Humanidades

Cisão pola­tica emergente em toda a Europa entre as cidades e o campo - estudo
“Geografia da desilusão” representa um grande desafio para ospaíses democra¡ticos em todo o continente, de acordo com pesquisadores.
Por Fred Lewsey - 20/08/2021


As ruas secunda¡rias de Montpellier, Frana§a - Crédito: Miguel Alca¢ntara

"Amedida que o desencanto aumenta nos sertaµes europeus, a pola­tica democra¡tica corre o risco de ser corroa­da por dentro"

Davide Luca

Um novo estudo revela a extensão da divisão pola­tica que se abre entre a cidade e o campo em toda a Europa, com pesquisas sugerindo que a polarização pola­tica no século 21 pode ter muito a ver com lugar e localização.

Os pesquisadores da Universidade de Cambridge analisaram os dados da pesquisa coletados entre 2002 e 2018 para avaliar as atitudes sociais e ca­vicas das pessoas nas cidades, vilas e áreas rurais de 30países europeus.

As descobertas mostram que a divisão pola­tica em todo o continente segue um 'gradiente' de desencanto e desconfianção na democracia que aumenta a  medida que ela se move dos centros urbanos para os subaºrbios, cidades, vilas e para o campo aberto.

As pessoas nas partes mais rurais da Europa tem os na­veis mais baixos de confianção no atual sistema pola­tico de seupaís - e ainda assim são significativamente mais propensas do que suas contrapartes urbanas a realmente votar nas eleições.

Os que estãonos subaºrbios, seguidos pelas cidades e depois pelo campo, tem cada vez mais probabilidade de se verem como politicamente conservadores e tem pontos de vista anti-imigração e anti-UE, enquanto os moradores das cidades tendem para a esquerda.

No entanto, não são as áreas rurais mais pobres onde a desilusão émais forte, e os moradores de pequenas cidades e do campo relatam na­veis muito mais altos de satisfação com a vida enquanto expressam insatisfação com as instituições democra¡ticas.

Pesquisadores do Instituto Bennett de Pola­ticas Paºblicas e do Departamento de Economia Territorial de Cambridge afirmam que o estudo sugere uma "fratura geogra¡fica cada vez mais profunda" nas sociedades europeias, que poderia ver um retorno a s ra­gidas divisaµes políticas urbano-rurais do ini­cio do século 20.

“Aqueles que vivem fora dos principais centros urbanos da Europa tem muito menos féna pola­tica”, disse o coautor do estudo, Professor Michael Kenny, do Instituto Bennett.

“O crescimento do desencanto em áreas mais rurais forneceu solo fanãrtil para partidos e causas nacionalistas e populistas - uma tendaªncia que parece destinada a continuar.”

“Os pola­ticos tradicionais que buscam reconquistar os residentes de pequenas cidades e vilarejos devem fornecer oportunidades econa´micas, mas também precisam lidar com os sentimentos de desconexão da pola­tica dominante e asmudanças associadas a uma economia mais globalizada”, disse ele.

Em toda a Europa Ocidental, os residentes de áreas rurais tem em média 33,5% mais probabilidade de votar do que aqueles em cidades do interior, mas 16% menos probabilidade de relatar um aumento de uma unidade em sua confianção nos partidos pola­ticos em uma escala de 0 a 10. Eles também são muito menos propensos a se envolver em ações políticas, como protestos e boicotes.

O conservadorismo aumenta gradativamente a  medida que os locais mudam do subaºrbio para a cidade e para o campo. Os europeus em áreas rurais tem em média 57% mais probabilidade de se sentir um ponto mais pra³ximo a  direita no espectro pola­tico (em uma escala de dez pontos em que cinco éo centro) do que um morador da cidade.

Quando questionados se a migração e a UE 'enriquecem a cultura nacional', os europeus rurais tem 55% mais probabilidade do que os das cidades de discordar em uma unidade em uma escala de dez unidades.

No entanto, em questões de estado de bem-estar e confianção na pola­cia - ambos ica´nicos nas batalhas reta³ricas do pa³s-guerra entre esquerda e direita - nenhuma divisão urbano-rural foi detectada. “As preocupações com a lei e o bem-estar podem não ser mais a chave para a geografia pola­tica da Europa em nossa nova era populista”, disse Kenny.

No ano passado, uma pesquisa do Instituto Bennett revelou um decla­nio global na satisfação com a democracia, e o estudo mais recente sugere que - pelo menos na Europa - isso émais agudo nas áreas rurais.

Depois de descontar caracteri­sticas que normalmente se pensavam influenciar as atitudes políticas, desde a educação atéa idade, os pesquisadores ainda descobriram que as pessoas em moradias rurais eram 10% mais propensas do que os urbanos a relatar uma queda de uma unidade na satisfação democra¡tica (em uma escala de 0 a 10).

“Descobrimos que háuma geografia nos padraµes atuais de desilusão pola­tica”, disse o Dr. Davide Luca, do Departamento de Economia da Terra, coautor do estudo agora publicado no Cambridge Journal of Regions, Economy and Society .

“Amedida que o desencanto aumenta no interior da Europa, a pola­tica democra¡tica corre o risco de ser corroa­da por dentro por pessoas que se engajam nas eleições, mas não confiam no sistema e são atraa­das por partidos populistas e anti-sistema.”

Das 30 nações analisadas - a UE27 mais a Noruega, a Sua­a§a e o Reino Unido - a Frana§a teve a divisão urbano-rural mais acentuada em atitudes políticas. “Grandes cidades como Paris e Lyon são vistas como altamente globalizadas e cheias de boaªmios apelidados de 'bobos', enquanto pequenas cidades e áreas rurais são habitadas principalmente por imigrantes de longa data e pelas classes trabalhadoras inda­genas”, disse Luca.

Embora menos pronunciada em todo o Canal, a tendaªncia ainda estãomuito em evidência no Reino Unido. “Cambridge éum excelente exemplo”, explica Luca. “O centro hospeda os principais laboratórios e empresas do mundo, embora a grande Cambridge seja uma das cidades menos iguais do Reino Unido - e as cidades mercantis dos pa¢ntanos estãoainda mais desconectadas do centro hiperglobalizado da cidade.”

Luca acrescentou: “O envelhecimento da população em pequenas cidades e vilarejos, combinado com anos de austeridade, pressionou os servia§os paºblicos nas áreas rurais - servia§os que geralmente são essenciais para as conexões sociais necessa¡rias para o desenvolvimento de uma comunidade.

“Reavivar esses servia§os pode ser a chave para reduzir as divisaµes políticas emergentes entre as populações urbanas e rurais em toda a Europa.”

 

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