Humanidades

a‰ fundamental planejamento urbano que revalorize os centros e reduza deslocamentos
Para o professor Ricardo Abramovay, évital que se vincule o deslocamento a  moradia, ao emprego, ao lazer e a  vida na cidade
Por USP - 15/02/2022


As alternativas em alta no século 20 aparentavam ter solucionado os problemas de mobilidade, mas mostraram-se ineficientes em diversos pontos osFoto: Mariana Gil/EMBARQ Brasil via Flickr osCC

Um dos grandes problemas dos grandes centros urbanos na contemporaneidade éo apartheid territorial presente nas cidades. Em entrevista ao Jornal da USP no Ar 1ª Edição, o professor Ricardo Abramovay, do Programa de Pa³s-Graduação em Ciência Ambiental do Instituto de Energia e Ambiente (IEE) da USP, e autor do livro Amaza´nia: Por Uma Economia do Conhecimento da Natureza, analisa o conceito de desmobilidade. Ao contextualizar a situação, o professor Abramovay indica que “o ponto de partida éa contradição que estãoembutida na própria ideia de automa³vel.

O automa³vel tem uma conquista tecnologiica que permitiu ampliar de maneira extraordina¡ria a mobilidade humana durante o século 20”, e completa ao dizer: “Sa³ que, a partir da segunda metade do século 20, o carro se transforma numa espanãcie de seu contra¡rio. Com a compra massiva de carros, a quantidade de vea­culos era tanta que as pessoas, em vez de terem mobilidade, ficavam presas no tra¢nsito”.

As alternativas em alta no século 20 aparentavam ter solucionado os problemas de mobilidade, mas mostraram-se ineficientes em diversos pontos. “Nãoadianta vocêtentar resolver o problema do transporte focando exclusivamente no sistema de transporte”, afirma o professor. “O século 21 éo século em que a gente renunciou a esse tipo de abordagem fragmenta¡ria. Por exemplo, os carros que hoje circulam são altamente emissores de gases do efeito estufa. ‘Ah, então eu vou resolver isso com carro elanãtrico e com energia limpa’, isso éuma visão fragmenta¡ria. O que éuma visão baseada na ciência do século 21, que são as ciências da complexidade, évocêvincular o deslocamento a  moradia, ao emprego, ao lazer e a  vida na cidade.”

O planejamento das cidades brasileiras faz com que os centros concentrem as principais oportunidades e servia§os, justamente onde moram as pessoas com renda mais elevada e que conseguem pagar mais caro nos domica­lios da regia£o. Enquanto isso, “o restante da população vai se espalhando nas periferias, que são espanãcies de subcidades, ou seja, onde não háservia§os, escolas de qualidade, muitas vezes não hásequer servia§os banca¡rios, servia§os médicos, e para qualquer coisa importante, inclusive para o lazer, ela tem que fazer grandes deslocamentos”, comenta Abramovay.

Ao indicar possa­veis ações a serem adotadas para reverter essa situação, o professor relaciona Sa£o Paulo a Paris e reflete sobre a mentalidade necessa¡ria para as grandes cidades: “a‰ fundamental um planejamento que esteja voltado a esse objetivo estratanãgico — revalorizar os centros e reduzir deslocamentos penosos —, énisso que consiste o conceito de desmobilidade”. Para Abramovay, “énecessa¡rio que haja servia§os paºblicos, de cultura, de lazer, trabalho, escola e saúde de maneira descentralizada em uma cidade como Sa£o Paulo. Isso éuma imensa oportunidade de geração de renda e de criação de empregos de qualidade”.

 

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