Humanidades

Pandemia corra³i os padraµes de vida nospaíses em desenvolvimento, mostra estudo
O ini­cio da pandemia COVID-19 causou uma queda acentuada nos padraµes de vida e aumento da insegurança alimentar nospaíses em desenvolvimento em todo o mundo.
Por Mike Cummings - 06/02/2021


Um munica­pio perto da costa de Freetown, Serra Leoa, áfrica Ocidental. (© Shutterstock)

O ini­cio da pandemia COVID-19 causou um decla­nio acentuado nos padraµes de vida e aumento da insegurança alimentar empaíses em desenvolvimento em todo o mundo, de acordo com um novo estudo realizado por uma equipe internacional de economistas.

O estudo, publicado em 5 de fevereiro na revista Science Advances, fornece a primeira visão aprofundada dos efeitos socioecona´micos iniciais da crise de saúde empaíses de baixa e média renda, usando microdados detalhados coletados de dezenas de milhares de fama­lias em novepaíses . 

Os pesquisadores realizaram 16 pesquisas por telefone representativas emnívelnacional e subnacional de abril a julho de 2020 em Bangladesh, Burkina Faso, Cola´mbia, Gana, Quaªnia, Nepal, Filipinas, Ruanda e Serra Leoa. Em todos essespaíses, os entrevistados relataram quedas no emprego, na renda e no acesso a mercados e servia§os, que se traduzem em altos na­veis de insegurança alimentar. Muitas fama­lias relataram não conseguir atender a s necessidades nutricionais ba¡sicas. 

“ COVID-19 e seu choque econa´mico representam uma forte ameaça aos residentes depaíses de baixa e média renda - onde reside a maior parte da população mundial - que carecem das redes de segurança social que existem nospaíses ricos”, disse Mushfiq Mobarak, professor de diretor de economia e corpo docente da Iniciativa de Pesquisa em Inovação e Escala de Yale (Y-RISE), e o autor correspondente do estudo. “As evidaªncias que coletamos mostram consequaªncias econa´micas terra­veis, incluindo aumento da insegurança alimentar e queda da renda, que, se não for controlada, pode colocar milhões de fama­lias vulnera¡veis ​​na pobreza”.

Em todas as pesquisas, a porcentagem de entrevistados que relatou perdas de renda variou de 8% no Quaªnia a 86% na Cola´mbia. A mediana, ou ponto manãdio da variação, foi de impressionantes 70%. A porcentagem de perda de empregos relatada variou de 6% em Serra Leoa a 51% na Cola´mbia, com uma mediana de 29%. 

“ Pintar um quadro abrangente do impacto econa´mico desta crise global requer a coleta de dados harmonizados de todo o mundo”, disse Edward Miguel, professor de economia da Universidade da Califa³rnia-Berkeley e coautor do estudo. “Nosso trabalho éum exemplo emocionante de colaboração fruta­fera entre equipes de pesquisa de uma variedade de instituições que trabalham em váriospaíses simultaneamente para melhorar nossa compreensão de como COVID-19 afetou os padraµes de vida empaíses de baixa e média renda.”

Porcentagens significativas de entrevistados nas pesquisas relataram ter sido forçados a faltar a s refeições ou reduzir o tamanho das porções, incluindo 48% das fama­lias rurais do Quaªnia, 69% das fama­lias sem terra e agra­colas em Bangladesh e 87% das fama­lias rurais em Serra Leoa - onívelmais alto de insegurança alimentar. Fama­lias mais pobres geralmente relataram taxas mais altas de insegurança alimentar, embora as taxas fossem substanciais mesmo entre a metade superior de cada amostra.  

O aumento acentuado da insegurança alimentar relatado entre as criana§as foi particularmente alarmante, dados os efeitos negativos potencialmente grandes a longo prazo da subnutrição, de acordo com o estudo.

Os resultados da pesquisa de Bangladesh e do Nepal sugerem que os na­veis de insegurança alimentar foram muito mais altos durante a pandemia do que durante a mesma temporada nos anos anteriores.

Na maioria dospaíses, uma grande parte dos entrevistados relatou acesso reduzido aos mercados, provavelmente devido a bloqueios e outras restrições implementadas para conter a propagação do va­rus. A disponibilidade de apoio social de governos ou organizações não governamentais variou amplamente nas pesquisas, mas as altas taxas de insegurança alimentar relatadas sugerem que o apoio era insuficiente mesmo quando presente, descobriram os pesquisadores. 

Além de aumentar a insegurança alimentar, o estudo mostra que a pandemia e as medidas de contenção que a acompanham minaram vários outros aspectos do bem-estar domanãstico. Em todos ospaíses, as escolas foram fechadas durante a maior parte ou todo o período da pesquisa. Os entrevistados também relataram acesso reduzido aos servia§os de saúde, incluindo cuidados pré-natais e vacinação. Combinados, esses fatores podem ter efeitos prejudiciais a longo prazo em criana§as em particular, observam os pesquisadores. 

“ O choque econa´mico da pandemia nessespaíses, onde a maioria das pessoas depende do trabalho casual para alimentar suas fama­lias, causa privações que tem consequaªncias adversas a longo prazo, incluindo mortalidade excessiva”, disse o coautor do estudo Ashish Shenoy, professor de agricultura e economia de recursos na Universidade da Califa³rnia, Davis. “Nossas descobertas ressaltam a importa¢ncia de coletar dados de pesquisas para entender os efeitos da crise e informar respostas políticas eficazes. Demonstramos a eficácia de pesquisas por telefone em larga escala para fornecer esses dados cruciais. ”

As circunsta¢ncias atuais podem exigir programas de proteção social que priorizem o enfrentamento da pobreza imediata e da subnutrição antes de abordar as causas subjacentes mais profundas da desigualdade e da privação econa´mica, afirmam os pesquisadores. Eles sugerem que os legisladores considerem a identificação de fama­lias pobres usando telefones celulares e dados de satanãlite e, em seguida, fornea§am-lhes transferaªncias de dinheiro ma³veis. 

Os pesquisadores também recomendam o apoio a servia§os ba¡sicos, como águae luz, por meio de subsa­dios e remoção de penalidades para contas não pagas. Eles observam uma ligação fundamental entre conter COVID-19 e fornecer ala­vio econa´mico, uma vez que fama­lias que enfrentam escassez aguda podem estar menos dispostas do que outras a seguir as regras de distanciamento social enquanto buscam oportunidades para atender a s necessidades ba¡sicas. 

Além de pesquisadores de Yale e Y-RISE, o estudo incluiu parceiros das seguintes instituições: University of California-Berkeley; O Banco Mundial; Inovações para Ação contra a Pobreza; Universidade da Califa³rnia-Davis; Northwestern University; Universidade de Basel, Sua­a§a; Universidade de Princeton; Busara Center for Behavioral Economics, Nairobi, Quaªnia; Universidade de Stanford; Centro de Ciências Sociais WBZ de Berlim; Universidade Columbia; Centro Internacional de Crescimento, Londres; Vyxer Remit Kenya, Busia, Kenya; Universidade americana; Universidade de Goettingen, Alemanha; Universidade de Harvard; e a Universidade de Wageningen, Holanda.

 

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