Humanidades

Por que as vitimas de abuso domanãstico não va£o embora: quatro especialistas explicam
Para qualquer um que saiba que alguém osum amigo, um colega, um membro da familia ossofre abuso e violência em casa, uma das maiores perguntas épor que eles simplesmente não va£o embora? Pode ser difa­cil entender a extensão do controle...
Por Cassandra Wiener, Alison Gregory, Michaela Rogers, Sandra Walklate, The Conversation - 17/02/2022


Quando os agressores assumem o controle das finana§as de uma va­tima, muitas vezes eles ficam sem as habilidades necessa¡rias para se sustentar. Crédito: Natee Meepian | Shutterstock

Para qualquer um que saiba que alguém osum amigo, um colega, um membro da familia ossofre abuso e violência em casa, uma das maiores perguntas épor que eles simplesmente não va£o embora? Pode ser difa­cil entender a extensão do controle coercitivo e os obsta¡culos práticos para sair, sem mencionar os sentimentos complexos que um sobrevivente de abuso tem que desempacotar. Quatro especialistas discutem por que os sobreviventes podem não pedir ajuda ou se sentirem incapazes de sair.


Medo e controle

Cassandra Wiener, Professora Saªnior de Direito, Cidade, Universidade de Londres

O controle coercitivo éuma estratanãgia calculada de dominação. Um perpetrador comea§a preparando sua va­tima, ganhando assim confianção e acesso. Eles então deixam a va­tima com medo — geralmente, mas nem sempre, instigando o medo da violência física ou sexual. O medo éo que torna as ameaa§as cra­veis. E équando uma ameaça écra­vel que uma demanda se torna coercitiva.

A pesquisa mostrou que um agressor exercera¡ controle restringindo o acesso a  familia e amigos, dinheiro e transporte, isolando a va­tima e tornando mais difa­cil para ela resistir. A va­tima sente uma ansiedade constante e generalizada oso que os psica³logos chamam de estado de sa­tio ospor não ter moderado seu comportamento o suficiente para evitar uma cata¡strofe.

Ao contra¡rio do que as pessoas costumam supor osque a va­tima opta por ficar; que eles tem opções; que empregar essas opções os manteria seguros osa pesquisa mostrou que sair éde fato perigoso. O controle continua quando o relacionamento termina, mas muda a aªnfase de tentar manter a va­tima no relacionamento para tentar destrua­- la por deixa¡-la.

Alojamento, cuidados infantis, apoio e finana§as

Michaela Rogers, Professora Saªnior em Servia§o Social, Universidade de Sheffield

Para vitimas com filhos, barreiras prática s e psicológicas para terminar um relacionamento abusivo podem se sobrepor. O abuso econa´mico geralmente significa que a va­tima fica com pouca confianção e sem o conhecimento de que precisa para gerenciar suas próprias finana§as e sustentar a si mesma e a seus filhos. Eles se sentem culpados por remover as criana§as de seus pais, sua casa, animais de estimação e escola. Eles se preocupam em afasta¡-los da familia e dos amigos.
 
Pode haver atrasos na obtenção de habitação adequada e uma nova escola devido a  falta de habitação social. Tambanãm pode haver falta de creches a prea§os acessa­veis ou ma¡s ligações de transporte. Por outro lado, alguns sobreviventes podem ser encarregados de viagens dia¡rias de volta ao seu antigo bairro para levar as criana§as a  escola com o risco que cada jornada traz de encontrar seu agressor.

Pesquisas mostram que sobreviventes de abuso domanãstico que tem status de imigração inseguro podem temer ser deportados. Eles podem ter pouco ou nenhum inglês falado ou acesso a intanãrpretes. E eles podem ter preocupações sobre o gerenciamento do dia-a-dia se não tiverem renda independente ou o direito de acessar benefa­cios ou acomodações apropriadas financiadas pelo Estado.

Para os sobreviventes que se identificam como LGBTQ+, entretanto, existem inaºmeras barreiras. Eles podem não reconhecer suas experiências como abuso. Eles podem ter medo de serem descobertos e podem se preocupar com a intervenção dos servia§os sociais , especialmente em termos de medidas de proteção infantil.

As pessoas LGBTQ+ muitas vezes também não conhecem, ou pensam que não são elega­veis para os principais servia§os de apoio a  violência doméstica. Os servia§os especializados existem, mas a provisão em todo opaís émuito modesta, particularmente nas áreas rurais.

As vitimas com deficiência ou problemas de saúde enfrentam mais obsta¡culos práticos , especialmente em termos de acomodação. Para alguns, o agressor também pode ser o cuidador. Aqueles com necessidades maºltiplas e complexas (como problemas de saúde mental, uso de substâncias, falta de moradia ou infração) também muitas vezes lutam para acessar servia§os de apoio especializados .


Estigma e vergonha

Alison Gregory, pesquisadora (populações traumatizadas e vulnera¡veis), Universidade de Bristol

O abuso domanãstico ocorre em todas as sociedades e culturas . E, no entanto, apesar dasmudanças nos últimos 50 anos, ainda estamos lamentavelmente despreparados para ser confrontados com a ideia de que o abuso domanãstico acontece com pessoas como nós.

Muitos sobreviventes sentem -se envergonhados ou envergonhados por terem sofrido abuso domanãstico. Eles podem temer que, ao decidir terminar um relacionamento abusivo, suas experiências se tornem conhecidas por outros e eles se arrisquem a se expor a opiniaµes e julgamentos externos - que sera£o tratados de maneira diferente como resultado.

Pesquisas mostram que os sobreviventes estãopreocupados, em particular, em decepcionar seus pais. Da mesma forma, terminar um relacionamento abusivo significa que um sobrevivente éconfrontado com suas próprias experiências e pode temer ter que entender essas experiências.

Amar

Alison Gregory e Sandra Walklate, Ca¡tedra de Sociologia, Universidade de Liverpool

O amor pode ser uma razãoincrivelmente poderosa pela qual as pessoas permanecem em um relacionamento abusivo, porque elas não sentem que podem sair, ou porque elas saem e depois voltam. E anã, talvez, uma das razões mais difa­ceis de entender. Pesquisas mostram que os pra³prios sobreviventes ficam frustrados porque seu amor, preocupação e cuidado com o agressor os mantiveram presos.

Uma análise de 2021 das respostas a  campanha #WhyIStayed no Twitter revela como esses sentimentos podem ser complexos . Tambanãm fala da poderosa influaªncia que os comenta¡rios sociais sobre relacionamentos, casamento e familia tem. Algumas mulheres twittaram: "O casamento épara sempre", "Eu não queria fugir quando passamos por um momento difa­cil" e "As criana§as precisam de um pai".

Além disso, o estudo mostra o poder que as expectativas sociais sobre o romance e o amor exercem. Como uma pessoa twittou: "A primeira vez que ele bate em vocaª, vocêdiz a si mesmo que foi um incidente isolado. Ele estãoarrependido. Vocaª perdoa. A vida énormal novamente". A pesquisa mostrou que o perda£o decorre do desejo da va­tima de manter o relacionamento, como sendo um objetivo primordial de vida, mesmo a s custas de sua própria segurança.

Os abusadores, por outro lado, podem ser astutos e habilidosos quando se trata de manipular os sentimentos de amor de um sobrevivente. Eles tera£o como premissa editais coercitivos com "Se vocême amasse, vocêfaria...". Eles também usara£o os sentimentos de cuidado e preocupação dos sobreviventes para tentar impedi-los de sair, geralmente fazendo ameaa§as de se machucar ou se matar se o fizerem. Os abusadores sabem que o pensamento de um dano potencial ao agressor causara¡ sofrimento ao sobrevivente e possivelmente sentimentos de culpa (mesmo que o sobrevivente não tenha feito nada de errado).

Os sobreviventes podem ser questionados por amigos, parentes e profissionais incranãdulos: "Como vocêainda pode ama¡-los depois do que eles fizeram?" Isso faz com que muitos sobreviventes fiquem em silaªncio sobre seus sentimentos residuais, o que, por si são, éperigoso. O amor éum forte motivador e, se não dermos permissão para que ele seja expresso, corremos o risco de alienar os sobreviventes e isola¡-los ainda mais osque éexatamente o que os agressores querem.

 

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