Humanidades

Com nova indaºstria, uma nova era para as cidades
Em seu livro, “New Industrial Urbanism”, Eran Ben-Joseph analisa a forma e a funa§a£o em evolua§a£o das cidades do século XXI.
Por Pedro Dizikes - 02/04/2022


Eran Ben-Joseph, do DUSP, écoautor de um novo livro, “New Industrial Urbanism”, examinando o design e a produção urbanos no mundo contempora¢neo. Créditos: Foto: Bryce Vickmark

Kista Science City, ao norte de Estocolmo, éa versão sueca do Vale do Sila­cio. Ancorado por algumas grandes empresas e uma universidade, tornou-se o principal centro de alta tecnologia do norte da Europa, com habitação misturada para que as pessoas vivam e trabalhem na mesma área geral.

Em todo o mundo, um padrãosemelhante évisível em muitas localidades urbanas. Perto do MIT, Kendall Square, outrora sede de manufatura, tornou-se um centro de biotecnologia e tecnologia da informação enquanto cresce como destino residencial. Hamburgo, na Alemanha, reconstruiu parte de seu famoso porto com novos nega³cios, recreação e moradia. A área industrial de Jurong, em Cingapura, agora conta com comanãrcio, construção residencial, parques e universidades. Atémesmo o Navy Yard do Brooklyn, outrora em decla­nio, tornou-se uma área de uso misto a  beira-mar.

Lugar após lugar, as cidades desenvolveram bairros-chave ao localizar empresas do século 21 perto de residaªncias e comanãrcio nonívelda rua. Em vez de a indústria pesada expulsar os moradores das cidades, a manufatura avana§ada e outras formas de nega³cios de menor escala estãoatraindo as pessoas de volta e “reformando as relações entre cidades, pessoas e indaºstria”, como coloca o professor do MIT Eran Ben-Joseph. em um novo livro em coautoria com Tali Hatuka.

O livro, “New Industrial Urbanism: Designing Places for Production”, foi publicado esta semana pela Routledge, fornecendo uma ampla visão geral de uma grande tendaªncia na forma de cidade, de dois especialistas na área. Ben-Joseph éo Professor da Turma de 1922 de Arquitetura Paisaga­stica e Planejamento Urbano no MIT; Hatuka éplanejadora, arquiteta e professora de planejamento urbano e chefe do Laborata³rio de Design Urbano Contempora¢neo da Universidade de Tel Aviv.

“O Novo Urbanismo Industrial éum conceito socioespacial que exige reavaliar e remodelar as relações entre cidades, pessoas e indaºstria”, escrevem os autores no livro. “Isso sugere moldar as cidades com um entendimento renovado de que uma localização e um ambiente urbanos da£o a  indústria uma vantagem competitiva”, decorrente do acesso a uma força de trabalho qualificada, universidades e os efeitos do agrupamento de empresas do setor. 

Como tal, eles acrescentam: “Esse conceito exige uma [nova] mudança de paradigma na maneira como entendemos e abordamos a produção nas cidades e regiaµes”.

Uma oportunidade para regenerar

No livro, Ben-Joseph e Hatuka colocam o “novo urbanismo industrial” em contraste com as fases anteriores do desenvolvimento da cidade. De cerca de 1770 a 1880, em seu contorno, as cidades viram o surgimento da indústria pesada e fa¡bricas que exalavam fumaa§a sem muita preocupação com o planejamento.

Assim, de cerca de 1880 a 1970, alguns planejadores e arquitetos começam a criar formas idealizadas para cidades industriais e a s vezes desenvolveram comunidades industriais inteiramente planejadas em áreas suburbanas. Por volta de 1970, poranãm, uma terceira fase ocorreu: a desindustrialização, a  medida que os moradores começam a deixar as cidades industriais mais antigas em massa, enquanto a indústria se globalizava e instalava fa¡bricas em algunspaíses anteriormente não industriais. Entre 1979 e 2010, como observam Ben-Joseph e Hatuka, os EUA perderam 41% de seus empregos industriais.

Em resposta a tudo isso, os autores veem o novo urbanismo industrial como uma quarta fase, na qual a forma da cidade e a indústria interagem. O momento atual, como escrevem, écaracterizado pelo “hibridismo”. Como algumas formas da indústria atual apresentam uma produção mais limpa e sustenta¡vel, as zonas industriais anteriormente indesejáveis ​​podem agora conter uma mistura mais atraente de indústria avana§ada, comanãrcio, unidades residenciais, instituições educacionais e outras de pesquisa e recreação.

Por mais punitiva que tenha sido a perda de manufatura nos EUA e em outros lugares, o surgimento da produção de alta tecnologia representa “uma oportunidade para regenerar áreas urbanas e redefinir o papel da indústria na cidade”, escrevem Ben-Joseph e Hatuka.

Como os autores detalham, os lideres das cidades adotam abordagens diferentes para a questãoda revitalização. Alguns lugares apresentam agrupamento, fortalecendo um setor especa­fico. Isso vale para Kendall Square com biotecnologia, ou mesmo Wageningen, o “Vale Alimentar” da Holanda, onde dezenas de empresas de agronega³cios estãolocalizadas em uma regia£o compacta.

Outras cidades devem reinventar mais profundamente um local desindustrializado, como no Brooklyn, Hamburgo e Jurong, mantendo intactas algumas estruturas hista³ricas. E alguns lugares, incluindo Barcelona e Portland, Oregon, adotaram uma abordagem ha­brida dentro dos limites de suas próprias cidades, incentivando novos nega³cios em várias escalas e muitas formas de uso da terra.  

Como enfatiza o “Novo Urbanismo Industrial”, não háum caminho real para a reconstrução das cidades. Em Munique, a sede da BMW ergue-se em uma torre de quatro cilindros da década de 1970, uma referaªncia aos vea­culos da empresa. Ao lado da torre háuma enorme fa¡brica de montagem da BMW, espalhada por muitos hectares. Com o tempo, o crescimento residencial “cresceu gradualmente na área”, como disseram Ben-Joseph e Hatuka. Como a fa¡brica évoltada apenas para a montagem, não para a produção de materiais, éambientalmente mais via¡vel ver o crescimento residencial nas proximidades. O resultado éuma indústria via¡vel justaposta a s áreas de estar. 

“Nosso livro estãotentando mostrar as várias maneiras pelas quais as cidades podem abordar asmudanças nas relações contempora¢neas entre cidade e indaºstria”, diz Ben-Joseph. “Os casos que descrevemos e os conceitos que apresentamos representam o crescente reconhecimento do papel que a indústria desempenha na atividade econa´mica total do mundo. Eles nos ensinam que o desenvolvimento industrial ésempre contextual e culturalmente dependente, e são essas variantes que contribuem para a evolução de diferentes tipos e formas de ecossistemas industriais.”

Vestindo bem

Como Ben-Joseph e Hatuka também enfatizam, a busca da indústria para ajudar a reconstruir as cidades não precisa se concentrar estritamente em empresas de alta tecnologia. No Garment District de Los Angeles, como o livro também detalha, asmudanças no zoneamento ameaa§avam dispersar um pra³spero grupo centena¡rio de fabricantes.

Esses fabricantes logo se uniram a um distrito produtivo de melhoria de nega³cios; os formuladores de políticas viram a sabedoria de uma abordagem ha­brida de zoneamento que permitisse aos fabricantes permanecerem no lugar. (“Assim como terras agra­colas, terras industriais são difa­ceis de recuperar uma vez substitua­das por outras funções”, escrevem Ben-Joseph e Hatuka.) Como resultado, cerca de 4.000 fabricantes de roupas permanecem em Los Angeles, fornecendo renda crucial para comunidades que hámuito dependem dela. .

“Assim como costumamos fazer com as políticas habitacionais, éessencial que criemos mecanismos estratanãgicos de uso do solo que protejam e melhorem os usos industriais existentes em nossas cidades”, acrescenta Ben-Joseph. “Casos como o centro de Los Angeles mostram que as cidades estãocomea§ando a reconhecer o valor dos terrenos industriais localizados no centro e a necessidade de lidar com as pressaµes para converter essas áreas em moradias de alto padrãoe deslocar os fabricantes existentes”.

Como livro, “Novo Urbanismo Industrial” estãosendo elaborado háquase uma década. Ao longo do caminho, os autores organizaram um simpa³sio sobre o tema no MIT em 2014 e ajudaram a organizar uma exposição na Wolk Gallery do MIT sobre o assunto no mesmo ano. Com o apoio do MIT e da Universidade de Tel-Aviv, o livro também estãodispona­vel como publicação de acesso aberto .

Especialistas na área elogiaram o “Novo Urbanismo Industrial”. Karen Chapple, professora e diretora da Escola de Cidades da Universidade de Toronto, observou que, embora algumas pessoas tenham “adotado a noção de manufatura avana§ada localizada nas cidades, a literatura carece de uma visão convincente e detalhada do que um novo urbanismo industrial realmente abrange. Este volume abrangente preenche essa lacuna, com uma poderosa análise visual totalmente fundamentada na teoria econa´mica e no contexto hista³rico.”

De sua parte, Ben-Joseph estãosatisfeito com as tendaªncias para um novo urbanismo industrial em muitas partes do globo.

“Vimos muito progresso na maioria dospaíses”, diz Ben-Joseph.

Ainda assim, ele observa, muito mais épossí­vel, nos EUA e além . Como os autores escrevem, “reavaliar a fabricação deve ser o objetivo principal de planejadores, urbanistas e arquitetos. A consciência desse objetivo éfundamental para o desenvolvimento futuro das cidades em todo o mundo.”

 

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