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Desmatamento na Amazônia brasileira causou emissão de 90 milhões de toneladas métricas de CO2 em 2013–21, relata estudo
O desmatamento em Terras Indígenas (TIs) na Amazônia brasileira provocou a emissão de 96 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO 2 ) entre 2013 e 2021, modificando o papel da floresta como sumidouro de carbono nessas áreas. As emissões...
Por Luciana Constantino - 29/06/2023


Os cientistas analisaram dados de 232 Terras Indígenas. Crédito: Celso HL Silva-Júnior/UFMA

O desmatamento em Terras Indígenas (TIs) na Amazônia brasileira provocou a emissão de 96 milhões de toneladas de dióxido de carbono (CO 2 ) entre 2013 e 2021, modificando o papel da floresta como sumidouro de carbono nessas áreas. As emissões nos últimos três anos do período (2019–21) representaram 59%, refletindo a intensificação da destruição.

Os dados são de uma pesquisa liderada por brasileiros e publicada em artigo na Scientific Reports . Os autores mostram que o desmatamento em TIs somou 1.708 quilômetros quadrados (km²), ou 2,38% do total desmatado na Amazônia brasileira no período. Em uma análise de 232 TIs, eles constataram que o desmatamento anual foi de 35 km², aumentando 129% entre 2013 e 2021. O aumento foi de 195% nos últimos três anos do período.

De forma alarmante, a matéria também mostra que a distância das áreas desmatadas até os limites das TIs em questão aumentou significativamente no período, subindo 30%, passando de 6,80 km para 8,87 km em média.

"Em números absolutos, as áreas desmatadas nessas TIs podem não parecer tão grandes, mas as TIs deveriam ser ambientalmente protegidas, então o impacto é ainda maior. Além da destruição da natureza, o desmatamento traz outros problemas, como doenças e ameaças à sobrevivência de comunidades indígenas isoladas. Um caso recente envolveu os Yanomami, muitos dos quais morreram devido à invasão de garimpeiros selvagens", disse Celso HL Silva-Junior, primeiro autor do artigo, à Agência FAPESP . É professor do Programa de Pós-Graduação em Biodiversidade e Conservação da Universidade Federal do Maranhão (UFMA).

Consideradas um modelo eficiente de conservação florestal, as TIs têm sofrido crescente pressão por garimpos aluviais ilegais e operações de mineração. O aumento do desmatamento, em parte impulsionado por contratempos como a reversão da política governamental sobre os direitos das comunidades indígenas, põe em risco o papel crucial da Amazônia como um estoque de carbono. As florestas tropicais são ecossistemas-chave na mitigação dos efeitos adversos das mudanças climáticas, atuando como sumidouros de carbono, desde que não sejam afetadas. A extração extensiva de madeira, queimadas e desmatamentos, no entanto, podem converter as áreas em questão em grandes fontes de emissões de carbono. Daí a importância das TIs no fomento à conservação e no combate ao desmatamento.

“Devemos ter em mente que os TIs são fundamentais para que o Brasil consiga cumprir suas metas ambientais e mitigar os impactos das mudanças climáticas. A conservação da floresta e dos rios nessas áreas é fundamental. A lei deve ser cumprida para que continuem atuando como um campo de força para proteger a floresta em pé e as comunidades tradicionais que nela vivem", disse Guilherme Mataveli, coautor do artigo. Mataveli é pesquisador da Divisão de Observação da Terra e Geoinformática (DIOTG) do Instituto Nacional de Pesquisas Espaciais (INPE) e é bolsista de pós-doutorado da FAPESP.

Em artigo publicado no ano passado na Science , Mataveli já havia alertado que o crescente desmatamento nas TIs colocava em risco a capacidade do Brasil de cumprir suas metas. O Brasil prometeu restaurar e reflorestar 12 milhões de hectares de floresta até 2030 e atingir zero emissões líquidas de carbono até 2050, como parte de suas metas de Contribuição Nacionalmente Determinada no Acordo de Paris de 2015.

Um terceiro estudo realizado por cientistas do mesmo grupo e publicado na Remote Sensing destacou a expansão da mineração pioneira em TIs na Amazônia Legal, uma área que abrange nove estados brasileiros definida por lei federal para fins de proteção ambiental e desenvolvimento. Toda mineração nessas áreas é ilegal. No período 1985-2020, aumentou 1.217% de 7,45 km² para 102,16 km². A esmagadora maioria (95%) ocorreu nas TIs Kayapó, Munduruku e Yanomami, nos estados do Pará e Roraima.

No último estudo, o desmatamento aumentou em 42% dos TIs analisados, significativamente em 20, de Arara no Pará com taxa de 0,02 km² ao ano até Apyterewa, também no Pará, com 8,58 km² ao ano.

Por outro lado, o desmatamento diminuiu em 11% dos TIs analisados, significativamente em cinco. Entre eles, o Alto Turiaçu (MA), onde vivem cerca de 1.500 membros das comunidades Awa Guajá, Ka'apor e Tembé.

"O foco da matéria eram as ameaças aos Territórios Indígenas, mas essa diminuição foi um achado interessante. No caso do Maranhão, por exemplo, as comunidades indígenas conseguiram esse resultado positivo porque possuem iniciativas próprias para combater o desmatamento, como grupos que patrulham a área como guardiões da floresta", disse Silva-Junior.

Ele destacou que a equipe de pesquisadores é multidisciplinar, com dois antropólogos apresentando diferentes ângulos sobre o tema: Maycon Melo, do Programa de Pós-Graduação em Meio Ambiente da Universidade CEUMA (Maranhão), e Bárbara Maisonnave Arisi, da Universidade Livre de Amsterdã (VUA, Holanda).


Recomendações

O artigo termina com seis recomendações de políticas públicas para interromper o desmatamento nessas áreas:

fortalecer as autoridades de execução; revogar leis e medidas que tenham causado degradação ambiental

criando uma zona tampão de 10 km entre TIs e áreas de mineração ou projetos de alto impacto

apoiar iniciativas sustentáveis ??de uso da terra, incluindo a restauração de ecossistemas

mais investimento em monitoramento por sensoriamento remoto , incluindo novos sistemas com maior frequência e escala

cancelando todos os Cadastros Ambientais Rurais (CAR) dentro das TIs

fortalecer a FUNAI, órgão federal responsável pela garantia dos direitos das comunidades indígenas, com aumento de recursos e pessoal. Neste ano, a advogada Joenia Wapichana se tornou a primeira indígena nomeada para chefiar a FUNAI.


Mais informações: Celso HL Silva-Junior et al, Territórios indígenas da Amazônia brasileira sob pressão de desmatamento, Relatórios científicos (2023). DOI: 10.1038/s41598-023-32746-7

Informações do periódico: Scientific Reports , Science 

 

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