Segundo Eduardo Almeida, somente dois grupos de insetos podem oferecer algum perigo aos seres humanos: os que possuem ferrões venenosos e os transmissores de doença
Em geral, os insetos não são sujos ou perigosos e, frequentemente, são muito limpos – Foto: Myriams-Fotos/Pixabay
Fomos ensinados, desde criança, a temer, e com razão, alguns bichos que podem ser perigosos, como aranha e escorpiões, vespas e zangões, por exemplo. Por outro lado, insetos como baratas e borboletas bruxas nos provocam nojo ou repulsa. Mas onde se encaixam a cigarra, o gafanhoto, as abelhas e os mosquitos? Eles são realmente tão inofensivos quanto parecem à primeira vista? Para o biólogo e professor do Departamento de Biologia da USP, Eduardo A.B. Almeida, são poucos os insetos que podem causar algum dano ao ser humano, mesmo quando falamos de crianças.
O biólogo dá destaque para dois grupos de insetos que podem ser perigosos: os que possuem ferrões venenosos e os transmissores de doenças. “Insetos com ferrões podem usar esse mecanismo de defesa quando perturbados. Esses insetos injetam veneno através do ferrão, o que serve tanto para dissuadir predadores quanto para proteger suas colônias”, afirma Almeida.
Os riscos acontecem em situações de contato frequente e intenso, principalmente com insetos que vivem em colônias, como formigas, vespas e abelhas. “Você precisaria de muitas abelhas, ou muitas formigas, para que a picada seja perigosa ao ser humano. A exceção pode ser um indivíduo que tem alguma alergia a esses insetos”, explica.
De acordo com o professor, outros insetos que causam danos à nossa saúde são os que transmitem doenças. Basicamente, são insetos hematófagos, que sugam sangue. Esses insetos causam doenças porque, ao se alimentarem do sangue de um hospedeiro, podem transmitir patógenos como vírus, bactérias ou parasitas de um organismo para outro. Um exemplo comum é o mosquito Aedes aegypti, que é conhecido por transmitir as doenças dengue, zika e chikungunya.
“Algumas baratas também podem apresentar riscos à saúde humana, já que elas carregam vetores de patógenos e alérgenos, que contaminam alimentos e superfícies com bactérias e outros microrganismos, podendo causar doenças, diarreia e reações alérgicas”, afirma o especialista.
A febre tifoide é desencadeada pela bactéria Salmonella typhi, que é transportada pela barata depois de ela transitar por fezes contaminadas, por exemplo, assim como a hepatite A e a tuberculose.
Certas espécies de besouros também produzem substâncias químicas defensivas que podem causar dermatites de contato, irritação ocular e, em casos mais graves, danos ao trato gastrointestinal se ingeridos. O especialista dá um exemplo: “A doença ou mal de Chagas é transmitida para o homem por meio da picada do besouro, vetor da doença, conhecido popularmente como barbeiro”. Ao picar o homem ou outros animais, o besouro defeca e as fezes entram em contato com a parte lesionada da pele e alcança a corrente sanguínea, quando ocorre a transmissão da doença. O causador da doença de Chagas é o Trypanosoma cruzi, um parasita que vive no organismo do besouro infectado e ocasionalmente é transmitido para o homem.
Já as cigarras podem transmitir patógenos durante o processo de sucção, método como certos insetos se alimentam ao perfurar e extrair líquidos de plantas ou outros organismos. Esses patógenos são transmitidos quando a cigarra se alimenta da seiva das plantas, podendo infectar cultivos agrícolas e causar riscos indiretos à saúde humana através do consumo de alimentos contaminados.
Medo é fruto da cultura
Mas todos esses casos são raros de acontecer. Almeida aponta que o medo e o nojo em relação aos insetos derivam de uma cultura que historicamente os vê com temor. Ele afirma que, em geral, os insetos não são sujos ou perigosos e, frequentemente, são muito limpos. “Outras culturas, que praticam a entomofagia, ou seja, o consumo de insetos como fonte de proteína, têm uma relação bem positiva com esses animais”, o especialista detalha.
Para o biólogo, a melhor maneira de conscientizar a população é promover um convívio harmonioso entre humanos e insetos. “O planeta Terra é um planeta dos insetos, e nós somos uma minoria.” Para Almeida, se conhecermos melhor esses grupos de organismos, e soubermos quais são os capazes de ferroar ou picar e quais podem transmitir doenças, a educação pública pode se direcionar a uma maior familiaridade com o ambiente que nos rodeia, em vez de desenvolver um temor pelas criaturas que fazem parte deste mundo.
Ele também sugere uma educação ambiental nas escolas, que inclua informações detalhadas sobre os diferentes tipos de insetos e suas funções ecológicas. “Ao aprender sobre os insetos e suas contribuições para o ecossistema, como polinização e decomposição, podemos desenvolver uma apreciação maior por esses organismos, entender que muitas vezes dependemos deles, e reduzir certos estigmas e preconceitos.”