Humanidades

Pesquisadores descobrem que o paºblico correlaciona a palavra 'contar histórias' com engano
Jornalistas que se autodenominam
Por Angela Koenig - 31/03/2022


Crédito: Unsplash/Kraft.

Jornalistas que se autodenominam "contadores de histórias" diminuem a profissão aos olhos do paºblico, diz um novo estudo realizado por pesquisadores de jornalismo da UC.

O estudo, que analisou a percepção do paºblico sobre o termo "contador de histórias" quando associado a s credenciais de um jornalista, foi recentemente destacado em um artigo do NiemanLab intitulado "'Parece um mentiroso bem treinado': jornalistas perdem alguma credibilidade ao se chamarem 'contadores de histórias' .'"

“Muitas vezes, parece que jornalismo e reportagem são misturados com comunicação, relações públicas e qualquer coisa que tenha a ver com produção de conteaºdo de ma­dia”, diz o coautor do estudo Jeffrey Blevins, professor e chefe do Departamento de Jornalismo da UC.

Essa mistura, diz ele, borra as linhas entre reportagem e narrativa, uma vez que os jornalistas tem a responsabilidade especa­fica de relatar as nota­cias com base em fatos por meio de investigação sem embelezamento.

Blevins, juntamente com o autor principal Brian Calfano, professor de jornalismo da UC, realizou um experimento apresentando a mais de 2.000 pessoas uma nota­cia sobre uma lei de zoneamento. Metade dos entrevistados viu a biografia profissional do repa³rter, que inclua­a o termo "contador de histórias". O grupo de controle viu a mesma nota­cia sem a biografia do repa³rter. Todos os participantes responderam então a um inquanãrito.

Os resultados da pesquisa mostraram que os participantes que ouviram o repa³rter identificado como um "contador de histórias" eram mais propensos a concordar que a nota­cia era tendenciosa; que o site de nota­cias sensacionalizou a história, banalizou aspectos da história e não conseguiu retratar todos de forma justa; e que o pra³prio repa³rter era tendencioso.

Houve também uma seção aberta para comenta¡rios, na qual a maioria dos participantes criticou o termo contador de histórias, usando linguagem como "mentiroso", "nota­cias falsas" e "Pina³quio" em seus comenta¡rios.

a‰ importante notar que, em uma amostra de dados aleata³rios, cerca de 80% das biografias do Twitter baseadas nos EUA que usaram o termo "contador de histórias" pertenciam a jornalistas ou ex-jornalistas, incluindo repa³rteres do New York Times , BBC, CBS News, Al Jazeera, CBC News, Associated Press, Fox News, NBC News, Washington Post e várias afiliadas de nota­cias da televisão local.

Mais revelador para os pesquisadores, no entanto, foi que as avaliações negativas eram bipartida¡rias.

"Para mim, a maior vantagem da pesquisa foi que as pessoas de ambos os lados do corredor pola­tico acharam o termo 'contador de histórias' problema¡tico", diz Blevins, observando que se poderia esperar um resultado de estudo mais enviesado, já que o termo "nota­cias falsas", que ésemelhante ao termo "contador de histórias", tem suas origens na pola­tica de direita.

Calfano aborda o aspecto pola­tico no artigo do NiemanLab, dizendo: "Eu realmente assumi que a visão negativa de 'contador de histórias' era um resultado republicano, dado o quanto intimamente ' nota­cias falsas ' estãoligadas a  reta³rica de Trump", disse ele. "Mas, como mostramos no jornal, os democratas tem a mesma probabilidade de oferecer uma visão negativa do termo."

“O fato de pessoas de ambos os lados do espectro pola­tico acharem o termo problema¡tico foi surpreendente para nós, mas também enfatizou a importa¢ncia do nosso estudo”, diz Blevins.

Outra conclusão, dizem ambos, éque os jornalistas precisam ser mais conscientes sobre como o paºblico percebe o jornalismo como profissão, o que pode ser diferente da percepção da indaºstria.

"Talvez, de forma mais prática , eu pea§a a colegas jornalistas que considerem ter alguém de fora (alguém que não estãono ramo de nota­cias) lendo suas biografias online e de ma­dia social e pergunte sobre suas percepções. Convide-os a falar com franqueza", diz Calfano, com Blevins acrescentando: "Todos devemos estar abertos a cra­ticas construtivas".

O terceiro coautor do estudo éAlexis Straka, ex-aluno da UC, '21. Ela égraduada do programa de doutorado em ciências políticas da UC e agora trabalha na indústria privada como pesquisadora de mercado. Straka configurou o ca³digo para a mineração de dados do Twitter.

 

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