Humanidades

As reuniaµes de zoom matam a criatividade?
As reuniaµes de zoom se tornaram a força vital de muitos locais de trabalho durante a pandemia, mas um novo estudo aponta para uma desvantagem: elas podem limitar a capacidade de pensamento criativo dos funciona¡rios.
Por Amy Norton - 27/04/2022



As reuniaµes de zoom se tornaram a força vital de muitos locais de trabalho durante a pandemia, mas um novo estudo aponta para uma desvantagem: elas podem limitar a capacidade de pensamento criativo dos funciona¡rios.

Em experimentos com trabalhadores em váriospaíses, os pesquisadores encontraram dois fena´menos amplos: os colegas de trabalho tendiam a ser menos ha¡beis em gerar ideias criativas quando se comunicavam por va­deo, em comparação com pessoalmente. Mas as reuniaµes virtuais não prejudicaram - e podem ter ajudado - sua capacidade de se concentrar e tomar decisaµes.

A conclusão, dizem os especialistas, éque todo esse zoom no local de trabalho não ébom nem ruim. Mas certas tarefas de trabalho podem ser mais adequadas a  comunicação virtual do que outras.

Apesar de muita “torção de ma£o” sobre o possí­vel fim da interação no local de trabalho, na verdade existem muitas semelhanças entre va­deo e conferaªncia presencial, disse Melanie Brucks, uma das pesquisadoras do novo estudo.

"Mas uma grande diferença éo ambiente fa­sico ", disse Brucks, professor assistente da Columbia Business School, em Nova York.

Quando os colegas de trabalho estãona mesma sala, eles podem se sentir a  vontade para olhar ao redor, mover-se, olhar a janela osessencialmente para deixar seus olhos e mentes vagarem. E quando se trata de pensamento criativo , disse Brucks, vagar ébom.

Por outro lado, a videoconferaªncia cria um "ambiente compartilhado" muito diferente, onde seu colega de trabalho existe em uma caixa na tela do dispositivo.

"Se vocêolhar para o lado, você'deixou' seu ambiente compartilhado", disse Brucks. Assim, as pessoas geralmente limitam seu foco visual a  tela do computador, o que também restringe seu "foco cognitivo".

Nãohánada de errado com o foco tipo laser, disse Brucks. Ela observou que as reuniaµes virtuais no local de trabalho podem promover a eficiência, em contraste com as reuniaµes presenciais que a s vezes podem se desviar.

A criatividade, no entanto, depende de permitir tangentes.

As descobertas, publicadas na revista Nature , são baseadas em dois grupos de estudo: 602 pessoas que participaram de um estudo de laboratório e 1.490 funciona¡rios de uma grande empresa de telecomunicações que foram estudados em seus locais de trabalho em cincopaíses diferentes.
 
As pessoas no estudo de laboratório foram divididas aleatoriamente em pares e receberam uma tarefa criativa para conquistar, pessoalmente ou virtualmente. Cada equipe teve que criar tantos usos criativos para um produto (um frisbee ou pla¡stico bolha) quanto conseguissem em cinco minutos e depois escolher sua ideia mais inovadora.

No geral, o estudo descobriu que os pares pessoais evocavam mais ideias. Eles não foram melhores, no entanto, em selecionar o melhor (conforme julgado pelos pesquisadores); na verdade, os pares de videoconferaªncia tinham uma certa vantagem ali.

As descobertas foram semelhantes no ambiente de trabalho, com pares pessoais ganhando quando se tratava de criatividade, mas não de tomada de decisão.

O estudo de laboratório também apoiou a noção de que o foco fa­sico confinado do Zoom éo problema subjacente. Usando a tecnologia de rastreamento ocular, os pesquisadores descobriram que os pares de videochamadas passavam muito tempo olhando para a tela do computador, em vez de olhar ao redor.

Isso, ao que parece, era prejudicial para eles, porque as equipes que passavam mais tempo "olhando ao redor da sala" tendiam a gerar ideias mais criativas .

As descobertas fazem sentido, disse Ana Valenzuela, professora de marketing da Baruch College Zicklin School of Business, em Nova York.

Ela apontou para um conceito de psicologia chamado cognição incorporada, a ideia de que nosso processos mentais estãoentrelaa§ados com o corpo oscomo ele se move e interage com o ambiente fa­sico. Se vocêestãofisicamente no modo "visão de taºnel", émais difa­cil ser expansivo em seu pensamento e possivelmente tropea§ar na próxima grande ideia.

"A serendipidade não acontece no Zoom", disse Valenzuela, que não fez parte do estudo.

Mas como Brucks, ela enfatizou que a comunicação por va­deo não é"ruim". Ele simplesmente pode não ser ideal para determinadas tarefas.

Desde o ini­cio da pandemia, muitas empresas adotaram uma abordagem ha­brida, permitindo que os funciona¡rios alternem entre trabalhar em casa e entrar no escrita³rio. Estudos preveem que, mesmo quando a pandemia terminar, cerca de 20% de todos os dias de trabalho nos EUA sera£o realizados remotamente.

Estudos como o mais recente, disse Valenzuela, ajudara£o as empresas a descobrir como aproveitar melhor o tempo no escrita³rio e em casa.

Além de usar o rastreamento ocular, os pesquisadores analisaram se outras diferenças surgiram entre as interações pessoais e virtuais. Em geral, poranãm, havia poucos: qualquer que fosse o modo de comunicação, os colegas de trabalho falavam tanto, respondiam a s expressaµes faciais de maneira semelhante e mostravam um grau igual de confianção um no outro.

"a‰ realmente nota¡vel como a comunicação pessoal e por va­deo se tornou semelhante", observou Brucks.

Mas háoutra diferença entre eles: quando as pessoas ampliam, muitas vezes também se veem na tela.

Neste estudo não foi o caso, pois os colegas de trabalho são viam seu parceiro na tela durante a tarefa. Tanto Valenzuela quanto Brucks disseram que isso pode ter estreitado ainda mais o foco cognitivo desses participantes, já que as pessoas podem se envolver em julgar sua própria aparaªncia.

 

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