Humanidades

Refletindo em 11 de setembro, 20 anos depois
Steven Simon, o Robert E. Wilhelm Fellow no Centro de Estudos Internacionais do MIT e um especialista em estratanãgia dos EUA e a guerra contra o terrorismo, pondera sobre o 11 de setembro e para onde podemos ir a partir daqui.
Por Centro de Estudos Internacionais - 12/09/2021



Créditos: Foto: Anthony Quintano / Wikimedia Commons

O 20º aniversa¡rio dos ataques de 11 de setembro de 2001 éuma ocasia£o para relembrar a resposta americana a s atrocidades, como e por que ocorreram e quais são as implicações para a futura pola­tica global que trata de grupos terroristas. A longa guerra no Afeganistão, umpaís dilacerado pela guerra que abrigou Osama bin Laden e a Al Qaeda, e a guerra subsequente no Iraque tirou centenas de milhares de vidas, entre elas vários milhares de militares americanos, e deu ini­cio a uma guerra global contra o terror que por a maioria dos ca¡lculos teve resultados duvidosos. 

Steven Simon, o Robert E Wilhelm Fellow no Centro de Estudos Internacionais do MIT, éuma das pessoas que observou o desenrolar da guerra contra o terrorismo do ponto de vista da equipe da Casa Branca e como acadêmico e escritor. Ele serviu como diretor saªnior do Conselho de Segurança Nacional para o Oriente Manãdio e Norte da áfrica durante o governo Obama e como diretor saªnior do conselho para contraterrorismo na Casa Branca de Clinton. Essas atribuições seguiram uma carreira de 15 anos no Departamento de Estado dos EUA. Entre as nomeações para o governo, ele trabalhou no setor privado e na academia. Ele veio para o MIT do Colby College, onde foi professor de prática de relações internacionais. Simon écoautor de livros sobre a resposta dos EUA ao 11 de setembro, incluindo O Pra³ximo Ataque: O Fracasso da Guerra ao Terror e uma Estratanãgia para Acertar, que foi finalista do Praªmio Lionel Gelber e listado entre os melhores livros do ano sobre o assunto no The Washington Post e Financial Times.

Nesta entrevista, Simon reflete sobre a cata¡strofe de 11 de setembro e oferece alguns conselhos sobre o que podemos fazer a partir daqui.

P: Olhando para trás, para os eventos que levaram ao 11 de setembro, écomum observar que a falta de comunicação entre a Agência Central de Inteligaªncia dos Estados Unidos e o Federal Bureau of Investigation contribuiu para a execução dos ataques. Com base em sua experiência na Casa Branca antes do 11 de setembro, vocêconcorda que essa foi a falha de inteligaªncia mais significativa?                       

UMA: Tal como acontece com muitos ataques surpresa, o 11 de setembro envolveu uma sanãrie interligada de falhas de inteligaªncia e políticas. No doma­nio da inteligaªncia, não havia daºvida de que o fracasso da CIA em informar o FBI da entrada nos Estados Unidos de dois sequestradores importantes, que foram rastreados pela CIA em uma reunia£o da Al Qaeda em Kuala Lumpur, foi um erro crasso. . Existem questões lega­timas sobre o quanto bem o FBI teria se saa­do, mesmo se eles tivessem sido informados. Por exemplo, outro conspirador que estava presente na reunia£o de Kuala Lumpur, Zacharious Moussaoui, foi preso pouco antes do 11 de setembro por violação da imigração. O escrita³rio local do FBI concluiu que ele fazia parte de um ataque iminente, mas seu pedido de um mandado para explorar o computador de Moussaoui foi recusado pela sede em DC. Houve, em qualquer caso, uma reluta¢ncia de longa data entre o pessoal da CIA em compartilhar inteligaªncia com as autoridades policiais. Essas informações acabariam sendo usadas por promotores que as revelariam, prejudicando assim as fontes e manãtodos e o acesso conta­nuo a  inteligaªncia de fontes e ativos importantes.

Talvez ainda mais prejudicial foi o fracasso de ambas as agaªncias em detectar a criação meta³dica por funciona¡rios do governo saudita de uma infraestrutura de apoio nos Estados Unidos para facilitar a entrada dos sequestradores e incorpora¡-los, financiar, abrigar e equipar com carteira de motorista e assim por diante. a‰ prova¡vel que muitos outros no governo saudita estivessem cientes do desvio de recursos para apoiar a Al Qaeda, mesmo quando os EUA designaram o grupo como uma organização terrorista que atacou repetidamente os EUA (não háevidaªncias de que os pra³prios Al Saud estavam ciente dessa atividade.) Os erros de pola­tica giravam em torno da convicção de uma nova administração de que os principais desafios para os EUA emanavam de Estados-nação adversa¡rios, em vez de atores subestatais operando de forma auta´noma com base em justificativas religiosas para a violência. Consequentemente, a declaração frequentemente citada de Condoleezza Rice [então conselheira de segurança nacional dos EUA] de que o presidente [George W.] Bush se recusou a se distrair de um trabalho importante tendo que "espantar moscas". Infelizmente, 19 dessas moscas destrua­ram as torres do World Trade Center, destrua­ram grande parte do Penta¡gono e massacraram os passageiros e a tripulação de quatro aeronaves comerciais, levando o governo Bush a uma guerra sangrenta de 20 anos.

P: A resposta inicial - caçar Osama bin Laden e derrubar o estado do Taleban - foi a correta?

R: A maioria dos observadores concordaria que a Al Qaeda não poderia continuar a atacar os Estados Unidos e que o Taleban foi um coconspirador indispensa¡vel, na medida em que abrigou não apenas Bin Laden, mas também os campos onde os sequestradores foram treinados e doutrinados. A lógica estratanãgica sugeria que a dissuasão são poderia ser restaurada com a destruição da Al Qaeda e de seu patrocinador afega£o. E havia ampla justificativa para esse amplo curso de ação no direito internacional consuetudina¡rio e na Carta da ONU.           

P: Que conselho vocêdaria para a administração Biden daqui para frente? 

R: Existem algumas coisas que são a³bvias. A primeira éque o terrorismo não ira¡ embora. As queixas persistira£o, os meios estara£o disponí­veis e os indivíduos predispostos a  ação continuara£o a circular. O terrorismo domanãstico conduzido por supremacistas brancos estãoaumentando, embora o número de jihadistas, de acordo com a ONU, esteja em umnívelmais alto. O uso extensivo de armas químicas na Sa­ria e os avanços na edição do genoma no contexto de uma pandemia brutal semeara£o a ideia de usar essas armas contra adversa¡rios. O ciberterrorismo talvez seja uma ameaça menor, mas évia¡vel, com base em modelos criminosos e potencialmente oneroso para a va­tima.

A prescrição geralmente avana§ada éa resiliencia social e infraestrutural. Mas, para cunhar uma frase, a resiliencia éinútil se a pola­tica de contraterrorismo se transformar em mais uma ferramenta partida¡ria. De todos os desafios, o terrorismo éo que mais provavelmente gerara¡ uma reação perigosamente excessiva, ao mesmo tempo que degradara¡ o estado da pola­tica americana se as duas partes não cooperarem na construção e implementação de defesas eficazes. Se a pola­tica estiver quebrada demais para permitir tal preparação, então um ataque bem-sucedido contra os Estados Unidos serámais prova¡vel, o jogo da culpa partida¡ria mais venenoso e uma resposta apropriada muito mais difa­cil de arquitetar.

 

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