Humanidades

A pesquisa derruba a crena§a de que os grupos chegam a decisaµes mais equilibradas e menos agressivas
A Raºssia teria invadido a Ucra¢nia se a decisão fosse tomada por um comitaª em vez do presidente Vladimir Putin sozinho?
Por Clea Simon - 11/04/2022


“Nossas descobertas sugerem que as deliberações em grupo provavelmente não reduzira£o esse tipo de comportamento de aceitação de risco”, diz Josh Kertzer. Crédito: Kris Snibbe/Fota³grafo da equipe de Harvard

A Raºssia teria invadido a Ucra¢nia se a decisão fosse tomada por um comitaª em vez do presidente Vladimir Putin sozinho?

A sabedoria convencional sugeriria que provavelmente não. Os indivíduos tem todos os tipos de preconceitos, mas hámuito se acredita que essas tendaªncias são dilua­das - se não totalmente eliminadas - quando as pessoas se reaºnem para tomar decisaµes em grupo, que éa forma como a pola­tica externa édecidida em muitospaíses. Acredita-se que os grupos sejam mais equilibrados, menos dados a decisaµes "hawkish".

Pense de novo. Novas pesquisas indicam que essa chamada "sabedoria das multidaµes" éum mito. Em um estudo sobre como pequenos grupos chegam a s suas conclusaµes, "Hawkish Biases and Group Decision Making", da revista International Organization , descobriu que as mesmas tendaªncias que influenciam os indivíduos persistem mesmo na empresa.

"Os Estados são governados por pessoas; as pessoas tem preconceitos, e esses preconceitos moldam como as decisaµes são tomadas", disse o primeiro autor do estudo, professor de governo Joshua D. Kertzer. Descrevendo seu trabalho como se enquadrando na "área cinzenta" que liga a psicologia pola­tica e as relações internacionais , ele acrescentou: pola­tica que acontece entre os ouvidos das pessoas."

Estudos anteriores mostraram que vieses cognitivos tendem a nos inclinar para posturas agressivas na pola­tica externa. Esse vianãs "hawkish" pode ser atribua­do a três tendaªncias cognitivas. A primeira, disse Kertzer, éque nós, humanos, tendemos a aceitar mais o risco quando estamos perdendo ou tememos perder. Ele comparou isso a  tendaªncia dos jogadores de "dobrar" quando as cartas estãocorrendo contra eles.

"Vou continuar fazendo coisas mais arriscadas do que faria de outra forma precisamente porque sei que estou atrasado", disse ele.

Somando-se ao hawkishness estãoo vianãs de intencionalidade, a crena§a de que quanto mais algo nos machuca ou nos custa, mais prova¡vel éque acreditemos que foi feito intencionalmente. Kertzer cita o exemplo de alguém que passa por nosenquanto caminhamos, uma interação que provavelmente descartamos. Mas se a mesma pessoa batesse em nós, provavelmente vera­amos o evento como um ataque intencional.
 
Por fim, descreveu a ideia de avaliação reativa, que nos leva a subestimar qualquer proposta feita por uma parte contra¡ria, mesmo que tivanãssemos feito a mesma proposta. "Isso pode levar os lideres a tomar decisaµes mais agressivas do que fariam de outra forma, porque rejeitara£o os acordos de paz." Ele modelou o racioca­nio tendencioso: "Se estamos levantando esses termos, eles devem ser bons, mas porque o outro lado os estãolevantando, eles devem ser ruins".

Para dissecar como as decisaµes em grupo são tomadas, o estudo de Kertzer construiu experimentos online em larga escala que pediram a vários tipos de grupos que realizassem tarefas e, em seguida, avaliaram como chegaram aos resultados. O estudo incluiu grupos compostos por membros semelhantes e diversos, bem como aqueles que tomaram suas decisaµes de formas variadas, com estruturas organizacionais que variam do horizontal ao hiera¡rquico.

Em meio a essas diferenças, as descobertas foram claras: nenhuma dessasmudanças aliviou nosso vianãs hawkish. "Os grupos não parecem tomar decisaµes significativamente melhores do que os indiva­duos", concluiu Kertzer. Observando que a tendaªncia de aceitar ou buscar mais riscos diante da perda pode realmente aumentar quando as pessoas tomam decisaµes juntas, ele acrescentou: "Em alguns contextos, os grupos parecem tomar decisaµes piores".

"Uma coisa que éparticularmente importante sobre este trabalho éa maneira como ele desafia a ideia de grupos como uma panaceia para melhorar a tomada de decisaµes", observa Carly Wayne, professora assistente de ciência pola­tica na Universidade de Washington e uma das coautoras do artigo. , juntamente com Marcus Holmes e Brad L. LeVeck. "Grupos podem ser tão propensos quanto indivíduos a tomar decisaµes de uma forma que conduza a pola­tica externa em direções mais agressivas."

E como isso pode ter acontecido na Ucra¢nia? "Parece, por exemplo, que Vladimir Putin pode estar disposto a pressionar por uma ação militar mais arriscada como resultado da invasão russa da Ucra¢nia ser menos bem-sucedida do que ele previa", disse Kertzer. “Nossas descobertas sugerem que as deliberações em grupo provavelmente não reduzira£o esse tipo de comportamento de aceitação de risco”.

"Quando pensamos em como as decisaµes são tomadas em pola­tica externa, a s vezes temos relutado em reconhecer que coisas como vieses psicola³gicos podem estar desempenhando papanãis distorcidos, supondo que esses outrospaíses que estamos enfrentando devem ser hiper-racionais", disse. concluiu Kertzer. “Uma das implicações prática s deste estudo éque não devemos descartar a noção de que vieses psicola³gicos podem estar em jogo, mesmo em um contexto de tomada de decisão em grupo”.

 

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