Humanidades

Como a preferaªncia dos jornalistas por números redondos pode influenciar as eleições
Governadores, cuidado: quando os jornais destacam os marcos do desemprego, isso pode custar seu assento.
Por Shinhee Kang - 11/06/2021


Uma nova pesquisa mostra o impacto dos relatórios de empregos nas eleições estaduais. | Crédito: Albert Gea

Os jornalistas gostam de dizer que a ma­dia não dizer a s pessoas o que pensar, mas faz as pessoas dizer o que pensar sobre . Mas como as escolhas da ma­dia sobre o que cobrir influenciam a forma como as pessoas votam - e, consequentemente, os resultados das eleições? E como isso pode ser medido?

Intrigado com essas perguntas, Gregory J. Martin , professor assistente de economia pola­tica na Stanford Graduate School of Business, juntou-se a Marcel Garzabrir em uma nova janela, professor associado de economia da Ja¶nka¶ping International Business School, para explorar como a cobertura jornala­stica das taxas de desemprego estaduais afeta os resultados das disputas para governador. Suas descobertas foram publicadas recentemente em um artigo no American Journal of Political Science .

Para isolar os efeitos da cobertura da ma­dia, eles se concentraram nos eventos “marcos” do desemprego que geraram mais atenção da ma­dia. Os marcos produziram variação na cobertura de nota­cias da economia entre os estados, com diferenças insignificantes nas condições econa´micas subjacentes, permitindo a Martin e Garz separar o efeito das nota­cias sobre a economia do efeito do estado real da própria economia. A influaªncia dessas nota­cias proeminentes foi significativa: “A relação entre as taxas de desemprego e a votação émuito mais forte se houver um marco do que se não houver nenhum marco”, diz Martin.

Uma tendaªncia para números redondos

A cada maªs, o Bureau of Labor Statistics publica um relatório das taxas de desemprego por estado. Seus números são arredondados para a casa decimal mais próxima - um detalhe importante que influencia o senso dos jornalistas sobre o que édigno de nota. Martin e Garz procuraram casos entre 2000 e 2018 em que as taxas de desemprego ultrapassaram um marco, definido como o cruzamento de um número redondo, como passar de 4,9% para 5,1%. Eles descobriram que, quando as taxas de desemprego ultrapassam esses limites, háum aumento desconta­nuo e substancial (cerca de 10%) na quantidade de cobertura jornala­stica do desemprego.

Por exemplo, digamos que haja dois estados, A e B. No estado A, a última taxa de desemprego relatada foi de 4,6%. No estado B, o valor fica em 4,5%. Digamos também que, em um determinado maªs, a taxa de desemprego de ambos os estados aumenta 0,4%: o estado A atinge a marca de 5%, enquanto o estado B fica um pouco aquanãm do número redondo, em 4,9%. Os resultados do estudo indicam que o estado que chega a 5% tera¡ mais cobertura das condições de desemprego, simplesmente porque sua taxa passou de um referencial.

"a‰ um vianãs psicola³gico que as pessoas tendem a olhar para o primeiro da­gito de um número e 10 parece muito maior do que 9,9. a‰ a razãopela qual os prea§os tem 9 no final deles".

Gregory J. Martin

“A diferença entre um estado que tem uma taxa de 5% e outro que tem uma taxa de 4,9% - essa não éuma diferença real”, diz Martin. “a‰ um erro de medição. Portanto, o estado real da economia ébastante semelhante em ambos os lugares. E então o que obtemos disso éa variação na quantidade de cobertura da economia pela ma­dia em lugares com taxas semelhantes, não relacionadas a diferenças reais na economia ”.

Então, o que explica a variação na cobertura? Na opinia£o de Martin, mesmo quando onívelde desemprego e a quantidade demudanças são semelhantes em dois estados, cruzar um número redondo informa a avaliação dos repa³rteres sobre o valor da nota­cia. “a‰ um vianãs psicola³gico que as pessoas tendem a olhar para o primeiro da­gito de um número e 10 parece maior do que 9,9. a‰ por isso que os prea§os tem 9 no final deles ”, explica Martin. Esse “vianãs do da­gito esquerdo” leva os repa³rteres a enquadrar as histórias vinculadas a números redondos como mais importantes ou hista³ricos. “Então, pensamos que esse tipo de história éimpulsionado pelo vianãs psicola³gico em direção ao primeiro da­gito”, diz ele.

Classificando governadores em cargos

Depois de determinarem que os marcos do desemprego recebem mais cobertura da ma­dia, Martin e Garz analisaram como isso afeta o voto.

Eles se concentraram nas disputas pela cadeira de governador porque, como Martin explica, háuma “literatura de longa data que sugere que governadores e executivos em geral, como presidentes, são responsa¡veis ​​pela economia”. Os governadores podem decretar políticas estaduais e administrar agaªncias; na cabea§a dos eleitores, eles são vistos como responsa¡veis ​​diretos pelas condições econa´micas do Estado. “A evidência de que os governantes se beneficiam de uma economia forte e são punidos por uma economia ruim émais forte para os executivos do que para os legisladores.”

Com as condições econa´micas reais mantidas constantes, Martin e Garz descobriram efeitos marcantes na participação dos titulares na votação. Seus dados indicam que um evento marco “bom” (como uma taxa de desemprego em queda ultrapassando um número redondo) imediatamente antes de uma eleição ajuda a aumentar a participação de votos de um governador em exerca­cio em cerca de 5%. Por outro lado, um evento de marco negativo causa uma diminuição de mais de 10% na participação de votos do titular. Esse número foi uma surpresa para Martin: “O tamanho do efeito sobre a corrida do governador émaior do que preva­amos”, diz ele.

Quando não havia um marco hista³rico de desemprego, o efeito das taxas de desemprego nas eleições era esta¡vel, ilustrando ainda mais o impacto das nota­cias econa´micas a  medida que as eleições se aproximavam. “Quando não hámuita cobertura da ma­dia, [as pessoas] não sabem disso e, portanto, não o usam em suas decisaµes de voto”, diz Martin.

Martin diz que sua pesquisa revela o poder de definição da agenda da ma­dia, “algo que édifa­cil de detectar na maioria das vezes”. Ele espera que suas descobertas ajudem a tornar os jornalistas mais conscientes de seus preconceitos e demonstrem ainda que a "capacidade da ma­dia de determinar o que as pessoas estãopensando, como as questões que consideram ao votar, érealmente importante para as eleições e para a prestação de contas".

 

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