Humanidades

Os pesquisadores reconstroem os ramos principais da a¡rvore da linguagem
Um dos objetivos definidores da lingua­stica hista³rica émapear a ancestralidade das la­nguas modernas o mais longe possí­vel - talvez, alguns linguistas esperam, atéum aºnico ancestral comum que constituiria o tronco da a¡rvore metafa³rica.
Por Instituto Santa Fe - 10/09/2021


Imagem representativa de uma a¡rvore ramificada. Crédito: Kevin Wenning / Unsplash.com

A diversidade das la­nguas humanas pode ser comparada aos galhos de uma a¡rvore. Se vocêestãolendo isso em inglês, estãoem um ramo que remonta a um ancestral comum com os escoceses, que remonta a um ancestral mais distante que se dividiu em alema£o e holandaªs. Indo mais longe, estãoo ramo europeu que deu origem ao germa¢nico; Canãltico; Albanaªs; as la­nguas eslavas; as la­nguas roma¢nicas como o italiano e o espanhol; Armaªnio; Ba¡ltico; e grego helaªnico. Antes deste ramo, e cerca de 5.000 anos na história humana, existe o indo-europeu - uma protolinguagem importante que se dividiu no ramo europeu de um lado e, do outro, o ancestral indo-iraniano do persa moderno, nepalaªs, bengali, Hindi e muitos mais.

Um dos objetivos definidores da lingua­stica hista³rica émapear a ancestralidade das la­nguas modernas o mais longe possí­vel - talvez, alguns linguistas esperam, atéum aºnico ancestral comum que constituiria o tronco da a¡rvore metafa³rica. Mas, embora muitas conexões emocionantes tenham sido sugeridas com base em comparações sistemicas de dados da maioria das la­nguas do mundo, muito do trabalho, que remonta ao século XIX, estava sujeito a erros. Os linguistas ainda estãodebatendo sobre a estrutura interna de fama­lias bem estabelecidas como o indo-europeu, e sobre a própria existaªncia de fama­lias cronologicamente mais profundas e maiores.

Para testar quais ramos se sustentam sob o peso do escruta­nio, uma equipe de pesquisadores associada ao programa Evolução das La­nguas Humanas estãousando uma nova técnica para vasculhar os dados e reconstruir os ramos principais da a¡rvore lingua­stica. Em dois artigos recentes, eles examinam a familia indo-europeia de aproximadamente 5.000 anos, que foi bem estudada, e um ramo mais taªnue e antigo conhecido como macrofamilia altaica, que se acredita conectar os ancestrais lingua­sticos dessas la­nguas distantes como turco, mongol, coreano e japonaªs.

"Quanto mais vocêquiser voltar no tempo, menos podera¡ confiar nos manãtodos cla¡ssicos de comparação de la­nguas para encontrar correlatos significativos", diz o coautor George Starostin, professor externo do Santa Fe Institute da Escola Superior de Economia de Moscou . Ele explica que um dos maiores desafios na comparação entre idiomas édistinguir entre palavras que tem sons e significados semelhantes, porque podem ser descendentes de um ancestral comum, daqueles que são semelhantes porque suas culturas tomaram emprestados termos umas das outras no passado mais recente.

“Temos que chegar a  camada mais profunda da linguagem para identificar sua ancestralidade porque as camadas externas estãocontaminadas. Elas são facilmente corrompidas por substituições e empréstimos”, diz ele.

Para explorar as camadas centrais da linguagem, a equipe de Starostin comea§a com uma lista estabelecida de conceitos centrais e universais da experiência humana. Inclui significados como "pedra", "fogo", "nuvem", "dois", "ma£o" e "humano", entre 110 conceitos no total. Trabalhando a partir dessa lista, os pesquisadores então usam manãtodos cla¡ssicos de reconstrução lingua­stica para chegar a uma sanãrie de formas de palavras que, em seguida, combinam com significados específicos da lista. A abordagem, apelidada de " reconstrução onomasiola³gica " , difere notavelmente das abordagens tradicionais da lingua­stica comparativa porque se concentra em descobrir quais palavras foram usadas para expressar um determinado significado na protolinguagem,
 
Sua última  reclassificação  da familia indo-europeia, que aplica o princa­pio onomasiola³gico e foi publicada no jornal  Linguistics , confirmou genealogias bem documentadas na literatura. Pesquisas semelhantes   sobre o grupo de la­nguas eurasia¡ticas altaicas, cuja protolinguagem remonta a cerca de 8.000 anos, confirmou um sinal positivo de uma relação entre a maioria dos ramos principais do altaico - turco, monga³lico, tungusico e japonaªs. No entanto, ele falhou em reproduzir uma relação publicada anteriormente entre o coreano e as outras la­nguas do grupo altaico. Isso pode significar que os novos critanãrios eram muito ra­gidos ou (menos prova¡vel) que os agrupamentos anteriores estavam incorretos.

Amedida que os pesquisadores testam e reconstroem os ramos da linguagem humana, um dos objetivos finais éentender os caminhos evolutivos que as la­nguas seguem ao longo das gerações, da mesma forma que os bia³logos evolucionistas fazem para os organismos vivos.

“Uma grande coisa sobre a reconstrução hista³rica das la­nguas éque ela écapaz de trazer muitas informações culturais”, diz Starostin. "Reconstruir sua filogenia interna, como estamos fazendo nesses estudos, éo passo inicial para um procedimento muito maior de tentar reconstruir uma grande parte do estoque lexical dessa la­ngua , incluindo seu lanãxico cultural."

 

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