Humanidades

Eddie Glaude Jr.: 'Devemos correr em direção aos nossos medos'
A celebraça£o anual do MLK no MIT apresenta um chamado para confrontar a história de racismo da Amanãrica para seguir em frente.
Por David L. Chandler - 16/02/2022


Na celebração anual deste ano do MIT sobre a vida e obra de Martin Luther King Jr, o palestrante principal Eddie S. Glaude Jr., o distinto professor universita¡rio James S. Donnell na Universidade de Princeton, invocou a memória de King em um apelo apaixonado para confrontar as realidades de a história dos Estados Unidos e as crena§as e ações racistas dopaís, a fim de alcana§ar uma nação mais justa e equitativa.

Glaude, um proeminente comentarista pola­tico e autor de livros como “Democracy in Black: How Race Still Enslaves the American Soul”, disse no evento de 10 de fevereiro que “o nosso momento ésombreado por medo e fantasmas. A Amanãrica estãomudando, e a substância dessa transformação não émuito clara.” Muitas pessoas tem medo dasmudanças demogra¡ficas da nação, o que foi descrito como “o escurecimento da Amanãrica”, e das transformações culturais que estãoocorrendo, disse ele.

Alguns estãoclamando pelos “bons velhos tempos”, quando opaís parecia de uma certa maneira, e as divisaµes entre vários grupos de pessoas nopaís hoje estãoem evidaªncia. Muitos se recusam a reconhecer “os fantasmas do nosso passado”. Ele disse que “o nosso éum momento em que muitos estãofugindo da história. … A segurança éencontrada nas histórias que nos dizem que a Amanãrica éum exemplo de democracia alcana§ada, que a nossa éa cidade brilhante na colina.”

Mas, acrescentou, “ha¡ uma história diferente. Um que deve confrontar quem somos, se quisermos ser de outra forma. Se quisermos imaginar esta nação de novo, temos que olhar para a feiaºra de quem somos, quem fomos, diretamente na cara.”

A história importa, disse ele, “porque a carregamos dentro de nós. ... Se não contarmos a verdade sobre o que aconteceu, sobre o que estãoacontecendo, se tentarmos esquecer ou ignorar o que passamos, nos condenamos em certa medida a ser movidos pelos fantasmas que nos assombram, e deixado para chafurdar em um mar de mentiras.”

Relembrando um discurso de King, Glaude disse que nos anos logo após a emancipação, “uma espanãcie de amnanãsia intencional permitiu que opaís voltasse as costas a  promessa de emancipação e rejeitasse a ideia de que os negros pudessem ser cidada£os de pleno direito”. E agora, “aqui estamos em 2022, ainda brigando pelo tipo de história que contamos a nosmesmos sobre como chegamos a este momento”. As tentativas de restringir o ensino sobre a história do racismo da nação e as tentativas de remover livros que deixam algumas pessoas desconforta¡veis ​​com essa história mostram “a nação dobrando sua feiaºra”.

“Temos que lidar com o falecido rei”, disse Glaude, “que olhou para a feiaºra da Amanãrica diretamente no rosto e lutou para invocar uma visão de como podera­amos, podera­amos, ser de outra forma”. Em um discurso na noite anterior ao seu assassinato, King disse: “Temos alguns dias difa­ceis pela frente, mas isso não importa para mim agora porque estive no topo da montanha e vi a terra prometida. Posso não chegar la¡ com vocaª, mas quero que saiba esta noite que nós, como povo, chegaremos a  terra prometida”.

Glaude disse que “ainda estamos naqueles dias difa­ceis”. Ecoando James Baldwin, ele disse que nossa tarefa é“dizer o ma¡ximo de verdade que pudermos suportar”, e então um pouco mais. “Temos que dizer a nosmesmos a verdade sobre o que fizemos e quem somos.” Admitir isso, disse ele, “éestabelecer as pré-condições para que sejamos de outra forma, para que possamos crescer. Porque se nos recusarmos a admitir as mentiras que de tantas maneiras moldaram nossa formação, estaremos permanentemente ancorados na estação. … Este éum trabalho a¡rduo. … Teremos que correr em direção aos nossos medos.”

Citando Baldwin novamente, ele disse que a resposta para esses medos “éencontrada no amor pelos outros. A resposta éencontrada no amor que pode quebrar a doença no coração da escurida£o da Amanãrica. … Vocaª tem coragem de lutar? Nãomexer, mas lutar para dizer a verdade, e depois um pouco mais para amar ferozmente? A escolha estãodiante de nós, estãodiante de vocaªâ€, disse ele.

O evento anual da MLK apresentou homenagens a cinco ganhadores do Martin Luther King Jr. Leadership Awards deste ano : Lina Ahmed, estudante graduada Bianca Lepe, membro do corpo docente Nilma Dominique e membros da equipe Austin Ashe e Chiamaka Agbasi-Porter.

Va¡rios outros membros da comunidade do MIT também ofereceram reflexões. O copresidente saªnior de ação pola­tica da Unia£o dos Estudantes Negros do MIT, Brian Williams, que foi recentemente aceito na Stanford Law School, disse que “minha vida estãoenvolta na história negra, e carrego isso comigo todos os dias. a‰ a mesma armadura que me protege e me pesa.” Ele disse que “precisamos de pessoas no campo, na sala de aula, na academia, para pressionar pormudanças. E o que érealmente emocionante para mim éque essas pessoas já existem e aguardam ansiosamente nosso movimento. E isso me impulsiona. … Eu quero ser um engenheiro de soluções sociais para nossos problemas mais prementes.”

Williams disse que espera trabalhar na “visão de nova legislação, novos sistemas que podem ser aplicados para corrigir esses problemas e libertar essas comunidades. Esse éo objetivo. Devemos querer ver o fim do racismo e da supremacia branca em nossas vidas, sempre nos perguntando: podemos criar um mundo onde as comunidades marginalizadas não sejam mais marginalizadas?”

Carolyn Carrington, assistente administrativa do Departamento de Ciência e Engenharia Nuclear, disse que “Dr. King acreditava que a verdade desarmada e o amor incondicional tera£o a palavra final na realidade”. Ela acrescentou que em tempos difa­ceis, inclusive durante a pandemia, “o trabalho que fizemos criou uma sensação de normalidade, pois os colegas reservavam um tempo para conversar, compartilhar seus desafios ou oferecer uma sensação de esperana§a. A comunidade do MIT para muitos tornou-se uma a¢ncora em tempos de tempestades.”

Embora essas sejam palavras que ela não esperava juntar, “Eu amo o MIT”, disse Ufuoma Ovienmhada, estudante de pós-graduação do Departamento de Aerona¡utica e Astrona¡utica e do Media Lab, e ex-presidente da Black Graduate Student Association. Ela citou a definição de amor de M. Scott Peck como “a vontade de estender a si mesmo com o propa³sito de nutrir o pra³prio crescimento espiritual ou de outra pessoa”. Com base nessa definição, ela disse: “Fui forçada a admitir que, por meio desses trabalhos, estou comprometida com o crescimento espiritual, moral e anãtico do MIT. E assim eu, de fato, amo o MIT. a‰ um amor a¡gape, uma preocupação conta­nua e incondicional com o bem-estar do MIT, a comunidade dentro dele e aqueles que ele impacta.” Ela acrescentou que “para amar bem, devemos estar dispostos a dizer a verdade”. Nesse espa­rito,

Primeiro, ela disse, a MIT Corporation “resiste a qualquer mudança que corrija graves desequila­brios de poder”. Ela descreveu servir em comitaªs onde ela era uma das poucas alunas entre 25 ou 30 membros. “No MIT, não estamos compartilhando poder ou responsabilidade suficientes”, disse ela. Em segundo lugar, o Plano de Ação Clima¡tica do Instituto não inclui o desinvestimento em combusta­veis fa³sseis “que continuam a produzir impactos clima¡ticos que afetam desproporcionalmente negros, pardos e inda­genas”. E terceiro, embora tenha havido progresso no trabalho com estudantes de pós-graduação de grupos carentes, esse trabalho “muitas vezes se move a passo de caracol” e “ignora verdades inconvenientes e recomendações inconvenientes”.

Ela concluiu que “se vocêtambém ama o MIT, para amar bem, devemos estar dispostos a dizer a verdade, então tomar medidas palpa¡veis ​​para dobrar o arco da história do MIT em direção a  justia§a”.

Ao apresentar Glaude, John Dozier, diretor de equidade e comunidade do Instituto do MIT, leia as observações preparadas pelo presidente do MIT, L. Rafael Reif. Ele disse: “Vamos aproveitar este momento para nos lembrar de trazer o espa­rito de investigação aberta do MIT para nossos relacionamentos uns com os outros. Rejeitemos o pensamento fechado e, em vez disso, escolhamos ampliar nossos horizontes, ouvir com compaixa£o e estar dispostos a abrir ma£o de ideias preconcebidas, de ampliar nossos horizontes”.

Stewart Isaacs, um estudante de doutorado em aerona¡utica e astrona¡utica do MIT que atuou como mestre de cerima´nias para o evento, disse que o tema do evento deste ano é“Abra sua mente e coração para a verdade e o amor”. Ele disse que, a princa­pio, “parecia uma versão dilua­da do Dr. King”. Mas, refletindo, ele disse, “viver a verdade e o amor érealmente muito difa­cil. Porque quando vocêvai contra a estrutura de poder, háconsequaªncias”, incluindo as muitas que o pra³prio King sofreu durante sua vida, e que acabou com tudo. “Nestepaís, falar a verdade foi e continua sendo algo que pode causar muitos danos a nose a nossos entes queridos.”

Isaac disse que “estamos aqui hoje para celebrar aqueles em nossa comunidade do MIT que corajosamente desafiam a estrutura de poder para melhorar as coisas para todos nós, muitas vezes a s suas próprias custas. … Minha esperana§a éque a celebração de hoje nos lembre de todo o poder que possua­mos quando nos organizamos juntos como uma comunidade diante de medos reais”.

 

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