Humanidades

Ecos da história na pola­tica negra
A ideia de que os eventos tem uma maneira de ecoar tempos no passado éum dos princa­pios centrais de um novo livro que estãosendo escrito por Danielle Wiggins , professora assistente de história do Caltech.
Por Emily Velasco - 23/05/2002


Danielle Wiggins - Crédito: Caltech

A ideia de que os eventos tem uma maneira de ecoar tempos no passado éum dos princa­pios centrais de um novo livro que estãosendo escrito por Danielle Wiggins , professora assistente de história do Caltech. O livro, que estãosob contrato antecipado com a University of Pennsylvania Press, examina as abordagens políticas dos lideres negros nas décadas que se seguiram a  era dos direitos civis, em que o movimento pela igualdade enfrentou reveses e lutas, e encontra conexões entre eles e a forma como Os lideres negros abordaram a pola­tica durante outro período difa­cil para os afro-americanos - a era Jim Crow.

Wiggins, que ingressou no corpo docente da Caltech em 2019, agora recebe duas bolsas competitivas destinadas a apoiar seu trabalho no livro. Essas bolsas são do Institute for Citizens and Scholars, que apoia "membros do corpo docente comprometidos com a erradicação das disparidades raciais em áreas centrais das artes e humanidades", e do American Council of Learned Societies, que visa apoiar grandes trabalhos acadaªmicos nas áreas de humanidades e ciências sociais interpretativas.

Recentemente, conversamos com Wiggins sobre a pesquisa que ela fez para seu livro, o que ela aprendeu e o que vem a seguir.

Seu livro analisa duas abordagens políticas adotadas por lideres negros osa pola­tica de excelaªncia negra e a pola­tica redistributiva. Vocaª pode descrever essas abordagens para nós?

Eu defino a pola­tica de excelaªncia negra como elevação racial movida para o reino da pola­tica pola­tica. A elevação racial tem sido uma estratanãgia na pola­tica negra desde a emancipação, na qual as elites negras buscaram reformar e preparar pessoas na comunidade negra que eram percebidas como não preparadas para entrar na sociedade integrada dominante.

Como estratanãgia, busca avana§ar a raça, provando a capacidade e o merecimento dos afro-americanos para a cidadania plena. Claro, tem havido inaºmeras cra­ticas a isso como pola­tica baseada em classe que procurou impor as normas da supremacia branca aos negros.

Ao mesmo tempo, hámuito tempo háuma tensão mais social-democrata, a s vezes socialista, na pola­tica negra que procurou reformar as estruturas de desigualdade em vez de reformar os pra³prios negros. Essas políticas redistributivas estiveram em um ponto alto na cultura pola­tica negra das décadas de 1930 a 1960. Os ativistas negros estavam reimaginando a capacidade do poder estatal de atender a s necessidades econa´micas não apenas dos afro-americanos, mas realmente de todas as pessoas pobres.

Essa estratanãgia se expandiu em meados do século 20, quando o governo federal se tornou mais receptivo ao tratamento da desigualdade racial e econa´mica, com o New Deal e o liberalismo da Great Society buscando diminuir as divisaµes de classe. O movimento pelos direitos civis se formou neste momento em que o governo federal estava mais engajado e ativo na tentativa de proteger os direitos das pessoas marginalizadas e redistribuir recursos.

Estudiosos disseram que os lideres negros romperam com a pola­tica redistributiva nas décadas de 1970 e 1980. O que aconteceu nessas décadas?

Este éum momento em que a era de ouro do capitalismo americano da era pa³s-Segunda Guerra Mundial chegou ao fim. As pessoas estavam comea§ando a falar sobre isso na década de 1960, mas estava realmente sendo sentido quando chegamos a  década de 1970. O crescimento econa´mico estava diminuindo e a disposição e capacidade do governo federal de redistribuir recursos também estava sendo restringida, porque eles diziam que não tinham mais dinheiro. Os programas de redistribuição também estavam sendo responsabilizados por coisas como a inflação.

Nesse mesmo momento, os negros comea§avam a ocupar posições de poder pola­tico, principalmente em escala local. Eles estavam sendo eleitos para conselhos municipais e prefeituras e para legislaturas estaduais.

Assim, esses pola­ticos eleitos e lideres ca­vicos nas décadas de 1970 e 1980 estavam entrando em posições de influaªncia pola­tica e poder pola­tico neste momento de retração e imaginando: "Como nos ajustamos aos problemas que estãosurgindo - particularmente nas cidades por causa desses problemas?mudanças econa´micas - quando não temos as velhas ferramentas de governana§a que costuma¡vamos ter apenas uma ou duas décadas antes?"

Sugiro que eles se valeram dessa estratanãgia de excelaªncia negra, que, mais uma vez, como aconteceu no final do século XIX e ini­cio do século XX, buscou reformar os negros e reformar seu comportamento para que pudessem sobreviver nas condições de austeridade que definiram as décadas de 1970 e 1980. Examino como esses lideres procuraram reformar os negros de Atlanta, reconhecendo os limites da redistribuição naquela anãpoca, e como eles argumentaram que os negros precisavam fazer por si mesmos o que o governo não podia mais fazer por eles.

Vocaª diz em seu livro que essa abordagem não foi uma ruptura clara com a pola­tica redistributiva que a precedeu e que as duas estãoentrelaa§adas. Isso écorreto?

Ha¡ uma sanãrie de estudiosos que estãotentando entender o que os atores pola­ticos negros estavam fazendo na década de 1980 ao abandonar muitas das políticas redistribucionistas, social-democratas e progressistas que eles, algumas das mesmas pessoas, haviam avana§ado na década de 1960 e década de 1970. Em geral, eles argumentam que os pola­ticos estavam sendo forçados a adotar essas estratanãgias de governo neoliberais, como privatização, corporatização e parcerias paºblico-privadas que reduzem o escopo do que o setor paºblico écapaz de fazer por seus cidada£os.

Acho que outros estudiosos estãocertos de que esses lideres foram forçados a fazer essas escolhas difa­ceis diante das crescentes restrições sobre o que eles eram capazes de fazer como indivíduos paºblicos. O que eu faa§o, isso éum pouco diferente, éargumentar que eles estavam usando prática s muito tradicionais de elevação e disciplina que surgiram em condições que eram, de muitas maneiras, muito semelhantes a s condições dos anos 1980 e 1990.

A reconstrução após a Guerra Civil foi seguida por um momento de redenção da supremacia branca quando a segregação se tornou a lei da terra e os homens negros tiveram seu direito de voto retirado. Houve uma redução e um encolhimento das possibilidades que teriam sido possa­veis apenas algumas décadas antes. Acho que algo semelhante aconteceu no final do século 20 com a legislação de direitos civis dos anos 60 sendo denunciada pelo conservadorismo reaciona¡rio de pessoas como Reagan, éclaro, mas também Clinton.

Como vocêacabou de mencionar, seu livro aborda em particular os lideres negros em Atlanta. Por que Atlanta era adequada para essa ascensão de uma nova classe pola­tica negra?

Atlanta tem sido hámuito tempo a capital da liderana§a pola­tica negra, da cultura negra e, claro, do ativismo pelos direitos civis surgido do Atlanta University Center, que éo consãorcio de faculdades e universidades negras que inclui instituições como Morehouse College, Spelman College, Clark College, Universidade de Atlanta e Centro Teola³gico Interdenominacional. Esses institutos treinaram gerações de lideres negros que não apenas se tornariam prefeitos de cidades como Atlanta, mas também ocupariam cargos de liderana§a pola­tica e em cidades de todo opaís. Sa£o locais realmente importantes nos quais o compromisso com a excelaªncia foi cultivado entre os afro-americanos.

Atlanta também éconsiderada o bera§o do movimento pelos direitos civis porque foi onde Martin Luther King nasceu e foi criado. E éo lar da Conferência de Liderana§a Crista£ do Sul, que foi a organização que reuniu vários movimentos de massa em um movimento nacional.

E então o último fator importante éque Atlanta elegeu seu primeiro prefeito negro, Maynard Jackson, em 1973 e tem um prefeito negro desde então.

Então, realmente essa história estabelecida de poder pola­tico negro émuito importante para a ideia que a cidade tem de si mesma. Tem sido chamada de Meca Negra ou Meca Negra do Sul desde pelo menos a década de 1970. Historicamente, foi o lar de mais miliona¡rios negros do que qualquer outra cidade.

Essa visão imaginada de Atlanta tem muito significado cultural entre os afro-americanos e o torna um local realmente rico.

Vocaª recebeu duas bolsas para trabalhar neste livro. Vocaª pode nos contar sobre eles?

A primeira bolsa échamada de Bolsa de Aprimoramento de Carreira para Professores Juniores e épor meio de uma organização chamada Instituto para Cidada£os e Acadaªmicos. Essa bolsa épara professores que estãono terceiro ano e da¡ a eles um tempo saba¡tico para trabalhar em seus projetos. Ele évoltado especificamente para membros do corpo docente sub-representados que também estãotrabalhando para promover a diversidade, a equidade e a inclusão em seus campi. Mas a coisa legal sobre essa bolsa éque vocêestãoemparelhado com um mentor que pode fornecer orientação sobre o processo ba¡sico de publicação de seu primeiro livro, publicação de artigos em peria³dicos e desenvolvimento profissional.

Para essa bolsa, trabalharei com uma historiadora chamada Leah Wright Rigueur, da Johns Hopkins. Quando eu estava na graduação, me deparei com o trabalho dela, e isso me colocou nessa trajeta³ria de história pola­tica que faa§o, então estou muito empolgado por trabalhar com ela.

Em seguida, a segunda bolsa éo ACLS, que éo Conselho Americano de Sociedades de Aprendizagem. E isso éuma irmandade para humanistas. Acho que, nos últimos dois anos, eles direcionaram especificamente essa bolsa para membros do corpo docente não titulares e, portanto, essa éuma bolsa ampla para qualquer pessoa que trabalhe nas humanidades.

Quanta diferença essas bolsas fazem para vocaª?

Significa que posso passar mais tempo no manuscrito. Antes de descobrir que consegui essas bolsas, eu estava tentando imaginar como eu agendaria minhas aulas para que eu pudesse fazer viagens de pesquisa e também agendar minhas aulas quando eu esperava receber avaliações de volta e quando eu precisaria fazer as revisaµes. Mas agora eles liberam esse tempo inteiramente para que eu possa desacelerar um pouco e voltar aos arquivos e fazer algumas das coisas que eu queria fazer com este projeto.

Uma das coisas que eu queria fazer era lana§ar este livro no outono de 2024, durante a eleição presidencial. Nãosei quem vai concorrer, mas se nossa atual vice-presidente concorre, ela éesse tipo de pola­tica cujas origens descrevo em meu trabalho. Eu quero lana§ar o livro potencialmente em um momento em que as pessoas estariam muito interessadas nessas questões de pola­tica negra e liderana§a democrata negra em particular.

 

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