Humanidades

Hista³ria populacional de 5.000 anos de Xinjiang trazida a  luz em novo estudo de DNA antigo
As maºmias da Idade do Bronze descobertas na Bacia de Tarim supostamente tinham caracteri­sticas e taªxteis ocidentais, e a descoberta de textos do século V dC de um grupo de la­nguas indo-europeias extinto, Tocharian...
Por Academia Chinesa de Ciências - 31/03/2022


Overlook de taºmulos em altitudes elevadas. Escavado do sa­tio de Jierzankale em Tashikuergan, regia£o de Kashi. Crédito: Yan Xuguang, Kashi Daily

Xinjiang, no noroeste da China, estãolocalizada em uma importante junção entre o leste e o oeste da Eura¡sia e tem desempenhado um papel historicamente importante no interca¢mbio de bens e tecnologias entre essas duas regiaµes ao longo da Rota da Seda. a‰ uma mistura complexa de culturas e populações.

No entanto, o interfluxo e a mistura dessas diversas populações em Xinjiang podem ser rastreados mais atrás. As maºmias da Idade do Bronze descobertas na Bacia de Tarim supostamente tinham caracteri­sticas e taªxteis ocidentais, e a descoberta de textos do século V dC de um grupo de la­nguas indo-europeias extinto, Tocharian, estimulou grande interesse em arqueólogos, linguistas e antropa³logos.

Agora, uma equipe de pesquisa liderada pelo Prof. Fu Qiaomei do Instituto de Paleontologia e Paleoantropologia de Vertebrados (IVPP) da Academia Chinesa de Ciências desvendou a história da população passada de Xinjiang, na China, com base em informações de 201 genomas antigos de 39 sa­tios arqueola³gicos .

Suas descobertas foram publicadas na Science nesta quinta-feira (31).

Uma mistura de ascendaªncia local do norte da asia e da estepe ocidental na Idade do Bronze


O povoamento de Xinjiang da Idade do Bronze éfundamental para entender a dina¢mica populacional posterior da regia£o. Foi proposto que a colonização da Bacia do Tarim na Idade do Bronze foi originalmente por pessoas relacionadas a s culturas da estepe ocidental ("hipa³tese das estepes") ou a s populações da asia Central relacionadas ao Complexo Bactria Margiana (BMAC) ("hipa³tese do oa¡sis bactriano").

Fu e sua equipe descobriram que os primeiros habitantes de Xinjiang mostraram semelhanças gena´micas com esses dois grupos, mas amplamente misturados com uma ancestralidade única encontrada nas maºmias locais da Bacia de Tarim, que recentemente mostraram estar ligadas a uma população encontrada há25.000 anos no sul. Sibanãria conhecida como os antigos eurasianos do norte (ANE).

Ana¡lise de Componente Principal (PCA) (A) e ADMIXTURE (B) das populações
de Xinjiang. Crédito: Kumar et al. 2022, Ciência

"Ao todo, as populações de Xinjiang da Idade do Bronze continham componentes ancestrais da população 'local' da Bacia do Tarim misturados em graus variados com os de três grupos das regiaµes vizinhas: os Afanasievo, uma cultura da Estepe associada aos indo-europeus, um grupo chamado de Chemurchek, que continha ascendaªncia BMAC da asia Central e ascendaªncia de uma população do nordeste asia¡tico chamada Shamanka", disse o Prof. Fu, o último autor correspondente deste artigo.

O aparecimento de um indiva­duo com ascendaªncia quase exclusiva do nordeste asia¡tico no norte de Xinjiang neste momento indicou que essas populações iniciais podem já ter sido altamente ma³veis. Essa evidência se encaixa em um cena¡rio em que as populações de estepe, Chemurchek e nordeste da asia entraram na regia£o e se misturaram com os habitantes existentes, que estãomais pra³ximos das maºmias mais antigas da Bacia do Tarim.
 
Na parte posterior da Idade do Bronze, eles descobriram que os perfis gena´micos existentes mudaram para incluir um influxo de um grupo mais recente da Estepe ocidental ligado a  cultura Andronovo da Idade do Bronze Manãdio-Final da Estepe (MLBA), bem como um influxo crescente de ascendaªncia de Leste da asia encontrado no sul da Sibanãria. Além disso, uma expansão da ancestralidade relacionada a  asia Central (BMAC) neste momento indicou um aumento nas interações com a asia Central atravanãs do Corredor de Montanhas da asia Interior.

Entrada antecipada de falantes indo-europeus na Idade do Bronze Xinjiang

Os pesquisadores também encontraram ancestrais de vários indivíduos da Idade do Bronze inicial identificados como ancestrais não misturados de Afanasievo. Esta descoberta corrobora uma entrada precoce desses indo-europeus, que podem ter desempenhado um papel na introdução de la­nguas tocarianas em Xinjiang, as la­nguas indo-europeias mais orientais registradas. Esta data inicial faria o aparecimento de la­nguas indo-europeias em Xinjiang aproximadamente contempora¢neas com sua entrada na Europa Ocidental, esclarecendo a origem e disseminação da familia lingua­stica com o maior número de falantes hoje.

O influxo da Idade do Ferro de asia¡ticos orientais e centrais estabeleceu a ancestralidade ainda presente hoje

Em comparação com a Idade do Bronze, as populações da Idade do Ferro mostraram um aumento do influxo de pessoas da asia Oriental e Central, com a presença do componente do leste asia¡tico seguindo um gradiente oeste-leste de crescente ascendaªncia do leste asia¡tico. Ao contra¡rio da ancestralidade do nordeste asia¡tico presente durante a Idade do Bronze, a ancestralidade do leste asia¡tico que entrou durante a Idade do Ferro mostrou origens mais diversas, incluindo o leste da asia continental.

As proporções de mistura qpAdm para todas as populações de Xinjiang.
Cada barra representa a proporção de mistura dos subgrupos listados
para as populações BA, LBA, IA e HE. Crédito: Kumar et al. 2022, Ciência

Essas populações da Idade do Ferro podem estar ligadas a populações como Xiongnu e Han, que coincidiram com uma expansão historicamente documentada de Xiongnu para o oeste em ~2200 BP após a derrota de Yuezhi na regia£o de Gansu. Movimentos adicionais da Idade do Ferro de pessoas da asia Central ou da regia£o perifanãrica do Indo em Xinjiang apoiaram a atividade inicial ao longo de rotas como o Corredor de Montanhas da asia Interior.

A aparaªncia da Idade do Ferro de ascendaªncia ligada aos Sakas, uma confederação na´made derivada dos povos iranianos, ajuda a datar a entrada de la­nguas indo-iranianas como o khotanaªs, conhecido por ser falado pelos Sakas, em Xinjiang. Este perfil genanãtico da Idade do Ferro da regia£o, ligando os povos da Estepe, da asia Oriental e da asia Central, foi mantido na Era Hista³rica (HE). Apesar dasmudanças culturais dos milaªnios passados, ancestrais semelhantes aos estabelecidos na Idade do Ferro ainda são observados nas populações atuais de Xinjiang.

A análise fenota­pica de vários restos mortais, a primeira relatada para a antiga Xinjiang, deu profundidade aos resultados genanãticos. A maioria dos indivíduos investigados tinha cabelos castanhos escuros a pretos e olhos castanhos ao longo da Idade do Bronze, Idade do Ferro e HE. Correspondendo a  aparaªncia da ascendaªncia da Estepe Andronovo, uma pequena proporção dos indivíduos da Idade do Ferro émarcada por cabelos loiros, olhos azuis e tom de pele mais claro no oeste e norte de Xinjiang. Duas maºmias da Bacia do Tarim da Idade do Bronze, no leste de Xinjiang, provavelmente tinham cabelos castanho-escuros a pretos e pele mais escura, apesar de suas caracteri­sticas "ocidentais" arqueologicamente identificadas, e uma terceira maºmia mais recente do final da Idade do Bronze provavelmente teria tinha um tom de pele mais intermediário.

“Com os movimentos populacionais generalizados documentados no estudo, éintrigante ver o grau de continuidade genanãtica que foi mantido em Xinjiang nos últimos 5.000 anos”. disse o Prof. Associado Vikas Kumar do IVPP, o primeiro autor deste estudo.

"O que chama a atenção nesses resultados éque a história demogra¡fica de uma regia£o de encruzilhada como Xinjiang foi marcada não por substituições populacionais, mas pela incorporação genanãtica de diversos grupos culturais na população existente, tornando Xinjiang uma verdadeira 'fusão- pote'", disse o Prof. Fu.

Esse aspecto detalhado não ficou tão claro olhando apenas para evidaªncias arqueola³gicas e culturais. Essas descobertas sugerem a importa¢ncia de combinar evidaªncias genanãticas e arqueola³gicas para fornecer uma visão mais abrangente da história da população.

A atual análise de DNA antigo destaca uma abordagem hola­stica para desvendar a complexa história de locais como Xinjiang, onde as muitas interações entre diferentes grupos e culturas no passado dificultam estudos demogra¡ficos detalhados. Estudos futuros nesta área podem revelar mais sobre os pontos mais delicados da história de Xinjiang.

 

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