde a oitava sanãrie e fui realmente influenciado por vários romancistas franceses de Stendhal a Proust, de modo que me encorajou a continuar minha leitura do francaªs, embora nunca o tenha estudado formalmente.
“Clareza anã, claro, importante. Mas para mim, o que érealmente importante na tradução, mesmo na prosa, éque toda escrita tem um tipo de música. â€
Eu me formei no MIT em 67 e comecei a pós-graduação la¡ em 68 quando a Guerra do Vietna£ estava esquentando. No vera£o de 68, fui a Frana§a pela primeira vez. Naquela anãpoca, vocêtinha que notificar a junta de recrutamento quando estava deixando opaís. E meu conselho de recrutamento, que ficava na Carolina do Sul porque meus pais haviam se mudado para la¡, optou por interpretar minha viagem ao exterior como uma declaração de que eu não estava mais na escola, embora fosse entre meu primeiro e segundo anos de pós-graduação. Então eles aproveitaram isso como uma oportunidade para me redigir. Quando voltei da Frana§a em setembro, encontrei meu aviso de recrutamento esperando. Eu apelei, e o recurso foi atéo chefe do conselho do Selective Service, que na verdade decidiu a meu favor, mas se recusou a anular o conselho local de recrutamento. Ele encaminhou meu caso de volta para eles com sua recomendação de que eu recebesse um adiamento da pós-graduação, mas eles recusaram. Então, naquele momento, minha única opção era deixar opaís ou me submeter a convocação. Então decidi que arriscaria com o Exanãrcito.
Foi entre os anos intermediários entre a instituição de um sorteio de loteria e o adiamento universal dos estudantes universita¡rios, de modo que não estavam fazendo com que muitas pessoas com diploma universita¡rio ingressassem no Exanãrcito naquela anãpoca. Sempre que conseguiam um, eles testavam o conhecimento de uma langua estrangeira. Fiz um teste de francaªs e, aparentemente, tirei muito bem nele. E isso, somado ao fato de eu tocar um instrumento musical, levou-os a me escolher para um curso de idioma vietnamita. A parte do instrumento musical éporque o vietnamita éuma langua tonal. Então, acabei aprendendo a falar vietnamita, tornei-me moderadamente fluente e fui enviado ao Vietna£ como parte de uma organização de inteligaªncia.
Vocaª estava trabalhando para a CIA ou para a inteligaªncia militar dos EUA?
GOLDHAMMER: Fiz alguns trabalhos de ligação com a CIA, mas estava no serviço militar [inteligaªncia]. Terminei meu serviço militar três meses antes e voltei para o MIT, onde terminei meu doutorado. Mas meu tempo no Exanãrcito mudou minhas prioridades. Eu havia me apaixonado por Paris e queria passar uma temporada na Frana§a. Eu também queria escrever ficção. Eu queria fazer alguns estudos de história porque queria entender melhor o que levou ao envolvimento dos Estados Unidos no Vietna£. Mas não tinha dinheiro suficiente para abandonar o caminho em que estava. Eu ainda estava sendo apoiado por uma bolsa da National Science Foundation. Achei que meu melhor curso era continuar em matemática, dar aulas por um tempo para economizar dinheiro suficiente e depois ver como as coisas corriam.
Consegui um emprego na Brandeis e lecionei la¡ por dois anos como professor assistente. Depois de dois anos ensinando, economizei dinheiro suficiente para me sustentar por um ano na Frana§a. Decidi desistir e ir para Paris morar um pouco. Eu conheci alguém na Frana§a que estava trabalhando para um socia³logo francaªs chamado Michel Crozier. Ele tinha acabado de terminar um livro que queria traduzir para o inglês. Minha amiga estava trabalhando para ele como sua assistente, então ela o convenceu de que eu seria uma boa pessoa para traduzir este livro. Eu havia expressado a ela meu interesse em me tornar uma tradutora para me sustentar. Essa se tornou minha primeira tradução publicada. Isso me conectou com a University of Chicago Press, que foi uma conexão muito importante porque aconteceu de eles terem um acaºmulo de livros de história francesa de vários historiadores famosos.
Pelos pra³ximos cinco anos ou mais, tive um fluxo constante de trabalho da University of Chicago Press. Se não fosse por isso, provavelmente não teria continuado a ser um tradutor, porque o difacil para um freelancer éentrar e conseguir um trabalho esta¡vel. Apa³s os primeiros cinco anos, minha reputação foi estabelecida. Consegui trabalho de outras editoras, incluindo a Harvard University Press [editora americana de Piketty], que se tornou meu esteio depois de Chicago por muitos anos, e que me manteve por muito tempo.
Que tal traduzir o atraiu? Nãoétodo o trabalho a¡rduo de escrever e nada da gla³ria, por assim dizer?
GOLDHAMMER: Minha verdadeira ambição era me tornar um romancista, e a vantagem da tradução éque me permitia ter controle total sobre meu pra³prio tempo. Podia escrever de manha£ e traduzir a tarde, e assim vivi muitos anos. Levei muito tempo para terminar meu primeiro romance. Nãotive muito sucesso, então continuei trabalhando como tradutor. Nesse anterim, continuei a escrever ficção. Mas tenho tido muito sucesso como tradutor e não como escritor de ficção. Então essa éa razãopela qual continuei com a tradução. a‰ verdade que provavelmente poderia ter feito outras coisas que teriam me trazido mais gla³ria e certamente me rendido mais dinheiro, mas eu gosto de traduzir. Gostei do fato de que me permitiu ir de um assunto para outro. Sempre tive muitos interesses, como indicariam meu interesse por matemática, física e literatura, bem como por história francesa e assim por diante. E a tradução era uma forma de sustentar muitos interesses porque passo três ou quatro meses escrevendo um livro e depois passo para um livro sobre um assunto completamente diferente. Eu gostava desse estilo de vida.
Como vocêdecide quais projetos assumir?
GOLDHAMMER: a‰ o autor; éo assunto. Normalmente hátempo para ler, se não o livro inteiro, pelo menos uma amostra. a€s vezes, vocênão tem o manuscrito inteiro com antecedaªncia, mas parte dele estãodisponavel para que vocêpossa ler e fazer um julgamento. Isso não quer dizer que não tenha traduzido alguns livros na minha carreira de que não gostei muito ou dos quais discordei, mas tudo bem. Nãome importo em traduzir livros dos quais discordo. Agora, em alguns casos, encontrei o autor antes de concordar em traduzir o livro, especialmente depois que me tornei mais conhecido e tive muitos mais contatos na Frana§a.
Foi o que aconteceu com Piketty. Eu o conheci quando ele veio a Harvard para dar uma palestra antes de publicar “O Capital no Sanãculo Vinte e Umâ€, que saiu em 2013. Eu o conheci antes mesmo de o livro ser publicado em francaªs. Tanhamos um relacionamento muito bom. Ele [mais tarde] me deu o cranãdito por ajudar a transformar o livro em um best-seller porque, embora tivesse vendido bem na Frana§a, não seria um sucesso global. Foi a tradução em inglês que trouxe toda a publicidade ao livro e o transformou em um best-seller mundial.
Qual éo seu processo de trabalho? Vocaª envolve o autor enquanto traduz ou evita o contato com ele tanto quanto possível?
GOLDHAMMER: Acho que ébom consultar os autores apenas porque os autores estãocompreensivelmente desconforta¡veis ​​com a ideia de serem traduzidos, especialmente se sentirem que não falam o idioma muito bem. Então vocêquer tranquiliza¡-los e a melhor maneira de tranquiliza¡-los étrabalhar com eles. Meu processo geral étraduzir um capatulo e envia¡-lo ao autor se o autor quiser se envolver - a maioria o faz; alguns não. E então, se eles tem comenta¡rios, discutimos seus comenta¡rios. Normalmente, quando pego o livro, começo bem a traduzi-lo. a€s vezes, leio o livro inteiro antes de comea§ar a traduzir, mas nem sempre éo caso. Normalmente, acho que os primeiros capatulos exigem mais revisaµes do que os capatulos posteriores. Leva algum tempo para vocêse adaptar ao estilo de cada autor. Mas depois de fazer isso, torna-se mais natural.
Qual éo seu objetivo geral? a‰ para manter a voz do autor e as nuances disso ou para tornar o texto claro para um paºblico de langua inglesa? Francaªs e inglês são tão estruturalmente diferentes, e também culturalmente diferentes.
GOLDHAMMER: A clareza anã, obviamente, importante. Mas para mim, o que érealmente importante na tradução, mesmo na prosa, éque toda escrita tem um tipo de música. Vocaª realmente deseja captar a nota do autor. Cada autor tem um timbre diferente, uma voz diferente, e vocêrealmente deseja obter essa voz o ma¡ximo possível. Acho que manter o ritmo da prosa éo essencial para mim. Na verdade, étão importante que acho que não consigo traduzir enquanto oua§o música. Ha¡ uma qualidade musical na prosa enquanto a leio. Eu oua§o na minha cabea§a, e não gosto que essa voz interior tenha qualquer competição, mesmo de boa música.
O falecido Gregory Rabassa, o distinto tradutor para o espanhol de Gabriel Garcaa Ma¡rquez, Julio Cortazar e outros, falou do tradutor como habitando o mundo do escritor e do leitor ao mesmo tempo. O que torna uma tradução superlativa?
GOLDHAMMER: Acho que os critanãrios essenciais de uma boa tradução são, primeiro, preservar a música do texto original. Em segundo lugar, particularmente na tradução de não-ficção, para transmitir com a máxima clareza possível, as ideias que estãoincorporadas no texto. E terceiro, não mexer com a forma como o autor se apresenta. Ao representar fielmente a voz do autor e a maneira de se apresentar, o tradutor estãocumprindo o dever de representar o autor fielmente. Para mim, isso érealmente essencial.
Redatores e editores freelance são pagos pela palavra ou pelo projeto. a‰ semelhante para tradutores?
GOLDHAMMER: Ao longo da minha carreira, geralmente foi pela palavra. Em alguns livros, recebi royalties além da taxa de palavra. Nãorecebi royalties sobre o primeiro livro de Piketty, infelizmente. Normalmente, quando vocêrecebe royalties, recebe menos adiantamento. Portanto, éarriscado, principalmente para um livro de não ficção, receber royalties.
Vocaª émais conhecido pelos livros de Piketty, mas hátraduções das quais se orgulha especialmente?
GOLDHAMMER: Ha¡ dois autores dos quais traduzi muitos livros cujos estilos achei particularmente difaceis de fazer bem e aos quais achei que fazia justia§a. O primeiro éAlexis de Tocqueville. Traduzi todas as suas principais obras, incluindo "Democracy in America", "The Old Regime and the French Revolution" e suas memórias, intituladas "Remembrances". E então fiz várias das obras da cratica litera¡ria de Jean Starobinski. Seu estilo émuito difacil. Ambos são escritores elegantes, por isso seu trabalho exigia um cuidado especial e ambos tinham fortes qualidades litera¡rias. Acho que fiz justia§a a eles. Esses são os livros dos quais mais me orgulho.
Agora que vocêtraduziu seu último livro, o que vem por aa?
GOLDHAMMER: Voltei a ficção em tempo integral. Agora estou trabalhando em um romance sobre física. De certa forma, voltei a minha vida anterior como fasico e matema¡tico. O novo livro ésobre dois fasicos. a‰ um romance hista³rico ambientado nas décadas de 1930 e 40 e envolve um tria¢ngulo amoroso e a bomba atômica - dois elementos explosivos, por assim dizer. Já estãocerca de um tera§o concluado e, agora, com a crise do COVID-19 e sem mais trabalho remunerado, terei tempo de sobra para terminar.
A entrevista foi editada para maior clareza e extensão.