As teorias e fa³rmulas derivadas da física acabam sendo ferramentas aºteis para entender o funcionamento das eleia§aµes democra¡ticas, incluindo como esses sistemas quebram e como podem ser melhorados.

Uma análise da física das eleições nos EUA constata que o eleitorado se tornou mais polarizado ao longo do tempo, levando a uma situação insta¡vel na qual pequenasmudanças de opinia£o podem levar a grandes variações nos resultados eleitorais. Crédito: Christine Daniloff, MIT
Pode parecer surpreendente, mas as teorias e fa³rmulas derivadas da física acabam sendo ferramentas aºteis para entender o funcionamento das eleições democra¡ticas, incluindo como esses sistemas quebram e como podem ser melhorados.
Um novo estudo de física constata que, nos EUA, as eleições passaram por uma transição em 1970, de uma condição em que os resultados das eleições capturavam razoavelmente bem as maiores preferaªncias políticas do eleitorado, a um período de crescente instabilidade, em quemudanças muito pequenas nos eleitores as preferaªncias levaram amudanças significativas em direção a resultados polaticos mais extremos nas duas direções.
A análise também mostra que essa instabilidade pode ser associada a uma situação inesperada na qual os resultados oscilam na direção oposta de como as verdadeiras preferaªncias das pessoas estãomudando. Ou seja, um pequeno movimento nas opiniaµes predominantes para a esquerda pode resultar em um resultado mais a direita e vice-versa - uma situação que os pesquisadores chamam de "representação negativa".
As descobertas aparecem na revista Nature Physics , em um artigo de Alexander Siegenfeld, estudante de doutorado em física no MIT, e Yaneer Bar-Yam, presidente do Instituto de Sistemas Complexos da Nova Inglaterra.
"Nossopaís parece mais dividido do que nunca, com os resultados das eleições parecendo um paªndulo balana§ando com força cada vez maior", diz Siegenfeld. Nesse regime de eleições "insta¡veis", diz ele, "uma pequena mudança na opinia£o do eleitorado pode mudar drasticamente o resultado das eleições, assim como a direção de um pequeno empurra£o para uma pedra no topo de uma colina pode mudar drasticamente sua localização final. "
Isso éem parte resultado de um eleitorado cada vez mais polarizado, ele explica. Os pesquisadores se basearam em uma análise anterior que passou pelas plataformas do partido republicano e democrata em todos os anos das eleições presidenciais desde 1944 e contou o número de palavras polarizadoras usando uma combinação de aprendizado de ma¡quina e análise humana. Os números mostram uma situação relativamente esta¡vel antes de 1970, mas um aumento drama¡tico na polarização desde então.
A equipe então descobriu que o modelo de Ising, desenvolvido para explicar o comportamento dos ferromagnetos e outros sistemas fasicos, ématematicamente equivalente a certos modelos de eleições e descreve com precisão o inicio da instabilidade nos sistemas eleitorais.
"O que aconteceu em 1970 éuma transição de fase como a fervura da a¡gua. As eleições passaram de esta¡veis ​​para insta¡veis", explicou Bar-Yam.
A crescente instabilidade também resulta em parte da estrutura dos sistemas prima¡rios dos partidos, que aumentaram muito seu papel na seleção de candidatos desde os anos 70. Como os eleitores das prima¡rias tendem a ter visaµes partida¡rias mais extremas do que as do eleitorado geral, os polaticos estãomais inclinados a tomar posições para atrair esses eleitores - posições que podem ser mais extremas do que as favorecidas pelos eleitores mais mainstream e, portanto, menos prova¡veis vencer nas eleições gerais.
Essa mudança de longo prazo de uma situação eleitoral esta¡vel para insta¡vel se assemelha ao que acontece com um metal ferromagnético exposto a um campo magnanãtico, diz Siegenfeld, e pode ser descrita pelas mesmas fa³rmulas matemáticas. Mas por que as fa³rmulas derivadas para esse assunto não relacionado devem ser relevantes para esse campo?
Analisando as plataformas dos partidos republicano e democrata desde 1944, os pesquisadores descobriram um aumento drama¡tico nas palavras polarizadoras e divisivas usadas nessas plataformas, comea§ando em 1970 e aumentando desde então, como mostrado neste gra¡fico. Isso levou a uma maior instabilidade nos resultados das eleições.Â
Siegenfeld diz que éporque na física nem sempre énecessa¡rio conhecer os detalhes dos objetos ou mecanismos subjacentes para poder produzir resultados aºteis e significativos. Ele compara isso com a maneira como os fasicos foram capazes de descrever o comportamento das ondas sonoras - que são essencialmente os movimentos agregados dos a¡tomos - com grande precisão, muito antes de saberem da existaªncia dos a¡tomos.
"Quando aplicamos a física para entender aspartículas fundamentais do nosso universo, na verdade não conhecemos os detalhes subjacentes das teorias", diz ele. "No entanto, ainda podemos fazer previsaµes incrivelmente precisas".
Da mesma forma, ele diz, os pesquisadores não precisam entender os motivos e opiniaµes de cada eleitor para poder realizar uma análise significativa de seu comportamento coletivo. Como afirma o artigo, "a compreensão do comportamento coletivo dos sistemas sociais pode se beneficiar de manãtodos e conceitos da física, não porque os seres humanos sejam semelhantes aos elanãtrons, mas porque certos comportamentos em grande escala podem ser entendidos sem a compreensão dos detalhes em pequena escala. "
Outra descoberta importante do estudo éo fena´meno da "representação negativa". a‰ quando uma mudança geral para a esquerda nas opiniaµes dos eleitores resulta em uma mudança para a direita no resultado da eleição, ou vice-versa.
Isso pode acontecer, por exemplo, se os eleitores enfrentarem uma escolha entre um candidato de centro-esquerda e um candidato de extrema-direita. Se os sentimentos gerais do eleitorado se moverem para a esquerda, isso pode resultar em mais eleitores de extrema esquerda que decidem ficar em casa no dia das eleições porque as opiniaµes do candidato centrista estãomuito distantes das suas. Como resultado, o candidato de extrema direita acaba vencendo. Ou, se um giro para a direita no eleitorado leva a nomeação de um candidato de extrema-direita, isso pode aumentar as chances de um candidato mais liberal vencer a eleição geral. "Essa representação negativa mina todo o objetivo das eleições democra¡ticas", diz Siegenfeld.
O estudo constata que em sistemas eleitorais insta¡veis, hásempre uma representação negativa. Mas várias medidas que poderiam ajudar a combater a tendaªncia a instabilidade e, assim, também reduzir a incidaªncia de representação negativa, dizem os autores.
Uma dessas soluções para reduzir a instabilidade eleitoral seria uma mudança para sistemas de votação por classificação, como os usados ​​na Austra¡lia, Maine e nas cidades de San Francisco e Cambridge, Massachusetts. Tais sistemas reduzem a necessidade de selecionar candidatos "menos de dois males" e permitem que as pessoas votem em sua real preferaªncia sem as interrupções causadas por candidatos de terceiros, dizem eles.
Outra abordagem seria aumentar a participação dos eleitores, seja atravanãs de incentivos, publicidade ou legislação (como a votação obrigata³ria na Austra¡lia). Quanto menor a porcentagem de comparecimento aos eleitores, maior o potencial de instabilidade, descobriram os pesquisadores.
"A maioria das pessoas diz 'va¡ votar' para que sua voz seja ouvida", diz Siegenfeld. "O menos apreciado éque, quando os candidatos podem contar com o voto das pessoas, émais prova¡vel que as eleições futuras se tornem mais esta¡veis. Nossa pesquisa demonstra cientificamente que a alta participação dos eleitores ajuda a democracia, uma vez que a baixa participação desestabiliza as eleições e resulta em representação negativa. "
"Adoro essa pesquisa", diz Soren Jordan, professor assistente de ciência polatica da Universidade de Auburn, no Alabama, que não participou do trabalho e escreveu um artigo na Nature sobre o assunto. "A transição éemocionante, e ver os fasicos fazendo exercacios matema¡ticos pesados ​​que estãorealmente fora do escopo tradicional e o treinamento da ciência polatica realmente aprimora as duas disciplinas".
"Este modelo éuma excelente heurastica para a compreensão de alguns fena´menos craticos, como a forma como conceitos lentos como partidarismo ainda podem produzir efeitos de larga escala em resultados agregados".