Diversidade da fauna e flora é essencial para uma alimentação sustentável e produção agrícola viável
Para Isabel Garcia Drigo, as conferências da ONU do clima e da biodiversidade deveriam se unir, pois os temas centrais dos debates estão interligados
O modelo tradicional está em xeque porque se apoia na ideia de que a simplificação das paisagens agropecuárias é o melhor caminho para a elevação nas quantidades produzidas – Foto: Sergio Amaral/MDS – Governo Federal
Com eventos extremos, como secas prolongadas e chuvas intensas, as mudanças climáticas se tornaram um tema central nas discussões ambientais. Segundo Isabel Garcia Drigo, diretora do Programa de Clima, Uso da Terra e Políticas Públicas do Imaflora (Instituto de Manejo e Certificação Florestal e Agrícola) e parceira da Cátedra Josué de Castro na iniciativa Think Food and Climate, a preservação da biodiversidade é fundamental para a manutenção da vida no planeta, mas frequentemente é um tema ofuscado pelo foco exclusivamente no aquecimento global.
Conforme a pesquisadora, durante a 16ª Conferência das Nações Unidas sobre Biodiversidade, conhecida como COP Bio, realizada entre 21 de outubro e 1º de novembro de 2024, na Colômbia, o aspecto de relevância desse tema foi ressaltado. Ela explica que existe uma relação vital entre biodiversidade e alimentação saudável. “A diversidade de espécies da flora e da fauna no ambiente agropecuário é fundamental para uma produção viável”, afirma.
Biodiversidade
De acordo com a especialista, a presença de árvores nos pastos é extremamente relevante, pois, além de fornecer sombra alivia o estresse térmico dos animais dessas áreas. Em locais de proteção ambiental as árvores conservam a água e servem de lar para diversas espécies, como os insetos, por exemplo. Ela destaca que, quando os habitats dos insetos não são preservados, os insetos migram para as lavouras e tornam-se pragas.
Sobre os desafios na proteção da biodiversidade, Isabel menciona que a diversidade não é vista como aliada do desenvolvimento. Para ela, historicamente, a humanidade tem retirado o território dos animais e plantas para a criação de sistemas de cultivo homogêneos. Conforme Isabel, a crise climática vem ensinando de maneira severa a importância da biodiversidade para o equilíbrio dos sistemas naturais.
Biota do solo
Segundo a diretora do Imaflora, pesquisadores estão alertando para a alarmante perda da biota do solo, composta de diversos seres vivos, como insetos, vermes, fungos e bactérias, essenciais para a fertilidade do solo. Esses organismos desempenham funções cruciais, como oxigenar o solo, decompor matéria orgânica e manter a umidade necessária para a agricultura e pecuária.
Apesar de sua importância, o valor desses seres vivos não é adequadamente reconhecido pelas pessoas. Conforme Isabel, esses animais criam as condições para que a produção agrícola e pecuária aconteça naturalmente, mas o valor disso não é levado em conta, pois acredita-se que a tecnologia pode substituir esse papel nos ecossistemas naturais. No entanto, a pesquisadora afirma que essa linha de pensamento pode comprometer a produção agrícola sustentável no futuro.
“O progresso das conferências é incremental, ele é pautado por acordos, escritos e grandes compromissos firmados e, na minha visão, a conferência do clima e da biodiversidade deveria ser unida em uma só. Mitigar os efeitos das mudanças climáticas passa por proteger as florestas e as espécies de animais também e, por outro lado, adaptar os ecossistemas e os territórios para alcançar maior resiliência também passa por favorecer sistemas mais diversos”, diz.