Unicef alerta para o futuro das crianças em um mundo que passa por crises e transformações
Para Carlota Boto, os líderes mundiais devem colocar fim às guerras e conflitos, porque decisões tomadas hoje devem impactar o futuro que as crianças herdarão

Crianças e adolescentes com o transtorno têm um risco significativamente maior de desenvolver depressão – Foto: Freepik
O Fundo das Nações Unidas para a Infância (Unicef) divulgou relatório alertando para o futuro das crianças no mundo em função das crises climáticas extremas, guerras e tecnologias inovadoras, entre outras preocupações. A infância está em risco, a menos que medidas urgentes sejam tomadas para proteger o futuro das crianças em todo o mundo, diz a entidade sobre o “futuro da infância até 2050”.
A diretora da Faculdade de Educação da USP e professora de Filosofia da Educação, Carlota Boto, pedagoga e historiadora, explica que a área da saúde é desafiadora em função do grande número de doenças novas e a volta de outras já erradicadas, além da falta de vacinação em várias nações. As disparidades regionais no mundo também causam um impacto muito grande na infância em locais onde há superpopulação, por exemplo, e, em outros, a miséria. Das 181 milhões de crianças que vivem em pobreza alimentar grave, 65% residem em apenas 20 países. Cerca de 64 milhões de crianças afetadas estão no sul da Ásia e 59 milhões na África Subsaariana.
Reflexos da pandemia
A pandemia também trouxe impactos na infância, os quais devem se refletir nos próximos anos até a vida adulta. “Nós precisamos, antes de tudo, verificar o impacto que a pandemia teve na cabeça das crianças. Neste momento, acredito que temos de saber o que elas deixaram de aprender nesse período. Isso é uma coisa, mas temos, mais do que isso, de verificar o que se passou nas cabecinhas dessas crianças no período em que todos nós tínhamos medo de morrer. É preciso conversar com a infância, é preciso estudar essa infância e é necessário que todos e todas, adultos, nos responsabilizemos pelo crescimento dessas crianças com saúde, com dignidade e com felicidade e, para isso, precisamos trabalhar aquilo que foi o impacto da pandemia sobre a atividade dessas crianças” , analisa Carlota.
A especialista da USP alerta que os líderes mundiais devem colocar fim às guerras e conflitos mundiais, porque decisões tomadas hoje devem impactar o futuro que as crianças herdarão. “O mundo hoje vive um conjunto muito complexo de conflitos, de guerras, que tornam ainda mais vulnerável a questão da infância, que é sempre a primeira vítima de qualquer conflito armado. É preciso proteger as crianças”, avalia.
A crise climática mundial, segundo o relatório da Unicef, deve expor oito vezes mais crianças a ondas de calor e inundações extremas. Por outro lado, o mundo enfrenta outras forças globais, além do clima. Já viveu a gripe espanhola, duas guerras mundiais, além da peste negra. O ponto negativo do relatório são os direitos da crianças cada vez menos respeitados. As novas tecnologias e a cultura digital ainda são novidades para a maioria dos jovens, principalmente daqueles que não têm acesso nem mesmo à internet.