Humanidades

Estudo: Comanãrcio pode piorar desigualdade de renda
Usando o Equador como estudo de caso, os economistas mostram que o comanãrcio internacional aumenta a diferença de renda empaíses individuais.
Por Pedro Dizikes - 08/06/2022


Economistas do MIT estudando dados de renda individual no Equador descobriram que o comanãrcio internacional gera ganhos de renda cerca de 7% maiores para aqueles no percentil 90 de renda, em comparação com os de renda mediana, e até11% maiores para o percentil superior de renda.



O comanãrcio internacional exacerba a desigualdade de renda doméstica, pelo menos em algumas circunsta¢ncias, de acordo com um estudo empa­rico que dois economistas do MIT ajudaram a coautor.

A pesquisa, com foco no Equador como estudo de caso, explora dados de renda emnívelindividual enquanto examina detalhadamente as conexões entre a economia do Equador e o comanãrcio internacional. O estudo conclui que o comanãrcio gera ganhos de renda cerca de 7% maiores para aqueles no percentil 90 de renda, em comparação com os de renda mediana, e até11% maiores para o percentil de renda superior no Equador.

“O comanãrcio no Equador tende a ser algo bom para os mais ricos, em relação a  classe média”, diz Dave Donaldson, professor do Departamento de Economia do MIT e coautor de um artigo publicado detalhando as descobertas. “a‰ bastante neutro em termos da classe média em relação aos mais pobres. Os [maiores benefa­cios] encontram-se tanto entre aqueles que fundaram empresas, quanto entre aqueles que estãobem e trabalham como empregados. Portanto, éum efeito de trabalho e capital no topo.”

O estudo também identifica as dina¢micas que geram esse resultado. As exportações equatorianas, principalmente commodities e matérias-primas, tendem a ajudar a classe média ou os menos abastados, enquanto as atividades de importação dopaís geralmente ajudam os já abastados ose, em geral, a importação tem um efeito maior.

“Ha¡ uma corrida de cavalos entre o canal de exportação e o canal de importação”, diz Arnaud Costinot, também professor do Departamento de Economia do MIT e coautor do artigo. “Em última análise, o que équantitativamente mais importante nos dados, no caso do Equador, éo canal de importação.”

O artigo, “Imports, Exports, and Earnings Inequality: Measures of Exposure and Estimates of Incidaªncia”, aparece online no Quarterly Journal of Economics . Os autores são Rodrigo Adao, professor associado da Booth School of Business da Universidade de Chicago; Paul Carillo, professor de economia e relações internacionais da Universidade George Washington; Costinot, que também échefe associado do Departamento de Economia do MIT; Donaldson; e Dina Pomeranz, professora assistente de economia na Universidade de Zurique.

Mercadorias fora, ma¡quinas em

O efeito do comanãrcio internacional na distribuição de renda de uma nação édifa­cil de identificar. Afinal, os economistas não podem conceber um experimento do tamanho de umpaís e estudar a mesma nação, com e sem envolvimento comercial, para ver se surgem diferenças.

Como estratanãgia alternativa, os estudiosos desenvolveram uma reconstrução extraordinariamente detalhada da atividade econa´mica relacionada ao comanãrcio no Equador. Para o período de 2009 a 2015, eles examinaram a receita de 1,5 milha£o de empresas com identificação fiscal e a receita de 2,9 milhões de fundadores e funciona¡rios dessas empresas. Os bolsistas coletaram dados de receita, pagamentos ao trabalho e dividiram dados de renda individual de acordo com três na­veis de educação (terminando antes do ensino manãdio, graduados do ensino manãdio e graduados universita¡rios) em todas as 24 prova­ncias do Equador.

Aprofundando-se, a equipe de pesquisa compilou registros alfandega¡rios, dados de IVA (imposto sobre valor agregado) sobre compras e dados comerciais domanãsticos entre empresas, para desenvolver uma imagem ampla e detalhada do valor das importações e exportações, bem como dos nega³cios transações que ocorreram no mercado interno, mas estavam relacionadas ao comanãrcio internacional.

No geral, o petra³leo representou 54% das exportações do Equador no período de 2009 a 2011, seguido por frutas (11%), frutos do mar (10%) e flores (4%). Mas as importações do Equador são principalmente produtos manufaturados, incluindo maquina¡rio (21% das importações), produtos químicos (14%) e vea­culos (13%).

Essa composição de importações e exportações ossaa­das de commodities, entrada de produtos manufaturados osacaba sendo crucial para a relação entre comanãrcio e maior desigualdade de renda no Equador. As empresas que empregam indivíduos bem educados e mais bem pagos também tendem a ser as que mais se beneficiam do comanãrcio, porque permite que suas empresas comprem produtos manufaturados mais baratos e floresa§am, por sua vez, reforçando a demanda por trabalhadores com educação mais ampla.

“a‰ tudo sobre se o comanãrcio aumenta a demanda por seus servia§os”, diz Costinot.

“O que estãoacontecendo no Equador éque os indivíduos mais ricos tendem a ser empregados por empresas que importam muito diretamente, ou tendem a ser empregados por empresas que compram muitos bens de outras empresas equatorianas que importam muito. Ter acesso a esses insumos importados reduz seus custos e aumenta a demanda pelos servia§os de seus trabalhadores.”

Por esta raza£o, em última análise, “a desigualdade de renda émaior no Equador do que seria na ausaªncia de comanãrcio”, como afirma o jornal.

Reconsiderando ideias comerciais

Como Costinot e Donaldson observam, essa descoberta central vai contra o que algumas partes da teoria comercial estabelecida esperariam. Por exemplo, algumas teorias anteriores antecipariam que a abertura do Equador ao comanãrcio reforçaria a parcela relativamente maior de trabalhadores menos qualificados dopaís.

“Nãoéo que uma teoria padrãoteria previsto”, diz Costinot. “Uma teoria padrãoseria aquela em que [porque] o Equador tem relativamente escassez, em comparação com umpaís como os EUA, de trabalhadores qualificados, não trabalhadores não qualificados, a  medida que o Equador se volta para o comanãrcio, os trabalhadores pouco qualificados devem ser os aºnicos beneficiando relativamente mais. Encontramos o contra¡rio.”

Além disso, observa Donaldson, algumas teorias comerciais incorporam a ideia de “substituição perfeita”, que como bens sera£o comercializados entrepaíses osresultando em sala¡rios nivelados. Mas não no Equador, pelo menos.

“Esta éa ideia de que vocêpoderia ter umpaís produzindo um bem e outrospaíses produzindo um bem idaªntico, e a 'substituição perfeita' entre ospaíses criaria uma forte pressão para equalizar os sala¡rios nos doispaíses”, diz Donaldson. “Como ambos estãoproduzindo o mesmo bem da mesma maneira, não podem pagar seus trabalhadores de maneira diferente.” No entanto, ele acrescenta, enquanto “os pensadores anteriores [economistas] não achavam que era literalmente verdade, ainda éuma questãode quanto forte éessa força. Nossas descobertas sugerem que a força ébastante fraca.”

Costinot e Donaldson reconhecem que seu estudo deve levar em conta uma variedade de complexidades. Por exemplo, eles observam que cerca de metade da economia do Equador éinformal e não pode ser medida usando registros oficiais. Além disso, “choques” globais podem afetar os padraµes de comanãrcio em um determinadopaís em um determinado momento osalgo que eles testam e incorporam ao estudo atual.

E embora os padraµes de comanãrcio também possam mudar de forma mais gradual, os dados do período 2009-2015 são esta¡veis ​​o suficiente para sugerir que os pesquisadores identificaram uma tendaªncia clara e conta­nua no Equador.

“As pessoas não mudam de emprego com muita frequência e a distribuição de renda não muda muito”, diz Donaldson. “Na³s nos certificamos de verificar isso osdentro da amostra, a estabilidade émuito alta.”

Um padrãoglobal?

O estudo também levanta naturalmente a questãode saber se resultados semelhantes podem ser encontrados em outrospaíses. No artigo, os autores listam muitos outrospaíses aos quais seus manãtodos podem ser aplicados. 

“O Equador édefinitivamente muito diferente dos Estados Unidos, mas não émuito diferente de muitospaíses de renda média que exportam principalmente commodities em troca de produtos manufaturados”, diz Costinot. Donaldson, por sua vez, já estãotrabalhando em um projeto semelhante no Chile.

“Esse padrãode participação [no comanãrcio global] éimportante, e a exportação pode ser muito diferente entre ospaíses”, diz Donaldson. “Mas seria muito fa¡cil saber, se vocêapenas encontrasse os dados.”

O apoio para a pesquisa foi fornecido, em parte, pela US National Science Foundation, o Center for Economic Policy Research, o UK Department for International Development e o European Research Council.

 

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