Uma solução concentrada de açúcar pode ser tão eficaz quanto antibióticos no tratamento de uma infecção comum em vacas leiteiras, de acordo com um novo estudo liderado por pesquisadores da Penn State. Os resultados foram publicados recentemente no periódico Frontiers in Veterinary Science .

A descoberta tem o potencial de reduzir a dependência de antibióticos e, em última análise, ajudar a combater a crescente ameaça de resistência antimicrobiana em humanos e animais, disse Adrian Barragan, professor associado de pesquisa e veterinário de extensão na Penn State e coautor principal do artigo.

As descobertas são particularmente significativas para a indústria de laticínios orgânicos, onde o uso de antibióticos é restrito, ele acrescentou, e também podem abrir caminho para estudos futuros em humanos sobre o uso de formulações à base de açúcar para infecções uterinas, como endometrite.

"A doença é uma infecção do útero que ocorre após o parto e é uma das principais doenças que afetam o gado leiteiro nos Estados Unidos", disse Erika Ganda, professora assistente de microbiomas de animais de produção na Penn State e coautora principal do estudo. "Tratamos vacas com antibióticos somente quando necessário para garantir seu bem-estar, seguindo períodos de carência rigorosos para evitar resíduos no leite. Minimizar o uso de antibióticos ajuda a reduzir o risco de bactérias resistentes que podem impactar trabalhadores rurais, famílias e comunidades.

O estudo comparou dois tratamentos para uma infecção uterina comum, chamada metrite clínica, que pode levar a sérios problemas de saúde para vacas leiteiras. A condição é tipicamente tratada usando antibióticos sistêmicos, como ceftiofur, que são eficazes no tratamento da condição, mas podem contribuir para a crescente resistência antimicrobiana em animais produtores de alimentos.

"Temos buscado terapias alternativas que possam tratar metrite efetivamente sem depender de antibióticos", disse Barragan. "Fizemos duas perguntas principais ao estudar uma alternativa: os animais são curados com esse tratamento? E os animais tratados têm desempenho semelhante? Embora o tratamento alternativo tenha a mesma taxa de cura clínica que os antibióticos, a resposta não foi tão clara quanto o esperado, já que o desempenho entre os grupos de tratamento diferiu com base na gravidade da doença."

O estudo focou no uso de dextrose intrauterina, uma solução de açúcar, como um possível tratamento alternativo. A dextrose tem sido extensivamente estudada em pesquisas clínicas com animais e humanos por sua capacidade de plasmolisar bactérias nocivas. Essencialmente, a solução forte de açúcar puxa a água para fora das bactérias, fazendo com que elas sequem e morram, explicou Barragan. A abordagem mostrou alguma promessa na cicatrização de feridas humanas, mas estudos anteriores em gado produziram resultados mistos.

"Estávamos esperançosos de que encontraríamos resultados positivos, mas definitivamente não esperávamos descobrir que ambos os tratamentos funcionavam de forma semelhante para casos leves de metrite", disse Barragan. "Essa foi uma descoberta muito emocionante."

Para investigar a eficácia da dextrose, os pesquisadores conduziram um estudo em uma fazenda leiteira na Pensilvânia central. Eles inscreveram 77 vacas diagnosticadas com metrite clínica e as designaram aleatoriamente para um dos dois grupos de tratamento: dextrose intrauterina ou ceftiofur sistêmico. Os pesquisadores então monitoraram a recuperação das vacas e analisaram suas comunidades microbianas uterinas usando sequenciamento avançado de DNA para entender melhor a saúde geral de seus microbiomas.

Embora o tamanho da amostra não fosse ideal para avaliar a taxa de cura clínica, Barragan disse que os resultados sugeriram que ambos os tratamentos tiveram taxas de cura clínica semelhantes, o que significa que a dextrose pode ser tão eficaz quanto os antibióticos no tratamento de casos leves de metrite.

Além disso, a análise dos microbiomas das vacas revelou que a dextrose não perturba significativamente o equilíbrio bacteriano das bactérias no trato reprodutivo , ao contrário dos antibióticos, que podem alterar as comunidades microbianas e potencialmente impactar a saúde da vaca a longo prazo, explicou Ganda.

Mais pesquisas são necessárias para entender todo o potencial da dextrose como uma alternativa ao tratamento com antibióticos , disse Barragan, mas um dia esse potencial poderá se estender até mesmo ao tratamento de humanos.

"Nossas descobertas podem ser aplicáveis a doenças reprodutivas na medicina humana", ele disse. "Na verdade, fomos inspirados pela literatura médica e tratamentos de feridas à base de açúcar para pessoas."