Humanidades

Decifrando o ca³digo dos Manuscritos do Mar Morto
Os Pergaminhos do Mar Morto, descobertos hácerca de 70 anos, são famosos por conter os manuscritos mais antigos da Ba­blia Hebraica (Antigo Testamento) e muitos textos judeus antigos atéentão desconhecidos.
Por Universidade de Groningen - 21/04/2021


Dois mapas Kohonen 12x12 (mapas de cores azuis) do personagem aleph completo e aposta da coleção de Pergaminhos do Mar Morto. Cada um dos personagens nos mapas de Kohonen éformado a partir de várias insta¢ncias de personagens semelhantes (mostrado com uma caixa ampliada com linhas vermelhas). Esses mapas são aºteis para análise de desenvolvimento de estilo cronola³gico. No estudo atual de identificação do escritor, Fraglets (formas fragmentadas de caracteres) foram usados ​​em vez de formas completas de caracteres para obter resultados mais precisos (robustos). Crédito: Maruf A. Dhali, Universidade de Groningen

Os Pergaminhos do Mar Morto, descobertos hácerca de 70 anos, são famosos por conter os manuscritos mais antigos da Ba­blia Hebraica (Antigo Testamento) e muitos textos judeus antigos atéentão desconhecidos. Mas as pessoas por trás dos pergaminhos iludiram os cientistas, porque os escribas são ana´nimos. Agora, ao combinar as ciências e as humanidades, os pesquisadores da Universidade de Groningen decifraram o ca³digo, o que lhes permite descobrir os escribas por trás dos pergaminhos. Eles apresentaram seus resultados na revista PLOS ONE em 21 de abril.

Os escribas que criaram os pergaminhos não assinaram seu trabalho. Os estudiosos sugeriram que alguns manuscritos deveriam ser atribua­dos a um aºnico escriba com base na caligrafia. "Eles tentariam encontrar uma 'arma fumegante' na caligrafia, por exemplo, um traa§o muito especa­fico em uma carta que identificaria um escriba", explica Mladen Popović, professor de Ba­blia Hebraica e Judaa­smo Antigo na Faculdade de Teologia e Religia£o Estudos na Universidade de Groningen. Ele também édiretor do Instituto Qumran da universidade, dedicado ao estudo dos Manuscritos do Mar Morto. No entanto, essas identificações são um tanto subjetivas e frequentemente debatidas de maneira acalorada.

Escribas

Popović, em seu projeto "As ma£os que escreveram a Ba­blia", juntou-se a seu colega Lambert Schomaker, professor de Ciência da Computação e Inteligaªncia Artificial na Faculdade de Ciências e Engenharia. Schomaker trabalha hámuito tempo em técnicas para permitir que os computadores leiam manuscritos, geralmente de materiais hista³ricos. Ele também realizou estudos para investigar como caracteri­sticas biomeca¢nicas, como a maneira como alguém segura uma caneta ou estilete, afetariam a escrita.

Neste estudo, junto com o Ph.D. candidato Maruf Dhali, eles se concentraram em um pergaminho em particular: o famoso Pergaminho do Grande Isaa­as (1QIsa a ) da Caverna Qumran 1. A caligrafia neste pergaminho parece quase uniforme, mas foi sugerido que foi feito por dois escribas que compartilham um estilo de escrita. Então, como isso poderia ser decidido?

Schomaker diz: "Este pergaminho contanãm a letra aleph, ou" A ", pelo menos 5.000 vezes. a‰ impossí­vel compara¡-los todos apenas a olho." Os computadores são adequados para analisar grandes conjuntos de dados, como 5.000 A's escritos a  ma£o. A imagem digital possibilita todos os tipos de ca¡lculos de computador, no microna­vel de caracteres, como medir a curvatura (chamada de textura), bem como caracteres inteiros (chamados de alogra¡ficos).

(da esquerda para a direita) Imagem em escala de cinza da coluna 15 do Grande
Pergaminho de Isaa­as, a imagem binarizada correspondente usando BiNet e a imagem
corrigida e limpa. Pelas caixas vermelhas das duas últimas imagens, pode-se ver como
a rotação e a transformação geomanãtrica são corrigidas para produzir uma imagem
melhor para processamento posterior. Crédito: Reimpresso de Lim TH, Alexander PS.
Volume 1. In: The Dead Sea Scrolls Electronic Library. Brill; 1995 sob uma licena§a
CC BY, com permissão da Brill Publishers, copyright original de 1995.

Rede neural

"O olho humano éincra­vel e provavelmente leva esses na­veis em consideração também. Isso permite que os especialistas vejam as ma£os de diferentes autores, mas essa decisão muitas vezes não éalcana§ada por um processo transparente", diz Popović. "Além disso, évirtualmente impossí­vel para esses especialistas processar a grande quantidade de dados que os pergaminhos fornecem." a‰ por isso que seus resultados muitas vezes não são conclusivos.
 
O primeiro obsta¡culo foi treinar um algoritmo para separar o texto (tinta) de seu fundo (o couro ou o papiro). Para essa separação, ou "binarização", Dhali desenvolveu uma rede neural artificial de última geração que pode ser treinada usando aprendizado profundo. Essa rede neural mantanãm os traa§os de tinta originais feitos pelo escriba hámais de 2.000 anos intactos conforme aparecem nas imagens digitais. "Isso éimportante porque os traa§os de tinta antigos se relacionam diretamente ao movimento muscular de uma pessoa e são específicos da pessoa", explica Schomaker.

Semelhana§as

Dhali realizou o primeiro teste anala­tico deste estudo. Sua análise das caracteri­sticas texturais e alogra¡ficas mostrou que as 54 colunas de texto no Grande Pergaminho de Isaa­as caa­ram em dois grupos diferentes que não foram distribua­dos aleatoriamente no rolo, mas foram agrupados, com uma transição em torno da marca da metade.

Com a observação de que poderia haver mais de um escritor, Dhali então passou os dados para Schomaker, que então recalculou as semelhanças entre as colunas, agora usando os padraµes dos fragmentos de letras. Esta segunda etapa anala­tica confirmou a presença de dois diferentes. Va¡rias verificações e controles adicionais foram realizados. Schomaker: "Quando adicionamos rua­do extra aos dados, o resultado não mudou. Tambanãm conseguimos demonstrar que o segundo escriba mostra mais variação em sua escrita do que o primeiro, embora sua escrita seja muito semelhante."

Caligrafia

Na terceira etapa, Popović, Dhali e Schomaker produziram uma análise visual. Eles criaram mapas de calor que incorporam todas as variantes de um personagem no pergaminho. Em seguida, eles produziram uma versão média desse personagem para as primeiras 27 colunas e as últimas 27 colunas. A comparação dessas duas letras médias a olho mostra que elas são diferentes. Isso vincula a análise computadorizada e estata­stica a  interpretação humana dos dados por aproximação, porque os mapas de calor não são dependentes nem produzidos a partir das análises prima¡ria e secunda¡ria.

Certos aspectos do pergaminho e o posicionamento do texto levaram alguns estudiosos a sugerir que depois da coluna 27 um novo escriba tinha comea§ado, mas isso não foi geralmente aceito. Popović: "Agora, podemos confirmar isso com uma análise quantitativa da caligrafia, bem como com análises estata­sticas robustas. Em vez de basear o julgamento em evidaªncias mais ou menos impressionistas, com a ajuda inteligente do computador, podemos demonstrar que o a separação éestatisticamente significativa. "

Além de transformar a paleografia dos pergaminhos - e potencialmente outros corpora de manuscritos antigos - este estudo do Grande Manuscrito de Isaa­as abre uma maneira totalmente nova de analisar os textos de Qumran com base em caracteri­sticas físicas. Agora, os pesquisadores podem acessar o microna­vel de escribas individuais e observar cuidadosamente como eles trabalharam nesses manuscritos.

Popović: "Isso émuito emocionante, porque abre uma nova janela no mundo antigo que pode revelar conexões muito mais intrincadas entre os escribas que produziram os manuscritos. Neste estudo, encontramos evidaªncias de um estilo de escrita muito semelhante compartilhado pelos dois Grandes escribas do Pergaminho de Isaa­as, o que sugere um treinamento ou origem comum. Nosso pra³ximo passo éinvestigar outros pergaminhos, onde podemos encontrar diferentes origens ou treinamento para os escribas. "

Dessa forma, serápossí­vel aprender mais sobre as comunidades que produziram os Manuscritos do Mar Morto. "Agora podemos identificar diferentes escribas", conclui Popović. "Nunca saberemos seus nomes. Mas depois de setenta anos de estudo, parece que podemos finalmente apertar a ma£o deles por meio de sua caligrafia."

 

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