Humanidades

DNA antigo da¡ novos insights sobre povos inda­genas 'perdidos' do Uruguai
As análises foram extraa­das de uma amostra de DNA de um homem com 800 anos e outra de uma mulher com 1.500 anos, ambas bem antes da chegada de Crista³va£o Colombo a s Amanãricas em 1492.
Por Carol Clark - 11/05/2022


Uma escultura homenageia o povo inda­gena do Uruguai na capital de Montevidanãu. Evidaªncias arqueola³gicas para assentamento humano da área remontam a 10.000 anos. Crédito: Maximasu via Wikimedia Commons

As primeiras sequaªncias completas do genoma do antigo povo do Uruguai fornecem um instanta¢neo genanãtico das populações inda­genas da regia£o antes de serem dizimadas por uma sanãrie de campanhas militares europeias. A PNAS Nexus publicou a pesquisa, liderada por antropa³logos da Emory University e da University of the Republic, Montevidanãu, Uruguai.

"Nosso trabalho mostra que os povos inda­genas do antigo Uruguai exibem uma ancestralidade que não foi detectada anteriormente na Amanãrica do Sul", diz John Lindo, coautor correspondente e professor assistente de antropologia da Emory especializado em DNA antigo. “Isso contribui para a ideia de que a Amanãrica do Sul éum lugar onde existia diversidade multirregional, em vez da ideia monola­tica de uma única raça nativa americana nas Amanãricas do Norte e do Sul”.

As análises foram extraa­das de uma amostra de DNA de um homem com 800 anos e outra de uma mulher com 1.500 anos, ambas bem antes da chegada de Crista³va£o Colombo a s Amanãricas em 1492. As amostras foram coletadas de um sa­tio arqueola³gico no leste do Uruguai pelo coautor Gonzalo Figueiro, antropa³logo biola³gico da Universidade da República.

Os resultados das análises mostraram uma conexão surpreendente com indivíduos antigos do Panama¡ osa ponte de terra que liga a Amanãrica do Norte e do Sul ose com o leste do Brasil, mas não com os amaza´nicos modernos. Esses achados apoiam a teoria proposta por alguns arqueólogos de migrações separadas para a Amanãrica do Sul, incluindo uma que levou a s populações amaza´nicas e outra que levou a s populações ao longo da costa leste.

"Na³s já fornecemos evidaªncias genanãticas de que essa teoria pode estar correta", diz Lindo. "Isso vai contra a teoria de uma única migração que se dividiu no sopédos Andes."

As evidaªncias arqueola³gicas do assentamento humano da área hoje conhecida como Uruguai, localizada na costa atla¢ntica ao sul do Brasil, remontam a mais de 10.000 anos. Os colonizadores europeus fizeram contato inicial com os povos inda­genas da regia£o no ini­cio de 1500.

Durante o século XIX, os colonizadores lançaram uma sanãrie de campanhas militares para exterminar os povos nativos , culminando no que éconhecido como o massacre do riacho Salsipuedes, em 1831, que teve como alvo um grupo anãtnico chamado Charraºa. Naquela anãpoca, escrevem os autores, o termo Charraºa estava sendo aplicado amplamente aos remanescentes de vários grupos de caçadores-coletores no territa³rio do Uruguai.
 
“Atravanãs dessas primeiras sequaªncias gena´micas inteiras dos povos inda­genas da regia£o antes da chegada dos europeus, conseguimos reconstruir pelo menos uma pequena parte de sua pré-história genanãtica”, diz Lindo.

O trabalho abre as portas para os uruguaios modernos que buscam potencialmente se ligar geneticamente a populações que existiam na regia£o antes da chegada dos colonizadores europeus. “Gostara­amos de coletar mais amostras de DNA de antigos sa­tios arqueola³gicos de todo o Uruguai, o que permitiria a s pessoas que vivem nopaís hoje explorar uma possí­vel conexão genanãtica”, diz Lindo.

O antigo laboratório de DNA Lindo éespecializado em mapear linhagens humanas pouco exploradas das Amanãricas. A maioria dos laboratórios de DNA antigos estãolocalizados na Europa, onde o clima mais frio tem espanãcimes mais bem preservados.

Menos foco foi colocado no sequenciamento de DNA antigo da Amanãrica do Sul. Uma razãoéque climas mais quentes e aºmidos em grande parte do continente tornaram mais difa­cil coletar espanãcimes de DNA antigos utiliza¡veis, embora os avanços na tecnologia de sequenciamento estejam ajudando a remover algumas dessas limitações.

"Se vocêédescendente de europeus, vocêpode ter seu DNA sequenciado e usar essa informação para identificar onde seus ancestrais são de atéaldeias especa­ficas", diz Lindo. “Se vocêdescende de povos inda­genas das Amanãricas, pode aprender que parte do seu genoma énativo americano, mas éimprova¡vel que vocêpossa trazr uma linhagem direta porque não háreferaªncias de DNA antigo suficientes dispona­veis”.

Para complicar ainda mais o quadro, acrescenta, estãoa enorme perturbação causada pela chegada dos europeus, uma vez que muitas civilizações foram destrua­das e populações inteiras foram mortas.

Ao colaborar de perto com comunidades inda­genas e arqueólogos locais, Lindo espera usar técnicas avana§adas de sequenciamento de DNA para construir um portal online gratuito com um número crescente de referaªncias de DNA antigo das Amanãricas, para ajudar as pessoas a explorar e entender melhor sua ancestralidade.

 

.
.

Leia mais a seguir