Humanidades

Como o primeiro bloqueio da pandemia de COVID-19 mudou nossa criatividade
A criatividade éuma das funa§aµes cognitivas que nos permite ser flexa­veis em novos ambientes e encontrar solua§aµes em novas situaa§aµes. As condia§aµes invulgares da primeira contena§a£o da pandemia COVID-19 obrigaram-nos a repensar...
Por Institut du Cerveau (Paris Brain Institute) - 10/05/2022


Pixabay

A COVID-19 pegou-nos de surpresa, e a situação excecional do primeiro lockdown exigiu grandes capacidades de adaptação, em particular dos nossos cérebros. Um estudo realizado no Paris Brain Institute (Inserm/CNRS/Sorbonne University/AP-HP) acaba de revelar como nossa criatividade evoluiu durante esses períodos e os fatores que podem taª-la influenciado. Apesar do confinamento, nossa criatividade aumentou e focou em atividades relacionadas principalmente a s questões da situação.

A criatividade éuma das funções cognitivas que nos permite ser flexa­veis em novos ambientes e encontrar soluções em novas situações. As condições invulgares da primeira contenção da pandemia COVID-19 obrigaram-nos a repensar os nossos ha¡bitos, impuseram novos constrangimentos e obrigaram-nos a adaptar; em suma, ser criativo.

Um grupo de pesquisadores do Frontlab do Paris Brain Institute realizou uma pesquisa online para avaliar o impacto do bloqueio na criatividade, usando um questiona¡rio de duas partes. A primeira parte consistiu em questões destinadas a compreender a situação em que os participantes se encontravam em mara§o-abril de 2020 (Estava confinado sozinho ou com outras pessoas? Teve mais trabalho ou tempo livre do que antes?); seus estados mentais naquele momento (Vocaª se sentiu mais motivado? Sentiu uma diminuição ou aumento no seu humor ou estresse?); e, finalmente, se eles se sentiram mais ou menos criativos do que antes. A segunda parte questionou os participantes sobre as atividades criativas realizadas durante o confinamento, sua frequência, seu doma­nio, seu grau de sucesso e valorização e os motivos que motivaram ou impediram essas atividades. Os pesquisadores coletaram quase 400 respostas analisa¡veis.

Estressado, mas mais criativo

“Nossa primeira observação éque o bloqueio foi psicologicamente angustiante para a maioria dos participantes, o que outros estudos mostraram, mas que, em média, eles se sentiram mais criativos”, diz Thanãophile Bieth (AP-HP), coautor do estudo. "Ao correlacionar as duas informações, mostramos que quanto melhor as pessoas se sentiam, mais criativas elas pensavam que eram."

Em contraste, quando os pesquisadores perguntaram sobre o número de obsta¡culos que os entrevistados encontraram, eles observaram uma relação não linear. Se asmudanças na criatividade foram positivas ou negativas, os participantes sentiram que encontraram muitos obsta¡culos. De fato, muitas pessoas encontraram obsta¡culos em suas atividades habituais, o que as obrigou a serem criativas para realiza¡-las e, inversamente, alguns indivíduos sentiram que não eram criativos porque enfrentavam muitos problemas para serem criativos.
 
Atividades mais criativas relacionadas a s questões da situação

A segunda parte do questiona¡rio consistiu em uma lista de 30 atividades diferentes, a maioria das quais fazem parte dos padraµes internacionais utilizados na pesquisa de criatividade (Inventory Creativty Activities and Achievements). Estes inclua­am cozinhar, pintar, costurar, jardinagem, decoração e música. Os participantes foram questionados se eles haviam se engajado nessas atividades nos últimos cinco anos, se sua prática havia aumentado durante o bloqueio, por que e com que frequência e, se não, por que havia diminua­do.

"Esta seção do questiona¡rio procurou medir de forma mais objetiva asmudanças quantitativas e qualitativas no comportamento criativo, enquanto a primeira parte foi baseada em um relato subjetivo da situação", explica Emmanuelle Volle (Inserm), a última autora do estudo. "Nossos resultados mostram que esta medida de comportamento criativo estãoem consona¢ncia com a medida de mudança subjetiva relatada pelos sujeitos. Em ambos os casos, asmudanças observadas foram relacionadas ao tempo livre e sentimentos emocionais."

As cinco atividades que mais aumentaram durante o bloqueio foram programas de culina¡ria, esportes e dança, iniciativas de autoajuda e jardinagem. Em média, entre as 28 atividades investigadas, que também inclua­am ospor exemplo osdesign de interiores, costura, criação ou desvio de objetos, cerca de 40% das já praticadas nos cinco anos anteriores ao confinamento aumentaram sua prática .

Uma correlação positiva entre humor e criatividade

Os resultados deste estudo destacam um aumento geral da criatividade durante o primeiro bloqueio . Essa mudança positiva pode estar ligada a ter mais tempo livre, sentir-se mais motivado, a necessidade de resolver um problema ou a necessidade de se adaptar a uma nova situação. No entanto, quando asmudanças negativas na criatividade foram vivenciadas, elas foram relacionadas a emoções negativas, como estresse ou ansiedade, sentir-se pressionado ou falta de recursos materiais ou oportunidades.

A correlação entre humor positivo e criatividade ébastante debatida. "Ha¡ algumas evidaªncias na literatura cienta­fica de que vocêprecisa se sentir bem para ser criativo, enquanto outras evidaªncias apontam para o outro lado. Além disso, não se sabe em que direção esse processo ocorre: nos sentimos bem porque somos criativos ou ser criativo nos torna mais felizes?" conclui Alizanãe Lopez-Persem (Inserm), coautora do estudo, "Aqui, uma de nossas análises sugere que a expressão criativa permitiu aos indivíduos gerenciar melhor suas emoções negativas ligadas ao confinamento e, portanto, se sentir melhor durante esse período difa­cil".

 

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