Especialista de Berkeley: Em tempos de crise, a violência anti-asia¡tica éuma tradição americana
Em entrevista recentemente Lok Siu conversou sobre como as estruturas econa´micas e capitalistas podem produzir violência racial e por que éimportante que as comunidades negras se unam para combater a violência anti-asia¡tica e o racismo.

As raazes estruturais e hista³ricas do racismo anti-asia¡tico nos Estados Unidos fazem parte das relações raciais asia¡tico-americanas contempora¢neas. Esta ilustração mostra uma reunia£o trabalhista anti-chinesa em 20 de mara§o de 1880 fora da Prefeitura de Sa£o Francisco. (Foto via jornal ilustrado)
Os tiroteios em massa de tera§a-feira em uma sanãrie de casas de massagem na área de Atlanta deixaram oito mortos, incluindo seis pessoas de ascendaªncia asia¡tica. Os investigadores não confirmaram o motivo, mas essas mortes - junto com um aumento nos ataques anti-asia¡ticos em grandes cidades - são um lembrete não surpreendente da longa história de violência anti-asia¡tica na Amanãrica, disse o professor associado de estudos asia¡tico-americanos da UC Berkeley, Lok Siu. .
Lok Siu sorrindo
Lok Siu, professor associado de Estudos
Asia¡tico-americanos
e Asia¡ticos da Dia¡sporas da UC Berkeley.
(Foto da UC Berkeley)
E essa violência, muitas vezes impulsionada pela xenofobia anti-asia¡tica, tornou-se uma prática americana estrutural em tempos de crise.
“O racismo anti-asia¡tico nestepaís apenas ganha uma nova cara de vez em quandoâ€, disse Siu, que éum especialista em dia¡sporas asia¡ticas e transnacionalismo e estudou o clima social que criou sentimentos anti-asia¡ticos durante a pandemia. “A reinvocação contanua e persistente da noção profundamente arraigada de que os asia¡tico-americanos são 'forasteiros' e, portanto (não pertencem) aos EUA, alimenta sentimentos e ataques anti-asia¡ticos em momentos de crise social ou ruptura.â€
“ Pode-se dizer que nosso sistema econa´mico gera inerentemente esse tipo de racismo e antagonismo que produz conflito racial e violênciaâ€, acrescentou ela.
Em entrevista recentemente Lok Siu conversou  sobre como as estruturas econa´micas e capitalistas podem produzir violência racial e por que éimportante que as comunidades negras se unam para combater a violência anti-asia¡tica e o racismo.
O que vocêdiria para alguém que pensa que esses recentes incidentes anti-asia¡ticos são apenas atos singulares que não representam um problema sistemico?
Lok Siu: O recente aumento da violência anti-asia¡tica não éuma situação ana´mala. No momento, hácerca de 4.000 ataques relatados ao site STOP AAPI HATE, e esta éuma contagem subestimada.
Ha¡ uma longa história de episãodios de violência contra asia¡ticos nos Estados Unidos desde o final do século XIX. Vocaª pode voltar a s primeiras experiências dos ferrovia¡rios chineses que chegaram em meados do século 19 e a violência contra eles quando concluaram aquela obra e seguiram para cidades onde outros chineses se reuniam. Entre 1870 e 1880, mais de 150 distúrbios anti-chineses eclodiram em todo opaís. Ao todo, centenas de chineses foram assassinados, milhares foram expulsos de várias cidades e Chinatowns inteiros foram queimados por multidaµes furiosas que acusaram os chineses de “tirar empregos†de colonos brancos e trazer doena§as.
Quando vocêconsidera o internamento forçado de nipo-americanos durante a Segunda Guerra Mundial, éum evento com alvos raciais que violou os direitos constitucionais fundamentais dos nipo-americanos. Depois, háo macarthismo da Guerra Fria dos anos 1950, quando os sino-americanos e as organizações chinesas foram visados ​​especificamente porque eles, simplesmente por serem etnicamente chineses, presumia-se que tinham lealdade polatica com a República Popular da China. Apa³s o 11 de setembro, também testemunhamos o aumento da violência contra mua§ulmanos e sikhs asia¡ticos.
Este atual aumento da violência anti-asia¡tica, portanto, não éexcepcional. a‰ outra iteração do racismo contra os asia¡ticos nos Estados Unidos.
O que levou a este último aumento na violência anti-asia¡tica?
Acho que grande parte da aªnfase no aumento do ano passado foi em torno da reta³rica do ex-presidente (Donald) Trump sobre o "varus chinaªs", ou a "gripe kung", que automaticamente associava o varus ao povo chinaªs, uma categoria racial que faz referaªncia a pessoas de Descendaªncia chinesa, independentemente da localização. Ao culpar os chineses como a causa da pandemia, ele acendeu sentimentos anti-chineses e canalizou o medo e a raiva populares contra pessoas que apareciam no Leste Asia¡tico.
De certa forma, essa reta³rica ganhou vida própria e estãocirculando livremente, moldando as percepções das pessoas sobre os asia¡ticos-americanos que compartilham um fena³tipo semelhante e que são igualmente racializados como "forasteiros" e "estrangeiros".
Superficialmente, esses últimos incidentes e a persistaªncia da violência anti-asia¡tica parecem um tanto fora de sincronia, dado o fato de que agora temos vacinas e nossa contenção da pandemia parece iminente. Mas quando paramos para pensar sobre isso, não étão surpreendente.
Agora, um ano após o inicio da pandemia, as pessoas sentem um sentimento cada vez mais profundo de desespero, vulnerabilidade e raiva - não apenas pela perda de familia e amigos, mas também pelas condições econa´micas e materiais muito reais de perda de emprego, davidas crescentes, falta de moradia iminente e o falta de apoio estatal significativo para ajudar os necessitados. Nãoacho que possamos subestimar os efeitos psicola³gicos e emocionais de todo o trauma que experimentamos no ano passado.
Todos esses fatores criaram uma situação muito vola¡til.
Infelizmente, émais fa¡cil usar o bode expiata³rio e direcionar a raiva e a faºria contra um culpado facilmente identifica¡vel do que compreender o problema em toda a sua complexidade. Os crimes de a³dio são motivados por preconceito e preconceito contra a raça, religia£o, orientação sexual ou nacionalidade real ou percebida das vitimas, e assim por diante. E embora possamos ver a luz no fim do taºnel da pandemia, o sofrimento causado pela perda humana e pelo desespero econa´mico não ira¡ embora tão cedo.
Na verdade, a pandemia revelou as profundas disparidades econa´micas e raciais que moldaram e continuam a moldar as chances de vida de diferentes comunidades raciais.
Infelizmente, pessoas com aparaªncia do Leste Asia¡tico, não apenas os chineses, tornaram-se o “culpado identifica¡vel†e marcado racialmente sobre quem a culpa pode ser colocada e a violência, decretada. Infelizmente, éo mais vulnera¡vel dos asia¡tico-americanos - os idosos - que tem sido as principais vitimas desses ataques racistas: o tailandaªs Vichar Ratanapakdee, de 84 anos, em Sa£o Francisco, o chinaªs-americano Pak Ho, 75, de Oakland e Nancy Toh , uma mulher coreano-americana de 83 anos em White Plains, Nova York, para citar apenas alguns.
Então, apenas ontem (16 de mara§o), seis mulheres asia¡tico-americanas foram baleadas, presumivelmente enquanto trabalhavam, em três diferentes salaµes de massagem em Atlanta, Gea³rgia.
Existem muitas nuances que causam esses tipos de atos, mas pode-se dizer que nosso sistema econa´mico gera inerentemente esse tipo de racismo e antagonismo que produz conflito racial e violência.
Os sistemas econa´micos da Amanãrica são capitalistas. Vocaª acha que a violência e o racismo contra os asia¡tico-americanos tem raazes no capitalismo americano?
Essa éuma questãocomplicada. A migração asia¡tica émoldada tanto pelos imperativos econa´micos de nossopaís quanto pelas questões políticas de pertencer a asia nos Estados Unidos. Vemos essas duas forças trabalhando em tensão uma com a outra de meados do século 19 em diante.
Como uma forma racializada de trabalho da³cil e complacente, os imigrantes asia¡ticos são bem-vindos a força de trabalho. No entanto, quando esses mesmos imigrantes buscam o direito a cidadania e a pertena§a, sua diferença racial muitas vezes se choca com o nacionalismo americano, que tem como premissa o domanio branco.
“a‰ mais fa¡cil usar o bode expiata³rio e direcionar a raiva e a faºria contra um culpado facilmente identifica¡vel do que entender o problema em toda a sua complexidade â€
- Lok Siu
Portanto, os asia¡tico-americanos ocupam essa posição preca¡ria. O que testemunhamos na história americana são irrupções episãodicas de violência anti-asia¡tica, que surgem da ideia profundamente arraigada de que são perpetuamente estrangeiros, apesar de sua integração econa´mica. Muitas vezes, a violência éacompanhada por discursos xena³fobos dos asia¡ticos como uma ameaça externa, seja ela econa´mica (empregos ou comanãrcio desleal), biomédica (doena§a) e / ou ideola³gica (comunismo).
Alguns estudiosos - e estou pensando em Cedric Robinson, em particular - argumentaram que o capitalismo sempre se baseou na diferenciação desigual do valor humano, com base no racismo, para explorar a acumulação econa´mica. Essa diferenciação desigual de valor humano leva a hierarquização racial, antagonismo e conflito.
Acho que a ideia de Robinson de “capitalismo racial†éuma forma produtiva de pensar não apenas como a racialização se cruza com o capitalismo, mas também como o capitalismo molda a dina¢mica racial entre diferentes grupos.
Vocaª acha que essas instituições e estruturas econa´micas causaram divisaµes entre os americanos de origem asia¡tica e as diferentes comunidades de cor?
Certamente háincidentes que refletem conflito racial. Por exemplo, podemos apontar eventos como o levante de Los Angeles de 1992 e o boicote da Red Apple em 1990 (Famalia) na cidade de Nova York. Ambos ocorreram em bairros economicamente empobrecidos que tem histórias complexas de fluxos migrata³rios sobrepostos. Cada um merece uma análise muito mais cuidadosa do que posso fornecer nesta entrevista.
a‰ importante reconhecer o trabalho a¡rduo que a comunidade coreana-americana e negra tem feito para construir solidariedade inter-racial e se engajar na justia§a restaurativa ao longo das décadas.
O que quero enfatizar éque muitas vezes nos concentramos em espeta¡culos de conflito racial, especialmente o conflito americano negro-asia¡tico, e deixamos de mostrar as prática s mundanas de colaboração racial. Isso éum efeito da tendaªncia da madia para o sensacionalismo, éclaro. Mas essa representação desequilibrada do conflito asia¡tico-negro ofusca todo o trabalho de base comunita¡rio importante e sustentado que estãosendo feito entre os asia¡tico-americanos, negros e outras pessoas de cor.
Esses tipos de colaboração inter-racial não são novos, e épreocupante que não os coloquemos mais em primeiro plano, porque eles nos fornecem um quadro hista³rico para compreender nosso momento contempora¢neo. Estou pensando, por exemplo, em Frederick Douglas, que falou contra a exclusão chinesa, na aliana§a de Yuri Kochiyama com Malcolm X e seu trabalho com ativistas negros, porto-riquenhos e asia¡tico-americanos.
Ha¡ também o ativismo vitalacio de Grace Lee Boggs pelos direitos civis e o movimento Black Power.
Se voltarmos nossa atenção para esses esforços de construção de aliana§as inter-raciais, acho que teraamos uma percepção muito diferente das relações raciais e um plano diferente de como abordar os problemas que confrontam nossas comunidades.
Por que éimportante que as comunidades negras trabalhem juntas em relação a violência anti-asia¡tica?
Os ativistas comunita¡rios entendem o trabalho do racismo sistemico e seus efeitos diferenciais nas comunidades de cor. Eles entendem a importa¢ncia de trabalhar em conjunto e em conjunto.
Por exemplo, os asia¡tico-americanos estãopedindo soluções não carcera¡rias para lidar com a violência anti-asia¡tica. Centenas de pessoas estãose oferecendo como volunta¡rias para escoltar idosos asia¡tico-americanos para mantaª-los seguros. E as comunidades negra e asia¡tico-americana estãose reunindo em manifestações para mostrar solidariedade.
Isso érealmente poderoso.
E espero que possamos sustentar esse tipo de engajamento e apoio maºtuo por muito tempo. Ainda hámuito trabalho pela frente, mas sinto que estamos em um momento de grandes possibilidades transformadoras.