Humanidades

Qual éo pra³ximo capa­tulo no Afeganistão?
Um painel de especialistas em pola­tica externa analisa as incertezas que opaís enfrenta ao retornar ao regime do Taleban.
Por Peter Dizikes - 19/09/2021


Um soldado dos EUA fala a um grupo de soldados do Exanãrcito Nacional Afega£o. Créditos: Imagem: foto de arquivo

Depois de quase 20 anos, os EUA retiraram suas tropas do Afeganistão e o Taleban recuperou o controle dopaís. Aluz desses acontecimentos, um painel de especialistas em pola­tica externa abordou na tera§a-feira duas questões distintas, mas relacionadas: Por que a ação militar dos EUA no Afeganistão foi insuficiente e o que vem a seguir para opaís assolado por conflitos?

O evento ocorreu enquanto os observadores ainda estãodigerindo o rápido colapso do governo nacional apoiado pelos EUA no Afeganistão, que não conseguiu manter o poder enquanto os EUA realizavam sua retirada militar.

“Nem mesmo eu pensei que eles iriam cair em 10 dias”, disse Vanda Felbab-Brown PhD '07, pesquisadora saªnior do Centro de Segurança, Estratanãgia e Tecnologia da Instituição Brookings.

O evento virtual, “US, Afghanistan, 9/11: Finished or Unfinished Business?” foi o mais recente da sanãrie Starr Forum realizada pelo Centro de Estudos Internacionais do MIT, que examina as principais questões internacionais e de pola­tica externa. Barry Posen, Professor Internacional de Ciência Pola­tica da Ford no MIT, moderou o evento.

Quanto ao motivo pelo qual os EUA não puderam ajudar a construir um estado mais sãolido no Afeganistão em 20 anos, os palestrantes ofereceram várias respostas.

Juan Cole, professor de história da Universidade de Michigan especializado em Oriente Manãdio, sugeriu que as ambições militares em grande escala no Afeganistão constitua­am um caso de exagero estratanãgico. O Taleban controlou grande parte do Afeganistão de 1996 a 2001, fornecendo um refaºgio para o grupo terrorista Al Qaeda que executou os ataques de 11 de setembro de 2001 contra os EUA. Mas quaisquer atividades militares além daquelas destinadas a desmantelar a Al Qaeda, afirmou ele, eram prova¡veis ser quixotesco.

“O ataque inicial dos EUA ao Afeganistão pode ser justificado”, disse Cole. “A Al Qaeda tinha campos de treinamento la¡ que eram usados ​​para planejar o 11 de setembro e, portanto, destruir esses campos, garantindo que não pudessem continuar a operar, era uma missão militar lega­tima”.

No entanto, Cole propa´s, “ocupar umpaís inteiro de milhões de pessoas, e umpaís difa­cil de administrar e ocupar” estava “fadado ao fracasso”. Os EUA inevitavelmente trabalharam mais estreitamente com alguns grupos anãtnicos e não com outros; as elites locais desviaram a ajuda estrangeira; e algumas facções militarizadas que estavam alinhadas com os EUA reagiram fortemente contra ver tropas estrangeiras nopaís. Tudo isso significou que as expectativas dos EUA logo “se concretizaram na realidade”, disse Cole.

Felbab-Brown enfatizou dois fatores de longa duração que ajudaram a minar os esforços dos EUA para construir um novo estado afega£o. Por um lado, observou ela, nem os EUA nem qualquer outropaís poderia reorientar o vizinho Paquistão para longe de seu alinhamento de décadas com o Taleban.

“Essencialmente, os Estados Unidos nunca resolveram como dissuadir o Paquistão de fornecer apoio multifacetado ao Taleban, atéos últimos dias de julho e agosto ... e ao longo de 20 anos inteiros, o apoio material, portos seguros e todos os outros tipos de apoio ," ela disse.

Em segundo lugar, em umpaís onde 40 a 50 por cento da receita nas últimas duas décadas veio da ajuda externa, observou Felhab-Brown, os EUA e seus aliados não foram capazes de determinar "como persuadir as elites governantes locais a moderar seu papel" e criar hábitos de administração local mais satisfata³rios.  

Dito isso, Felbab-Brown apontou para as consequaªncias positivas dos esforços dos EUA no Afeganistão nos últimos 20 anos, incluindo benefa­cios econa´micos e ganhos educacionais para as mulheres em particular.

“Ainda háuma grande diferença entre a pobreza de hoje [no Afeganistão] e a fome em massa e a enorme degradação dos direitos civis e humanos que era o caso na década de 1990”, disse Felhab-Brown.

Então, para onde estãoindo o Afeganistão, assumindo que o Taleban consolide o controle sobre a maior parte ou todo opaís?

“O pior resultado éa regra que, com o tempo, se parecera¡ com a década de 1990”, disse Felhab-Brown, referindo-se a s políticas altamente repressivas do Taleban que praticamente não proporcionaram direitos para as mulheres e restrições massivas a  atividade cultural.

Como alternativa, Felhab-Brown sugeriu: “O melhor resultado éum sistema parecido com o do Ira£, com ambas as estruturas políticas do Ira£ ... e um conjunto de liberdades políticas onde as mulheres podem ter educação, podem ter empregos, podem sair de casa sem um tutor, uma condição crucial. ” Isso ainda representaria um estado restritivo para os padraµes ocidentais e, como sugeriu Felhab-Brown, também épossí­vel que o Taleban se estabelea§a um conjunto de políticas mais restritivas.

As repercussaµes nas relações internacionais de um Afeganistão controlado pelo Taleban também permanecem incertas, observou Carol Saivetz, assessora saªnior e especialista em Raºssia do Programa de Estudos de Segurança do MIT. Ela observou que, embora alguns na Raºssia possam ficar satisfeitos em assistir a  luta dos EUA durante a partida do Afeganistão, a própria Raºssia tem preocupações de longa data sobre a disseminação de grupos isla¢micos radicais em sua esfera de influaªncia.

“Acho que éum ganho de curto prazo ... que a longo prazo, acho que pode ser muito problema¡tico para os russos”, disse Saivetz. “Acho que eles estãorealmente com medo de qualquer tipo de ameaça do terrorismo isla¢mico tomando conta da Raºssia novamente.”

Saivetz também observou que a invasão e ocupação sovianãtica do Afeganistão, que durou de 1979 a 1989, indicava as dificuldades de tentar transformar opaís, especialmente em seu meio rural.

“A experiência sovianãtica no Afeganistão foi realmente muito semelhante a  nossa”, disse Saivetz.

Em suas reflexões finais, Posen chamou o encerramento da presença militar dos EUA "um capa­tulo tra¡gico em um livro de 20 anos" e observou que, com grande parte da economia do Afeganistão tendo consistido em programas de ajuda externa agora aparentemente prestes a terminar, fora depaíses ainda tem de tomar decisaµes difa­ceis sobre o tipo de relacionamento que podem ter com os novos lideres dopaís.

“O Ocidente tem muitas escolhas anãticas profundas a fazer aqui, sobre seu relacionamento, não apenas com o Taleban, mas com o povo afega£o”, disse Posen.

 

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