Humanidades

Choro paulistano de Esmeraldino Salles édesvendado em pesquisa da USP
Praticamente desconhecido do grande paºblico, o maºsico negro e multi-instrumentista de cordas Esmeraldino Salles tem parte de sua trajeta³ria revelada
Por Antonio Carlos Quinto - 13/03/2022


O nome Esmeraldino Salles, certamente, édesconhecido da maioria das pessoas que não tem uma ligação mais a­ntima com a música, mais especificamente o choro. E mesmo entre os que tem essa ligação, o nome pode não ser tão conhecido. “Este multi-instrumentista das cordas, negro, paulistano e autodidata, tem grande importa¢ncia na música popular brasileira, principalmente no choro”, afirma o maºsico e pesquisador Felipe Siles de Castro. “Mas, por uma sanãrie de motivos, Esmeraldino ainda éum nome quase que totalmente desconhecido, mesmo tendo algumas de suas músicas gravadas por nomes como Canhoto, Dominguinhos e Yamandaº Costa.”

Esmeraldino Salles - Foto: Reprodução

A pesquisa Uma noite no Sumaranã: o choro negro e paulistano de Esmeraldino Salles realizada por Felipe Siles, na Escola de Comunicações e Artes (ECA) da USP, teve a orientação do professor Marcos Ca¢mara de Castro. O tí­tulo da dissertação, como descreve o maºsico popular formado pela Universidade de Campinas (Unicamp), traz o nome da música que anã, provavelmente, a mais conhecida da obra de Esmeraldino: Uma noite no Sumaranã, de 1958. “Como maºsico fui conhecendo as rodas de choro e as músicas de Esmeraldino me chamavam a atenção.”

Nascido em 1916, na cidade de Sa£o Paulo, Esmeraldino passou sua infa¢ncia na zona leste da capital paulista.


Maºsico de ra¡dio

Felipe Siles conta que Esmeraldino fez boa parte de sua carreira no ra¡dio, em Sa£o Paulo. “Ele acompanhava cantores do ra¡dio e, na década de 1970, foi o auge do choro, onde os maºsicos ganhavam algum destaque”, destaca o pesquisador. Mas o estilo (o choro) éanterior ao ra¡dio, como conta Felipe Siles. “Era música tocada em bandas. Quando o choro chega ao ra¡dio surge então a era dos grandes cantores.”

“Esmeraldino não teve um disco com toda a sua obra ou parte dela”, conta o pesquisador, que, em seu estudo, levantou uma produção de cerca de 30 músicas. “Seria talvez por ser um maºsico negro e paulistano?”


Nascido em 1916, na cidade de Sa£o Paulo, Esmeraldino passou sua infa¢ncia na zona leste da capital paulista. “Era o ano de 1942, quando ele foi convidado a tocar num conjunto regional da Ra¡dio Tupi. Ele tocava cavaquinho no grupo regional de Antonio Rago”, conta o maºsico, lembrando que a música Uma noite no Sumaréfoi composta em homenagem a  Ra¡dio Tupi.

Em meio a nomes como Garoto, Antonio D’auria, JoséAmaral Jaºnior, Pixinguinha e Radamanãs Gnattali, bem conhecidos do grande paºblico, Esmeraldino continuava a ser um maºsico de ra¡dio. “Com o decla­nio dos conjuntos regionais, ele passou a se destacar como maºsico da noite”, conta Felipe Siles.

Dia¡logo com o jazz

Uma caracterí­stica marcante da obra de Esmeraldino, como destaca o maºsico e pesquisador, éo dia¡logo que sua música mantinha com o jazz. “Podemos dizer que alguns maºsicos americanos foram referaªncia para Esmeraldino. Afinal, o choro e o jazz são de matrizes africanas”, analisa Felipe Siles.

Esta reflexa£o também levou o pesquisador a buscar melhor compreensão da obra do compositor em relação a  sua anãpoca e ao contexto sociorracial em que estava inserido. “Esmeraldino não teve um disco com toda a sua obra ou parte dela”, conta o pesquisador, que, em seu estudo, levantou uma produção de cerca de 30 músicas. “Seria talvez por ser um maºsico negro e paulistano?”, questiona. Mas ele lembra que Pixinguinha, também negro e bastante conhecido a  anãpoca, havia conseguido quebrar preconceitos. “O choro era muito mais popular na cidade do Rio de Janeiro”, destaca. “E além disso, Esmeraldino sempre foi reconhecido como um maºsico de ra¡dio”, enfatiza. Felipe Siles também analisou em seu estudo todo o contexto da indústria cultural paulistana e seu impacto na produção de Esmeraldino.

Além de muitas músicas inanãditas do grande paºblico, o trabalho de Felipe Siles focou três composições de Esmeraldino, que ele considera as mais significantes: Arabiando (gravada em 1978) , Perigoso (gravada em 1957)  e Uma noite no Sumaré(gravada em 1958). “Nessas obras procurei compreender as caracteri­sticas do estilo composicional de Esmeraldino e, ao mesmo tempo, analisar em quaª suas músicas diferem dos choros mais convencionais.”

Mesmo não sendo conhecido do grande paºblico, Esmeraldino foi homenageado e celebrado por meio dos a¡lbuns Ao nosso amigo Esmaª (1980), Tributo a Esmeraldino Salles (2002) e Esmaª (2017), e também por diversas composições de maºsicos relevantes como Izaa­as Bueno de Almeida, Maura­cio Carrilho e AndréMehmari.

Mais informações: felipe.siles@gmail.com ose aténos ajudara¡ a projetar sequaªncias 

 

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