Humanidades

Os jovens que sofrem bullying são mais propensos a fantasiar sobre cometer atos de violência, diz estudo
Experimentar bullying e formas de agressão no final da adolescaªncia e no ini­cio da idade adulta estãorelacionado a um aumento acentuado na probabilidade de ter devaneios ou fantasias sobre machucar ou matar pessoas, constata estudo.
Por Fred Lewsey - 28/04/2021


Olhos zangados - Crédito: Bas Leenders


"a‰ a diferença entre as condições que deixam as pessoas zangadas e chateadas e aquelas que as tornam vingativas"

Manuel Eisner

Embora a pesquisa tenha mostrado que um número significativo de pessoas fantasiam em infligir danos, pouco se sabe sobre os processos por trás dessas “ideações violentas”.   

Uma equipe liderada por um professor da Universidade de Cambridge acompanhou os pensamentos e experiências autorrelatados de 1.465 jovens de escolas em toda a cidade sua­a§a de Zurique com idades de 15, 17 e 20 anos.

Os pesquisadores coletaram dados sobre se pensamentos violentos ocorreram nos últimos 30 dias e os tipos de bullying ou agressão experimentados nos últimos 12 meses.

Eles usaram questiona¡rios para sondar os na­veis de agressão (humilhação, espancamentos, assassinato) e alvos imagina¡rios (estranhos, amigos) nas fantasias mais sombrias dos jovens.

A equipe também perguntou sobre experiências de 23 formas de “vitimização”, como insultos, ataques fa­sicos e assanãdio sexual por colegas, pais agressivos - gritar, bater, bater com um cinto - e violência no namoro, por exemplo, ser pressionado a fazer sexo.

Embora a maioria dos adolescentes tenha sido vitimada de pelo menos uma maneira, experimentar uma sanãrie de maus-tratos estava “intimamente associado” a uma maior probabilidade de pensar em matar, atacar ou humilhar outras pessoas.

Os meninos eram mais propensos a pensamentos violentos em geral, mas o efeito de maºltiplas vitimizações em fantasias violentas era muito semelhante em ambos os sexos.

Entre os meninos de 17 anos que não foram vitimados no ano anterior, a probabilidade de fantasias violentas no último maªs foi de 56%.

Com cada tipo adicional de maus-tratos, a probabilidade de fantasias violentas aumentava em até8%. Aqueles que listaram cinco formas de vitimização tiveram 85% de probabilidade de ter fantasias violentas; para aqueles que listaram dez, foi de 97%.

Entre as meninas da mesma idade, nenhuma experiência de vitimização teve uma probabilidade de fantasia violenta de 23%, que aumentou para 59% nas que listaram cinco tipos de maus-tratos e 73% nas que disseram ter sofrido dez.

“Uma maneira de pensar sobre fantasias écomo nosso cérebro ensaiando cenários futuros”, disse o professor Manuel Eisner, diretor do Centro de Pesquisa de Violaªncia de Cambridge e principal autor do estudo publicado na revista Aggressive Behavior .

“O aumento das fantasias violentas entre aqueles que sofrem bullying ou maus-tratos pode ser um mecanismo psicola³gico para ajudar a prepara¡-los para a violência que estãopor vir”, disse ele.

“Essas fantasias de revidar os outros podem ter raa­zes profundas na história da humanidade, de uma anãpoca em que as sociedades eram muito mais violentas e a retribuição - ou a ameaça dela - era uma forma importante de proteção.”

De acordo com Eisner, a pesquisa indica a extensão da ideação violenta em sociedades aparentemente paca­ficas como a Sua­a§a - com pensamentos assassinos surpreendentemente comuns.

“Cerca de 25% de todos os meninos de 17 anos e 13% das meninas relataram ter pelo menos uma fantasia de matar uma pessoa que conhecem nos últimos trinta dias. Quase um em cada cinco de todos os participantes do estudo nessa idade. Esses pensamentos podem ser profundamente perturbadores para aqueles que os vivenciam ”, disse ele.

A equipe - incluindo pesquisadores da Universidade de Zurique, Universidade de Edimburgo, Universidade de Utrecht, Universidade de Leiden e Universidad de la Republica - coletou e analisou uma grande quantidade de dados.

Como tal, eles foram capazes de filtrar e "controlar" outros possa­veis gatilhos para o pensamento violento nos adolescentes. Por exemplo, eles descobriram que o status socioecona´mico desempenhava um papel pequeno nas taxas de fantasia violenta.

O estudo também mostra que “eventos adversos na vida”, como problemas financeiros ou separação dos pais, não tiveram impacto significativo. “Pensamentos de matar outras pessoas são desencadeados por experiências de agressão interpessoal, ataques a  nossa identidade pessoal, ao invanãs de esta­mulos nocivos em geral”, disse Eisner.

“a‰ a diferença entre as condições que deixam as pessoas zangadas e chateadas e aquelas que as tornam vingativas.”

Seguindo a maioria dos adolescentes atéa idade adulta, os pesquisadores puderam rastrear padraµes ao longo de vários anos. As taxas gerais dos pensamentos mais extremos diminua­ram aos 20 anos: apenas 14% dos homens jovens e 5,5% das mulheres pensaram em matar alguém que conhecem no maªs anterior.   

No entanto, os efeitos da vitimização nas fantasias violentas não diminua­ram a  medida que cresceram, sugerindo que a intensidade desse mecanismo psicola³gico pode não desaparecer.   

“Este estudo não examinou se as ideações violentas causadas pela vitimização realmente levam a um comportamento violento. No entanto, um achado consistente em toda a criminologia éque as vitimas muitas vezes se tornam criminosos e vice-versa ”, disse Eisner. 

“As fantasias são desenfreadas, e a vingana§a tomada em nossas mentes éfrequentemente desproporcional ao evento do mundo real que a desencadeou.

“Estudar os mecanismos por trás de fantasias violentas, especialmente em uma idade jovem, pode ajudar com intervenções direcionadas que podem impedir que a ruminação obsessiva se torne terrivelmente real”. 

 

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