Pesquisa analisa raazes e consequaªncias socioecona´micas da violência contra a mulher na pandemia
Estudo investiga relação entre isolamento social e perda de renda com violência doméstica contra mulheres, mais expostas ao passar mais tempo com agressores em casa

Desde que começou a pandemia, mulheres que já tinham hista³rico de violência doméstica passaram a correr mais riscos de vida por permanecerem mais tempo com seu agressor osFoto Marcos Santos/USP Imagens
Existem indacios de que durante a pandemia tenha aumentado a violência doméstica contra as mulheres, o que não aparece em todas as estatasticas, já que as vitimas também encontraram mais dificuldades no acesso a s redes de proteção e aos canais de denaºncia. Atentas ao problema, pesquisadoras da Faculdade de Economia, Administração e Contabilidade (FEA) da USP, em parceria com o Centre for Health Economics Alcuin Block, University of York, Reino Unido, va£o investigar os impactos das medidas de distanciamento social sobre a incidaªncia dessa violência. E como essa violência, por sua vez, traz impactos ao mercado de trabalho e a economia.
Desde que a covid-19 chegou ao Paas, mulheres que tinham hista³rico de sofrer agressões passaram a correr mais risco de vida por serem obrigadas a permanecerem mais tempo em casa, muitas vezes com seus pra³prios agressores. A professora da FEA e coordenadora da pesquisa no Brasil Maria Dolores Montoya Diaz explica que os dados sera£o coletados inicialmente em Sa£o Paulo e Rio de Janeiro, mas devem avana§ar por outras unidades da federação. As respostas servira£o para direcionar políticas públicas de enfrentamento a crimes, agressões e abusos praticados contra a mulher nesse contexto.
Embora os resultados analaticos mais robustos devam aparecer são nos pra³ximos meses, quando se finalizara¡ a pesquisa, a hipa³tese éque o confinamento de pessoas em situação de estresse, decorrente tanto das dificuldades econa´micas oriundas da perda de renda pela pandemia como do maior tempo de convivaªncia de vatima e agressor no mesmo domicalio, tenha aprofundado a violência doméstica.
O Forum Brasileiro de Segurança Paºblica (FBSP) traz dados que confirmam a hipa³tese levantada pelos pesquisadores. Houve redução em uma sanãrie de crimes contra as mulheres em diversos Estados brasileiros e diminuição na distribuição e na concessão de medidas protetivas de urgência, o que contrasta com um aumento nos feminicadios osindicativo de que as mulheres estejam mesmo encontrando dificuldades em denunciar violências sofridas nesse período.
Uma questãoadicional a ser investigada éa existaªncia ou não de algum efeito atenuador do pagamento do Auxalio Emergencial sobre o número de feminicadios.
Outro objetivo da pesquisa seráavaliar as consequaªncias sociais indiretas do aumento da violência doméstica sobre os custos com a saúde, produtividade e oferta de trabalho. Segundo Dolores Diaz, publicações da área já trazem muitas evidaªncias de que mulheres que sofrem violência doméstica tem mais problemas de saúde, tem maior absenteasmo (faltas) ao trabalho e isto pode ter consequaªncias em outrasDimensões , como no pra³prio mercado de trabalho.
Participam também da pesquisa as professoras Fabiana Rocha e Paula Pereda, ambas da FEA, e o economista Rodrigo Moreno Serra, pela University of York, egresso da FEA e coordenador do projeto Covid-19, distanciamento social e violência contra a mulher no Brasil (Brave).
Aumento de casos de violência doméstica x dificuldades no acesso a s redes de proteção
Em nota técnica emitida pelo FBSP, em julho, eles atualizaram informações sobre violência doméstica durante a pandemia de covid-19, entre mara§o e maio de 2020, em 12 Estados brasileiros (Acre, Amapa¡, Ceara¡, Esparito Santo, Maranha£o, Mato Grosso, Minas Gerais, Para¡, Rio de Janeiro, Rio Grande do Norte, Rio Grande do Sul e Sa£o Paulo). A queda nos registros de lesão corporal dolosa foi de 27,2%. As maiores reduções aconteceram nos Estados do Maranha£o (84,6%), Rio de Janeiro (40,2%) e Ceara¡ (26%). No entanto, nesse mesmo período, houve aumento de 2,2% nos casos de feminicadios. O Estado do Acre liderou com o maior número de registros (400%), passou de um, em 2019, para cinco casos em 2020; Mato Grosso (157%), de sete, passou para 18; Maranha£o (81%), de 11 casos, para 20; e o Para¡, (75%), de oito para 14.
Tipos de violência e dia da semana em que ocorreu a violência osImagem: EconomistAS
Com relação a violência sexual, entre mara§o e maio, houve redução de 50,5% nos registros de estupro e estupro de vulnera¡vel com vitimas mulheres. O Estado do Esparito Santo ficou com a maior taxa, 79,8%, seguido pelo Ceara¡, 64,1%, e Rio de Janeiro, 61,2%. Paralelamente, o projeto Brave já estava trabalhando com dados apurados pelo FBSP que indicaram que, durante os meses de mara§o e abril de 2020, quando foram implementadas as regras de distanciamento social, houve aumento em 22% no número de casos de feminicadios em 12 Estados brasileiros, em comparação ao ano anterior. Nesse mesmo período, Sa£o Paulo teve aumento de 54% e 44% nas chamadas a polacia relatando agressões domésticas contra mulheres.
Para prospectar os meses seguintes, os pesquisares buscara£o os dados em redes sociais e internet (palavras e postagens que suscitem violência doméstica) e nos órgãos e servia§os oficiais de atendimento do Estado (Sistema de Informações Hospitalares do Sistema ašnico de Saúde (SIHSUS), Sistema de Informações sobre Mortalidade (SIM), Boletins de Ocorraªncias de Delegacias, e Central de Atendimento a Mulher em Situação de Violaªncia (180). As formas de violências (fasica, psicológica, patrimonial, moral e sexual) também sera£o identificadas, bem como os dias da semana em que mais ocorreram as agressões e as regiaµes em que houve maior incidaªncia.
Economia e diferenças de gaªnero
Questionada sobre o porquaª de economistas estarem envolvidas em pesquisas sobre violência doméstica, Dolores explica que as investigações cientaficas da FEA va£o além de técnicas voltadas para gestãode empresas. Na FEA, existe um grupo chamado EconomistAs que estuda as váriasDimensões das diferenças de gaªnero existentes na carreira de economista e no mercado de trabalho em geral, bem como o impacto diferencial de políticas públicas sobre homens e mulheres. Foi nesse contexto que as pesquisadoras mudaram o foco para o problema da violência doméstica.
A pesquisadora diz que algumas áreas da economia dialogam com várias tema¡ticas como educação, saúde, meio ambiente, tecnologia entre outras que contribuem para a formulação de políticas públicas mais adequadas e eficientes. Para tanto, as análises feitas por esse grupo de pesquisadoras precisam diferenciar simples correlações ou relações que não se confirmam de verdadeiras relações de causa e efeito. a‰ importante garantir que políticas públicas sejam baseadas em evidaªncias corretas e não apenas aparentes, sob risco de desperdacio de recursos e outras consequaªncias indesejáveis.